Diversão e Arte

Escritor Ricardo Lísias lança livro virtual que debate ficção e realidade

A obra faz uso de recursos interativos, como notícias e postagens nas redes sociais

postado em 08/10/2014 10:00
O autor polêmica: Ricardo Lísias questiona os limites da literatura

Reportagem publicada em 08 de outubro afirmou que o escritor Ricardo Lísias assegura que o escritor Ricardo Lísias não matou o escritor Ricardo Lísias. Nova apuração, no entanto, revela que, de acordo com o delegado Paulo Tobias (responsável pelo caso), a polícia tem fortes indícios de que o autor de Divórcio é mentor desse e de outros crimes, ao menos no âmbito literário. "Temos provas de que a morte de pelo menos um dos Ricardos Lísias foram causadas por ele próprio, não se trata de ficção. Eu existo", afirmou o investigador. Procurado pela reportagem, Lísias argumentou que só há um Ricardo Lísias e que Paulo Tobias foi uma invenção sua.

Achou confuso? Não se assuste, é mesmo. Esse é o estilo de escrita de Ricardo Lísias na coleção digital Delegado Tobias, que ganha novo (e penúltimo) volume nesta quarta-feira (8/10). Mesmo antes da divulgação do primeiro e-book do folhetim, a série já era destaque na lista dos best-sellers das lojas virtuais.

Usando recursos interativos, . Em uma narrativa fragmentada, os livros contam a história e os desdobramentos do assassinato do escritor (e personagem) Ricardo Lísias, segundo a polícia, pelo próprio Ricardo Lísias.

Depois das discussões sobre o que seria ficcional ou não em seus escritos, Lísias resolveu produzir uma obra em que questiona, além de outros aspectos, a ênfase dada às possíveis circunstâncias biográficos de um texto. ;Entendi como se cria uma verdade através de um boato, como as pessoas enxergam não um fato, mas o que querem enxergar, como fazer para uma notícia ser criada e espalhada com muita velocidade;, conta Lísias, que incorporou os boatos à sua produção literária.

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Os questionamentos de Lísias não se limitam às páginas dos e-books. Redes sociais também foram palco para a narrativa interativa criada pelo escritor e pela e-Galáxia. Na própria página do autor, ele trava discussões com um perfil criado para o personagem Paulo Tobias que se indigna com o uso da sua imagem no texto. Falsas manchetes de jornal também são postadas para instigar leitores e até uma possível proibição do livro pela justiça foi aventada pelo escritor e pela editora.

[SAIBAMAIS];É algo novo que ainda estou observando, mas tem funcionado bem: as pessoas resolveram participar e muitas sequer se aborreceram com a ;experiência; da proibição fingida. Outros, porém, ficaram bastante ofendidos por terem se enganado;, esclarece Lísias sobre as possibilidades da nova mídia e a reação dos leitores.

Leia a entrevista com Ricardo Lísias:

Como você vê o espaço da internet e da interatividade como ferramenta literária, como suporte para a inventividade formal?
Eu desconfiava de que havia ali um campo fértil para a experimentação, mas ainda não tinha compreendido como fazer isso. Como a internet é sobretudo um fenômeno de linguagem verbal e visual, a arte tem tudo para acontecer nesse espaço também. Enfim, a arte sobretudo é um fenômeno de linguagem. Então fiz uma série de análises até chegar à forma do e-folhetim Delegado Tobias. É algo novo que ainda estou observando, mas tem funcionado bem: as pessoas resolveram participar e muitas sequer se aborreceram com a ;experiência; da proibição fingida. Outros, porém, ficaram bastante ofendidos por terem se enganado...

Como foi o processo de trazer os boatos para as obras e jogar com inverdades que diziam a seu respeito?

Eu aprendi com o que ocorreu (e ocorre) com o meu romance Divórcio. Entendi como se cria uma verdade através de um boato, como as pessoas enxergam não um fato, mas o que querem enxergar, como fazer para uma notícia ser criada e espalhada com muita velocidade. Então, incorporei no processo de criação do Delegado Tobias tudo o que aprendi. Há gente encontrando o Delegado Tobias na rua até agora, assim como se diz absurdos sobre o meu romance Divórcio até agora também...

Está claro que o e-book é coerente com seu projeto literário de questionar as formas de leitura. Depois de ir tão longe nesse objetivo, o que se pode esperar de Ricardo Lísias, o autor?

Gostei tanto do experimento que com certeza vou fazer outros. No entanto, quero ainda fazer novos estudos. Por exemplo: nem tudo que se lê em um e-reader (tipo Kindle, Kobo ou iPad) pode ser lido em um leitor de celular. Vou me atualizar ainda mais com as possibilidades do suporte. Mas com certeza continuarei também no velho e bom livro impresso.

Delegado Tobias também traz uma discussão sobre ficção e realidade? Tem uma dimensão política?

Sem dúvida, é exatamente isso. Fiz diversas pesquisas sobre a proibição da peça (Edifício London, censurado por remeter ao caso Nardoni). Infelizmente, não se pode ainda ter acesso ao processo. Mas me cerquei de informações e aproveitei para contestar a ideia do ;leitor médio;. O livro trabalha também nesse campo e fico feliz que isso esteja sendo reconhecido.

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