Diversão e Arte

Histórias de Ricardo Pipo - Humorista desde sempre

Integrante do grupo Os Melhores do Mundo lembra o início da parceria com Welder Rodrigues

postado em 11/11/2014 08:27

Desde a adolescência, Ricardo Pipo e Welder Rodrigues aprontam juntos. Como o próprio Pipo diz, eles chegaram a ;brincar de playmobil;, ali pelos blocos da Asa Norte. Apesar da amizade, jamais poderiam prever que a relação se manteria por tantos anos, nem que acabariam se tornando uma das duplas mais queridas do teatro brasiliense, principalmente por conta dos espetáculos de sucesso da Cia. Os Melhores do Mundo, que os dois ajudaram a fundar, em 1995.

;Estudávamos juntos e tínhamos que escolher entre ensino religioso e artístico. Advinha para que sala fomos?;, brinca Ricardo Pipo. O lado cênico sempre os perseguiu, mesmo nas atividades que ainda não tinham, necessariamente, uma relação com os palcos. ;Resolvemos montar um grêmio estudantil e inventamos de chamá-lo de Geraldo Vandré;. O motivo? ;Tínhamos certeza que ele havia morrido. Era uma forma de homenageá-lo;, recorda Pipo, às gargalhadas.



Se não fosse o bastante, eles ainda percorriam as salas de aulas para defender a implementação do grêmio e a escolha do homenageado ;morto;. Tudo com ares teatrais. ;A gente berrava pelos corredores que Geraldo Vandré não teria morrido em vão! Que iríamos honrar sua história. Imagina nossa cara quando descobrimos que o cara estava vivo?;. O percalço ganhou tom cômico e o grêmio foi instituído.

[SAIBAMAIS]Pouco tempo depois, talvez ainda por conta das atividades ;militantes;, os dois acabaram expulsos do Colégio da Asa Norte (CAN). ;Colávamos cartazes por toda a escola. Acabamos nos envolvendo naquela história da eleição direta para diretor. Se hoje vivemos repressão, imagina nos anos 1980, com ditadura ainda rolando?;. Foi então que o teatro resolveu sequestrá-los, definitivamente.

Os altos e baixos

Pipo vive às custas do teatro. Um desafio que esbarra em momentos de abundância, mas também de escassez. Em 25 anos de carreira, foram vários os momentos de adversidades, assim como de conquistas. Curiosamente, foi o Rio de Janeiro, e não Brasília, o melhor palco para traduzir as dicotomias de uma vida voltada para o público.

Animados com os resultados obtidos logo nos primeiros anos de grupo, Pipo e a Cia. Melhores do Mundo acreditaram que era a hora de passar um tempo na Cidade Maravilhosa. Ali, por volta de 1997. A decisão se revelou pouco frutífera, para não dizer trágica. As desventuras em série começam com a escolha do local: ;Resolvemos tentar uma temporada no Teatro Ipanema, movidos pela nostalgia do lugar. Cássia Eller tinha tocado ali e tal. Foi o primeiro erro;, recorda Pipo, que hoje prefere rir da situação.

O horário da peça também não ajudou. ;Marcamos para as 19h, em pleno horário de verão. Ou seja, o pessoal estava na praia ainda. Nós estávamos na praia!”. A divulgação foi fraca e o material produzido não rendeu o esperado. O resultado, o próprio Pipo recorda: ;Várias sessões canceladas, sem uma única pessoa. Foi um período bem complicado. A grana ficou curta mesmo;.

A cidade precisa mudar

Ricardo Pipo viu de perto os grandes movimentos e espaços culturais dos anos 1980 e 1990. Jogo de Cena, O último rango, Galpão, Galpãozinho, Escola Parque; Participou de alguns deles, inclusive. Apesar das duas décadas de carreira e das boas lembranças, o comediante costuma focar no presente. E há muita coisa a ser feita.

No que diz respeito à Cia. Melhores do Mundo, o ator acredita que o melhor caminho seja investir no áudiovisual. ;O cinema deve ser nosso próximo passo. Temos apenas três registros de espetáculos. É pouco.; O teatro permanece entre os interesses do grupo, claro, mas talvez não mais como prioridade. ;No teatro, chegamos ao teto. Não há muito mais o que aprontar. Queremos buscar novas linguagens, outros caminhos;, revelou.

Quanto ao cenário brasiliense, as críticas são muitas. Segundo Pipo, as coisas não andam bem para quem vive de arte por aqui. A começar pelos espaços cultuais. ;Teatro Nacional fechado. Reforma nem deu sinal ainda. Espaço Renato Russo fechado. Não há lugar para apresentação. Parte do que resta está abandonada;, lamenta.

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