Diversão e Arte

Ancine limita exibição de blockbusters em salas de cinemas brasileiros

Para cineastas de Brasília, medida é apenas um primeiro passo de muitos outros necessários.

postado em 19/12/2014 18:20
Para cineastas de Brasília, medida é apenas um primeiro passo de muitos outros necessários.

A Agência Nacional do Cinema (Ancine) assinou nessa quinta-feira (18/12) um acordo com exibidores e distribuidores para limitar o número de salas que um megalançamento pode ocupar em complexos de cinema no Brasil a partir de 1; de janeiro de 2015.

A medida é válida por um ano para cinemas com três salas ou mais e visa proteger o cinema brasileiro, além de ampliar a quantidade de diferentes longas-metragens em exibição ao mesmo tempo. Por exemplo, um complexo que tiver até seis salas, poderá ocupar somente duas com o mesmo título. Os que tiverem entre sete e 11, três salas. Com 12 a 14 salas, um longa poderá ser exibido em até quatro. Já os que tiverem de 15 a 18 salas, poderão passar um único filme em cinco delas.

A dominação de filmes de grandes estúdios, principalmente de Hollywood, é uma reclamação feita por muitos cineastas e pessoas ligadas ao cinema brasileiro. Isso porque os exibidores e distribuidores se concentram nos filmes comerciais de massa que têm mais garantia de público e retorno financeiro. Para se ter ideia, o blockbuster Jogos Vorazes: a esperança - parte 1 ocupou 1.339 mil salas em todo o país, quase a metade do total existente.

Países como a Argentina e a França, que contam com uma forte indústria cinematográfica, já têm acordos parecidos para garantir uma maior diversidade nas telonas. Os pequenos lançamentos no Brasil costumam ter somente 10 cópias e atingir até 5 mil espectadores enquanto em cartaz. O custo para tanto é alto: em torno de R$ 200 mil.

Segundo a Ancine, o tratado foi assinado por 23 empresas exibidoras e seis distribuidoras brasileiras. As exibidoras signatárias representam mais de 2,1 mil salas no país.

Em nota, o diretor da Ancine, Manoel Rangel, declarou que ;o acordo é resultado de um processo regulatório moderno e democrático, porque parte da premissa de que compete ao estado cumprir a função de acompanhamento do mercado audiovisual, compartilhando falhas encontradas e convocando os agentes do setor e a sociedade para dialogar e construir soluções para corrigí-las".

Somente o primeiro passo
Mesmo assim, a iniciativa não parece ser o suficiente na opinião de cineastas de Brasília. Para o diretor e professor de cinema da Universidade de Brasília, Mauro Giuntini, é importante e significativo que algo tenha sido feito, mas esperava uma ação mais incisiva. "Tem um lado positivo, pois pode dar uma maior entrada de programação, mas eu esperava uma ação mais incisiva. Os filmes independentes têm muita dificuldade ainda. Para fazer sucesso, têm de ter muitas cópias em muitas salas num curto espaço de tempo", afirma.

A fim de contornar o problema, Giuntini sugere um imposto em cima do número de cópias exibidas. "Tínhamos de ter uma taxação proporcional ao número de cópias, porque, do jeito que é hoje, o pequeno lançamento já está fadado ao fracasso".

Para o cineasta Renato Barbieri, o compromisso firmado é um primeiro passo, cujo principal beneficiado será o público. "Não resolve a grande distorção, mas ameniza. O público vai ser o maior beneficiado, não vai ser nem o cinema brasileiro. O público fica sem opção também. Agora vai ter mais opções nas salas", comenta.

Se o resultado foi efetivo, ele só será perceptível ao final de 2015, quando os dados do cinema no Brasil forem coletados e analisados. O acordo também será revisado para 2016.

A punição para quem descumprir o estabelecido não foi determinada, porém, a Ancine afirmou que deve adotar alguma salvaguarda regulatória, como cotas de tela adicional para filmes brasileiros.

Mais cópias digitais
Outro compromisso assinado é o de que as distribuidoras devem disponibilizar cópias digitais dos próprios filmes para complexos que as pedirem a fim que os grandes lançamentos cheguem a cidades menores.

;Uma das grandes distorções deste mercado e dos megalançamentos é que, por vezes, mesmo um filme ocupando cerca de 1,5 mil telas, como ocorreu este ano, ele não ocupava mais de 500 dos 750 pontos de exibição. Isto significa que 250 complexos ficavam sem ter acesso àquele titulo. Estamos falando de cidades do interior e de maiores dificuldades para um cidadão ter acesso ao filme que ele quer ver. Portanto, além da diversidade, essa medida pode induzir a uma maior capilaridade da projeção dos filmes", afirmou Rangel.

Posicionamentos
A Sony Pictures Brasil, uma das maiores responsáveis por megalançamentos em todo o mundo, afirmou que não vai se pronunciar em relação ao assunto. A reportagem entrou em contato também com a Warner Bros. Brasil, o Cinemark e o Kinoplex Severiano Ribeiro - estes dois últimos signatários do compromisso -, mas não recebeu resposta até a primeira publicação desta matéri

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