Diversão e Arte

Analistas de comportamento selecionam conteúdos e antecipam tendências

Os profissionais estão em serviços do mundo da música, da literatura, do cinema e da televisão

Adriana Izel
postado em 28/04/2015 08:00

Eles sabem do que você gosta. Essa é a sensação que passa quando se assiste a um filme em um serviço de streaming e a plataforma lhe sugere um outro longa-metragem que você é fã ou queria ver havia muito tempo. O mesmo ocorre quando se escuta uma sequência de canções em uma playlist pronta em um aplicativo e se descobre músicas novas de seu estilo favorito.

Nada disso, evidentemente, é por acaso. Essas escolhas são feitas diariamente em uma análise comportamental. Na maioria dos casos, as decisões são tomadas por meio de um software que traça um perfil. Aos poucos, esse serviço ganhou curadores, que são pessoas responsáveis por selecionar os conteúdos e antecipar as tendências no mundo da música, da televisão e do cinema.

;Por exemplo, quantos pessoas estão acessando algo, para saber o motivo disso, é preciso um olhar humano. Então, acho que é um serviço complementar. Com o aumento das máquinas, paralelamente, cresce o número de pessoas nesse segmento;, explica a diretora da divisão de consultoria da empresa WGSN Mindset (especialista em tendências), Daniela Dantas.

Ao modo antigo


Enquanto a maioria dos serviços faz a análise de comportamento com ajuda de algoritmo, a livraria on-line A Taba prefere o modo antigo, contando com um grupo de curadores. A empresa oferece um serviço de assinatura de livros infantis e juvenis em que os assinantes recebem todo mês uma obra escolhida pela empresa. Idealizado pela pedagoga e mestre em Educação Denise Guilherme Viotto, a ideia é levar aos leitores livros que eles não conheciam.

A seleção é feita por seis curadores fixos, além de colaboradores. Denise é uma das integrantes do grupo. A reunião para descobrir as tendências do universo literário ocorre uma vez por mês por meio de um debate. ;No grupo temos professores, bibliotecários, pais, contadores de histórias e, quando é preciso, convocamos crianças, porque já aconteceu da gente não achar que o livro era uma boa opção e os pequenos acharem o máximo. Levamos em consideração três tipos de perfis de leitor: iniciante, autônomo e experiente. O mais importante é contemplarmos diferentes estilos de produção cultural contemporânea a cada mês;, completa a pedagoga. A resposta dos assinantes sobre o serviço costuma ocorrer por meio de cartas, e-mails e, principalmente, pelo fórum disponível no site oficial. É de lá que o projeto consegue o feedback.

Nova iniciativa

Em abril, o serviço de streaming Netflix anunciou que contrataria um brasileiro para integrar a equipe de taggers da plataforma. Chamado de ;o melhor emprego do mundo;, o cargo nada mais é do que uma pessoa responsável por assistir e a classificar os filmes, os documentários e as séries do sistema, para descrevê-los e colocá-los nos diferentes catálogos, como ;Filmes emocionantes aclamados pela crítica;, ;Dramas emocionantes; e ;Comédias com mulheres fortes;.

O novo tipo de análise de comportamento, que tenta garantir uma melhor experiência dos usuários por meio do serviço feito por pessoas, é usado nos Estados Unidos, México, Holanda, Reino Unido, Canadá e, em breve, chegará ao Brasil. Os taggers internacionais escolhem os conteúdos de acordo com pesquisas e também com auxílio dos famosos algoritmos do Netflix. É um serviço casado.

Análise múltipla


O Pleimo é uma plataforma digital brasileira agregadora de música. Assim como a maioria dos serviços de streaming, a boa parte da análise de comportamento do Pleimo é feito de forma automática identificada por um software do próprio sistema. ;Ele analisa a atividade do usuário e passa a sugerir músicas similares à que a pessoa está ouvindo;, explica Paula Balestrim, diretora de marketing (CMO) do Pleimo e uma das curadoras de conteúdo.

O terceiro método está em uma escolha feita por uma equipe de profissionais do Pleimo. Eles passam o dia todo ouvindo, analisando e classificando as músicas que chegam ao serviço diariamente e escolhendo aquelas que serão disponibilizadas para cada usuário. ;É necessário ouvi-las, classificá-las e dar destaque para as melhores. O nosso objetivo é para que essas músicas não se percam no meio de tanto conteúdo. Queremos oferecer para o usuário novas descobertas e músicas de qualidade que ele nunca ouviu em nenhum lugar. Dessa maneira também estamos ajudando novos artistas a serem descobertos;, destaca.

Três perguntas // Daniela Dantas, diretora da divisão de consultora da empresa WGSN Mindset (especialista em tendências)

Como funciona o trabalho de análise de comportamento na WGSN Mindset, que é uma empresa especialista em tendências?
Na verdade, todo o nosso trabalho em pesquisa de tendências é baseado no mapeamento de comportamento. Analisamos as recorrências e o perfil dos inovadores. A gente faz isso periodicamente independente do cliente. Estamos sempre em busca de novos comportamentos. É preciso mapear isso o tempo inteiro. Mas também fazemos pesquisas de tendências específicas e mais abrangentes para alguns temas. Temos diversas metodologias desde a pesquisa no campo até na internet. O importante é entender tudo que está acontecendo.

Como é o perfil de um analista de tendências?
É muito difícil definir, mas a pessoa tem que ter basicamente um pouquinho de tudo. Ela não pode ter preconceitos e tem que ter a cabeça aberta. Além disso, tem que ter um perfil analítico e observar tudo com muito cuidado para não deixar passar a manifestação de uma tendência. É preciso saber transitar entre os diferentes mundos. De certa forma, a criatividade é algo muito importante no campo de pesquisa. Tem que ter essa pitada.

A análise de tendências antes era feita apenas por máquinas. Qual é a importância desse serviço ser hoje feito por pessoas?
Muitos dados podem ser coletados na internet. Os robôs estão lá nos dando informações para ajudar no mapeamento. Mas ele não consegue a mesma informação que uma pessoa. O robô faz uma análise quantitativa, por exemplo, quantas pessoas estão acessando algo. No entanto, o motivo daquilo é preciso de um olhar humano para analisar completamente. Acho que com o aumento das máquinas, paralelamente, cresceu o número de pessoas nesse segmento. São muitas informações que precisam ser analisadas. Um precisa do outro.

Três perguntas // Bruno Telloli, product programming & design do Spotify
Os profissionais estão em serviços do mundo da música, da literatura, do cinema e da televisão

Como o Spofity chega até as sugestões do que o usuário deve ouvir?
Ficamos conectados com os movimentos musicais que acontecem na internet, rádio e em shows pelo Brasil, além de claro termos ferramentas que nos permite ter informações do que um grupo de usuários está ouvindo.

O Spofity é conhecido por várias playlists. Como é feita a escolha de faixas para cada playlist?

Hoje a música faz parte da vida das pessoas e sempre procuramos criar uma playlist que faça parte de um determinado momento do nosso usuário. Temos playlists para ouvir no trânsito, estudar, tomar café da manhã e por aí vai. Para escolher as faixas nos baseamos muitos nas informações internas que temos como por exemplo, qual a música mais tocada no período da manhã entre 12 e 17 anos e do sexo feminino. A criatividade não tem limites.

Como vocês conseguem descobrir "o que agradará ao usuário"?
Uma das primeiras coisas que devemos fazer é pensar como um usuário e deixar o gosto musical pessoal de lado. Depois é acessar nosso banco de dados e ferramentas disponíveis para compor algumas playlist que estamos criando. Temos diversas informações e usamos como base, já que a parte de curadoria humana é muito presente dentro do Spotify.

A matéria completa está disponível aqui, para assinantes. Para assinar, clique aqui.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação