Diversão e Arte

Latinidades: pesquisadora Janaína Oliveira dá panorama do cinema negro

Ela é uma das participantes da mesa de debate 'Afinal, o que é cinema negro?', do evento que começa nesta quarta-feira (22/7) e segue até o dia 26, com entrada franca, no Cine Brasília (106/107 Sul)

Adriana Izel
postado em 22/07/2015 08:00

O Festival Latinidades -- Festival da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha ; discute, nesta quarta-feira (22/7), o cinema negro -- que é a temática da oitava edição -- na mesa de debate Afinal, o que é cinema negro?, marcada para às 15h no Cine Brasília (106/107 Sul).

[SAIBAMAIS]O espaço contará com a presença de Janaína Oliveira, coordenadora do Fórum Itinerante de Cinema Negro (Ficine); de Larissa Fulana de Tal, realizadora no coletivo de cinema negro Tela Preta; e da norte-americana Kathleen McGhee Anderson, roteirista de séries televisivas e filmes. A mesa terá mediação de Ceiça Ferreira.

A ideia é discutir o que é cinema negro e dar um panorama histórico. De acordo com Janaína Oliveira, uma das participantes da mesa, é importante compreender a questão do cinema negro e a dificuldade que ainda existe do público de se relacionar com um audiovisual com temática racial. "Infelizmente, não é raro encontrar uma resistência. As pessoas dizem que não existe racismo, mas o racismo se reafirma no campo do cinema", comenta.

Confira programação completa do Festival Latinidades

Ao Correio, Janaína adiantou alguns tópicos que deve tratar na mesa ao lado de Larissa e Kathleen, além de falar sobre assuntos relacionados às questões do movimento negro. Confira abaixo entrevista com a professora de História e pesquisadora no assunto.

Como surgiu o convite para participar do Festival Latinidades?
Eu conhecia o festival, mas, essa época do ano, sempre coincide com vários congressos e eu nunca tinha tido a oportunidade de participar. A organização me convidou em virtude do tema. Vou participar de uma mesa na quarta-feira e mediar outra sobre festivais na quinta-feira (Encontros, mostras e festivais: difusão da produção cinematográfica/audiovisual negra e africana).

O que pode adiantar da mesa Afinal, o que é cinema negro?
Enquanto pesquisadora, a minha função é um pouco para dar ao público uma certa ideia do que estamos falando e oferecer a minha visão nesses sete anos, em que fiz o cinema negro um objeto formal de pesquisa. Quero explicar o que é o cinema negro e africano e fornecer uma panorama histórico. É preciso entender a história para compreender a questão. As pessoas têm dificuldade de se relacionar com a temática racial. Infelizmente, não é raro encontrar uma resistência. As pessoas dizem que não existe racismo, mas o racismo se reafirma no campo do cinema.

Por que ainda existe essa resistência ao cinema negro?
É uma reprodução de uma estrutura social, tanto que é difícil ver mulheres negras ocupando os espaços no audiovisual, seja como atriz, diretora, roteirista até nas áreas mais técnicas. E mais difícil é a resistência com a temática, porque, de modo geral, temos uma formação eurocêntrica, em que todas as referências estão relacionados ao colonizador. Imagina-se que exista um cinema universal, esse que é produzido, por exemplo, nos Estados Unidos e, o que não está nesse parâmetro, é marginal. Então as pessoas ainda têm dificuldade de ver atores e atrizes negras fugindo dos estereótipos de pobreza, bandidagem... É preciso trabalhar essa desconstrução e focar na formação de um público de várias frentes. O que é importante conceituar é que é um campo de reflexão política, estética e de produção de pensamento.

Você é uma fundadoras do Fórum Itinerante de Cinema Negro (Ficine). O que te levou a criá-lo?
O Ficine nasceu do fruto da aflição de um interesse de algumas pessoas, que, como eu, têm vontade de interferir nesse campo da imagem do cinema negro e dar alguma colaboração. Surgiu de um encontro meu com a pesquisadora Janaina Damaceno e o cineasta César Cardoso. Começamos a articular essa proposta de um projeto que trouxesse essa discussão e concentrasse essas informações de alguma maneira. Queríamos colaborar com iniciativas que já existissem, porque é preciso consolidar uma rede. Hoje temos uma plataforma on-line, que em breve deve mudar, mas que tem um banco de dados precioso, em grande parte, formado por material produzidos principalmente sobre cinema negro, cinema africano e cinema da diáspora. Além da dimensão digital, temos as itinerâncias, que já passaram por algumas cidades no Brasil e também na África, em que levamos documentários e estimulamos uma dinâmica de discussão.

O que te fez começar a estudar o cinema negro?
A primeira vez que eu assisti um filme africano foi na primeira edição do Festival do Rio de Janeiro e fiquei muito impactada. Mas o marco desse processo foi quando o Zózimo Bulbul (ator, cineasta e roteirista morto em 2013) fez o primeiro encontro do cinema negro no Rio de Janeiro, ele trouxe filmes africanos e também os realizadores. Comecei a ver os longas nesses encontros. No ano seguinte, em 2002, acompanhei uma entrevista dele ao Jô Soares, em que ele pouco falou de cinema negro e aquilo me deu uma agonia. No dia seguinte, vi um edital aberto e montei um projeto de pesquisa sobre a invisibilidade das produções afrobrasileiras.

Do que se trata esse projeto?
O Negritude é um estudo que tem como objetivo aproximar esse campo e compreendê-lo. Comecei o projeto entrevistando o público em sessões para entender as percepções com a pergunta "O que você entende por cinema negro?". Depois passei a entrevistar realizadores e pesquisadores.

Afinal, o que é o cinema negro para você?

É um campo estético, de imagens e de perspectivas. É um olhar crítico sobre o mercado e a produção que é feita de forma independente. Dificilmente, o cinema negro é produzido por grandes estúdios, que são dominados por uma estética que exclui e inferioriza o negro.

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