Diversão e Arte

Cultura digital não desanima colecionadores de CDs, discos e livros

Donos de coleções, brasilienses resistem à digitalização da cultura

postado em 29/07/2015 07:32

Josiele Moreira, do Sebo Musical Center, é apaixonada por discos de vinilEm um sebo de discos na Asa Norte, três aficionados pelo vinil debatem técnicas de conservação do material. ;O ideal é passar um pano de microfibra para tirar a estática, ouvir o disco, e depois passar o pano de novo para guardar;, garante Josiele Moreira, dona do Sebo Musical Center. ;Eu uso algodão e sabão líquido bem diluído. E depois tem que lavar bem para tirar a química do produto;, opina Juliano Serra, 56 anos, professor do Departamento de Desenho Industrial da UnB e frequentador da loja.

Dona Celina Moreira, mãe de Josiele, arremata a discussão com a experiência de quem está envolvida no comércio de vinil há quase 30 anos. ;Aqui, a gente só usa fralda de neném ou bucha do lado amarelo quando tem muito mofo ou estática.; A progressiva digitalização da cultura, que nos permite armazenar centenas de arquivos de imagem, som e texto em um pequeno HD externo, não tira o entusiasmo de quem se dedica a colecionar vinis, livros e DVDs.

O objeto físico se transforma em um pequeno tesouro diante da imaterialidade digital e nutre a paixão dos colecionadores. Essa febre pelo analógico movimenta sebos de livros, vinis e as locadoras que ainda permanecem abertas em Brasília.

O livro como um fim em si

Luiz Alves Moraes comanda há 18 anos a tradicional Livraria Pindorama, que funciona desde 1989 na 505 Sul. Formado em letras e filosofia, Moraes dava aulas de português antes de tornar-se livreiro. ;Sou livreiro, não comerciante de livros;, enfatiza. ;Há diferença entre quem compra o livro com uma finalidade e aquele que compra o livro como uma finalidade em si. Aqueles que gostam do livro como uma finalidade em si são meus clientes há muito tempo;, diz.

[SAIBAMAIS]

Dono de uma coleção de 6 mil exemplares, Moraes acredita que o diferencial da loja é o foco no livro como objeto. ;As pessoas quando vão às livrarias hoje não estão só interessadas no consumo do livro. Elas querem se consumir lá dentro. O sujeito quer tirar foto, quer ser visto lá dentro. Depois, ele faz questão que o vejam virtualmente. Ele faz da vida dele um livro aberto;, analisa. Entre as preciosidades que ele guarda no acervo da livraria está a primeira edição de A pedra do reino, de 1972, com uma dedicatória de Ariano Suassuna.

As páginas amareladas registram também traços dos antigos donos, como é o caso dos itens comprados dos filhos de um ex-secratário de Getúlio Vargas. Moraes descobriu livros com dedicatórias pessoais do ex-presidente ao fiel colaborador, que chegava a corrigir os textos históricos com críticas a Vargas. O professor e policial militar aposentado Mauri Moro Machado, 49 anos, é frequentador da livraria há 20 anos. Gaúcho de Santo Ângelo, ele conta que chegou a Brasília ;com uma mochila nas costas e uma sacola de livros do lado;.

Ele se orgulha da coleção de 8 mil livros que cultiva, entre eles, títulos autografados e raridades como a primeira edição de Arte de furtar, de 1744, atribuída ao padre Antônio Vieira. ;Em Brasília passei a frequentar sebos e peguei a paixão pela antiguidade;, relembra o bibliófilo, adjetivo que o diferencia do leitor comum.

;Quem é bibliófilo não conhece só o assunto do livro, mas também os pormenores da vida do autor. Quem sabe que José de Alencar foi ministro do TCU e deputado federal várias vezes?; Para Machado, que não tem e nem quer ter tablets ou leitores de e-books, a internet tem apenas função de ferramenta de pesquisa. ;Meu gosto é papel, não é virtual.;

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