Diversão e Arte

Escritor goiano lança obra em que discute choque de gerações

Na estreia em prosa Eu, cowboy, Caco Ishak reflete sobre as diferenças entre os séculos 20 e 21

Nahima Maciel
postado em 26/12/2015 06:00

O escritor goiano Caco Ishak

Carlo Kaddish está em crise. Ainda não completou 30 anos, mas já é herdeiro de uma geração que nasceu a cavalo entre dois séculos. O personagem de Eu, cowboy, o primeiro romance publicado de Caco Ishak, vive à sombra do fracasso, na expectativa de vários fatos que não acontecem e que acabam por tomar a dimensão de uma crise existencial. Ishak define Kaddish como ;o elo perdido; entre dois tempos, um sujeito que sempre tenta ;puxar a sardinha; para o século 20 enquanto vive os excessos do século 21. Um pária, na visão do autor. ;Visivelmente perdido, controverso. Como acontece em todo choque entre gerações;, garante Ishak.

Kaddish vive em Belém, é pai de uma garotinha sobre a qual pouco revela, tem uma turma de amigos-companheiros de baladas junkie-trash e transita entre o submundo e a elite. O rapaz tem vários planos para depois, mas não realiza nenhum. Seu malogro é sempre iminente e funciona como um combustível. Não há meio termo e, como boa parte de sua geração, Kaddish tem voz ativa nas redes sociais e por lá exercita uma parte de sua personalidade autodestruidora e egocêntrica. E vive no mesmo ritmo que Ishak escolheu para a narrativa.

Goiano criado no Pará, autor de dois livros de poesia ; Má reputação e Não precisa dizer eu também ; considerados uma das revelações da jovem poesia brasileira dos últimos cinco anos, Ishak escreveu um romance veloz, cheio de quebras de linguagem que parecem remeter aos fracassos do personagem, cujos diálogos são reproduzidos como se fossem um fluxo de consciência.

É fácil comparar a escrita de Eu, cowboy com aquela praticada pelos poetas e autores beats, mas o curioso é que o personagem de Ishak, ao contrário dos americanos de Jack Kerouack, não sai do lugar.

O cowboy do título é uma referência ao arquétipo do machão, aquele, Ishak aponta, eternizado por Marlboro, o mesmo vivido por Clint Eastwood e Butch Cassidy, ou, mais recentemente, por John Travolta e Matt Dillon. É uma referência de época que ajuda a marcar a crise existencial de Kaddish, mas também uma realidade que, para o autor, não pode ser ignorada. ;Tem o lado dessa coisa bem século dos seriados nos primórdios da tevê, os primeiros enlatados americanos. Daí cowboy, não caubói. O próprio ideal de caubói que nos vendem através dos mega rodeios da vida pelo interior não tem nada a ver com a realidade no campo;, diz. ;Nossos peões passam longe disso no dia a dia. Embora seja justo o arquétipo em si da outra extremidade no paradoxo, fazendo frente à parcela tautista da sociedade que se pretende digital, igualitária. Acho que não existe nada mais emblemático para ilustrar esse choque entre o terceiro-mundismo e a transição da hiper-modernidade ao pós-humano do que a figura do caubói/cowboy;.

Elogiado pela crítica ; Mario Bortolloto ressaltou o alter-ego ;Ginsbergiano; de Caco, Marcelino Freire confessou que queria ter escrito o livro e Daniel Pellizzari simplesmente aprovou ;, Eu, cowboy é um livro para se ler de uma vez, de um fôlego, sem piscar nem escorregar, de um jeito a não desgrudar do ritmo da linguagem.

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