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Morre o Nobel de Literatura Imre Kertesz, voz de denúncia contra o nazismo

Autor escreveu sobre os horrores dos campos de concentração e lutou para que tragédia não fosse esquecida

Nahima Maciel
postado em 31/03/2016 11:30

Imre Kertesz escreveu  sobre a fragilidade humana diante da barbárie

Primeiro húngaro a ganhar o Nobel de Literatura, o escritor Imre Kertesz morreu nesta quinta-feira (31/03), em Budapeste (Hungria), aos 86 anos. Ele sofria de Mal de Parkinson e pouco saía de casa. Uma das vozes mais importantes no relato da tragédia dos judeus durante a Segunda Guerra, Kertesz publicou mais de 13 livros, incluindo romances que trataram da vida nos campos de concentração.

Nascido em Budapeste, o autor tinha apenas 15 anos quando foi deportado para o campo de Auschwitz (Polônia), já quase no final da guerra, em 1944. É esse momento que ele conta em seu primeiro livro - e também um dos mais tocantes -, com uma economia de palavras e uma precisão na descrição que fisgam o leitor pela emoção. Sem destino começou a ser escrito em 1960, mas foi publicado apenas em 1975, quando o autor já havia enfrentado outras dificuldades sob a ditadura comunista. A Hungria permaneceu sob o domínio da ex-União Soviética entre 1945 e 1989.

Sem destino foi recusado durante anos pelo regime e foi o primeiro de uma trilogia que seguiu com Fiasco (1980) e Kaddish para um filho não nascido (1990), este último sobre a recusa em deixar uma criança vir ao mundo em uma sociedade na qual o horror nazista foi inteiramente possível. Em 2002, o escritor ganhou o Nobel de Literatura por ;uma escrita que defende a frágil experiência humana do indivíduo contra a arbitrariedade bárbara da história;.

Depois da guerra, Kertesz voltou para Budapeste. Estava sozinho, a família havia sido exterminada nos campos nazistas e o adolescente lutou para sobreviver. Mais tarde, se tornou jornalista, mas perdeu o emprego quando o jornal no qual trabalhava passou a adotar a linha do Partido Comunista. Acabou exilado na Alemanha e somente em 2013 retornou à Hungria, país que observava com preocupação. Em uma entrevista concedida ao seu tradutor para o espanhol, Adan Kovacsics, e publicada no El País em 2013, Kertesz se demonstrou muito preocupado com o recrudescimento da direita em sua terra natal e criticou o governo do primeiro-ministor Viktor Órban, o mesmo que fechou as fronteiras do país aos imigrantes sírios. Kertesz lembrou que em ambientes assim alimentavam o antissemitismo.

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