Diversão e Arte

Fabiano Borges mostra diversidade da América Latina em disco

Disco duplo do violinista foi feito após seis anos de viagens e surpresas

Nahima Maciel
postado em 16/08/2016 07:32

O instrumentista e compositor reuniu o acervo do álbum durante viagens pela América Latina

Foram quase seis anos de viagens e surpresas constantes para reunir as 26 faixas que formam ;Latinoamérica!. O disco duplo do violonista brasiliense Fabiano Borges nasceu durante uma série de viagens pela América Latina ao longo dos últimos seis anos. A cada incursão pelos países dos hermanos, Borges descobria um gênero musical do qual nunca ouvira falar. Aos poucos, aproveitou para incrementar a própria bagagem com partituras, gravações, contatos com compositores e histórias de uma música rica e carregada de identidades. ;Sempre gostei muito da cultura da latino-americana;, conta Borges. ;Em 2006, passei 45 dias no Peru e fiquei encantado. Conheci um mundo artístico e uma estética musical com a qual nunca tinha tido contato. Mantive uma frequência de viagem e, toda vez que viajava, guardava material.;

;Latinoamérica! foi gravado em nove meses, mas gestado ao longo de seis anos. Entre outros, o álbum apresenta ritmos como o landó, gêneros afro-peruano, e wayno, muito comum em certas regiões da América Latina e bastante típico do Peru, de onde vem também a marinera, ritmo emblemático da costa do país. Do norte da Argentina, Borges trouxe o gato e a chacarera. ;São ritmos que vêm de regiões não vinculada às capitais;, avisa o compositor, que assina sete peças do álbum. Cuba contribuiu com o son, gênero de origem cubana e hoje comum no Caribe e na América Central, mas pouco conhecido no Brasil. Da própria terra, Borges tomou emprestado o choro, o samba e um pouco de frevo e maracatu.

Assim como os gêneros, boa parte de seus compositores são também nomes que pouco circulam pelo território brasileiro. No repertório de Borges, entraram artistas como o cubano Franz Castillo e o argentino Julian Plaza, mais contemporâneos, e outros mais antigos, como Cachilo Diaz, empenhado em divulgar a música folclórica argentina nos anos 1940 e 1950. Muitas das faixas são de violão solo, mas o instrumentista também quis incluir algumas formações para tornar as sonoridades mais palatáveis. Há, portanto, um belíssimo quarteto de violão na faixa Apanhei-te Cavaquinho (E. Nazareth). Para a Suíte Nordestina, ele misturou o violão de sete cordas e a percussão. Há ainda participações de violino, clarineta e gaita. ;Quem é leigo escuta uma peça no violão e pode até ouvir a rítmica, mas às vezes não identifica o gênero. A instrumentação com outros instrumentos facilita a identificação da música. Mas tive o cuidado de manter uma unidade sonora;, avisa.

De fato, ;Latinoamérica! parece um grande continuum harmônico e envolvente comandado pelo violão e com participações especiais e eventuais. São duas horas de boa música, com alguns destaques, como a Suíte Brasileira e a Suíte Sudamericana. A peça dedicada ao Brasil tem duas faixas, Brasília e Rio de Janeiro, a primeira melancólica e a segunda, embalada por um sambinha. ;São duas cidades que gosto muito;, justifica Borges. Na Sudamericana, ele incluiu um landó e um tango. Brumas, do peruano Mario Orozco, é um momento especial do disco, com uma introdução triste logo cortada por uma melodia que carrega uns ares de bossa e samba numa explícita homenagem a Baden Powell. Em Estudo de concerto n; 2, do peruano Mario Zedog, há certo virtuosismo bastante contemporâneo, mas capaz de remeter à estética barroca. A peça é uma homenagem ao violonista paraguaio Agustín Barrios. E assim, ao ser também autoreferente, ;Latinoamérica! é um belo passeio pelas sonoridades do continente.

;Latinoamérica!
Fabiano Borges (violão). Com participações de Fernando Machado (clarinete), Ted Falcon (violino),Pablo Fagundes (gaita), Léo Barbosa (percussão), Álvaro Henrique (violão), Diego Martín Castro (violão) e Martin Gallo (percussão). Tratore, 26 faixas. R$ 39,90

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