Diversão e Arte

Em entrevista, Jorge Aragão fala sobre a carreira e lançamentos

O artista comentou também o momento do samba e de sua relação com Brasília.

Adriana Izel
postado em 18/09/2016 07:30

O artista comentou também o momento do samba e de sua relação com Brasília.

O cantor e compositor Jorge Aragão teve seu destino atrelado ao samba desde o nascimento. O carioca veio ao mundo em 1; de março de 1949 numa terça-feira de Carnaval no Rio de Janeiro. Apesar dessa coincidência, o músico demorou a de fato se envolver com o gênero. Antes de se tornar sambista, foi solista em uma banda que fazia cover da Jovem Guarda.

Mesmo assim, nas horas vagas compunha sambas. Suas composições foram descobertas por um amigo que o apresentou a Neoci, figura lendária do Cacique de Ramos, que logo transformou Malandro, composição de Jorge, em sucesso ao entregá-la a Elza Soares, que o gravou no LP Lições de vida. Essa e muitas outras histórias, até então pouco conhecidas do grande público, fazem parte do livro Jorge Aragão ; O enredo do meu samba, escrito pelo jornalista João Pimentel. A obra faz parte do projeto Sambabook Jorge Aragão, que consiste ainda em DVDs, CDs e um livro de partituras produzidos pela Musickeria, com direção-geral de Afonso Carvalho. Jorge é o quinto sambista a ser homenageado no projeto, que já teve Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, João Nogueira e Martinho da Vila.

No início, Jorge diz que não queria ter se tornado o homenageado do projeto. O motivo é que ele achava que existiam muitos outros artistas que deveriam ter o tributo antes dele. ;Temos aí Monarco, Paulinho da Viola, Wilson Moreira, Nei Lopes... Tanta gente. Com toda sinceridade, agora estou achando melhor que tenha sido feito. Estou curtindo bastante;, contou Jorge. Em entrevista ao Correio, o artista comentou sobre o Sambabook, o momento do samba e também de sua relação com Brasília.

Você é o quinto artista do samba a ser homenageado no Sambabook. Como foi a sensação de ter esse tributo?
Meu primeiro sentimento era de querer pular fora do barco. Eu falei para o Afonso (Carvalho) que eu não queria. Temos aí Monarco, Paulinho da Viola, Wilson Moreira, Nei Lopes... Tanta gente. Mas não o convenci, ele acabou achando que esse era o meu momento. Então, fizemos. Com toda sinceridade, agora estou achando melhor que tenha sido feito. Estou curtindo bastante e estou entendendo o que é o Sambabook. Mesmo tendo participado dos projetos do João Nogueira e do Zeca Pagodinho, só agora que eu fui entender, fazendo o meu e colocando a mão na massa, o que é de fato esse projeto. É um trabalho feito por muitos profissionais. A minha carreira em si será tratada de forma diferente daqui para frente.

Artistas como Baby do Brasil, Ivan Lins, Elza Soares e Anitta cantam suas músicas no Sambabook. Como foi o processo de escolha desses convidados?
Eu quase sempre aceitei. Esse quadro quem pintou foi o Afonso (diretor-geral). Ele me falava das músicas e perguntava o que eu achava. Foi me deixando muito a vontade. Foi até difícil. Ele já tinha tudo isso planejado. Ele conseguiu vislumbrar quem cantaria o que e como aquela pessoa poderia dar um tempero, também respeitando a gravação original.

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No livro Jorge Aragão ; O enredo de um samba, muitas histórias pouco conhecidas da sua vida e da sua carreira são reveladas. Por que você sempre foi um artista recluso?
Eu vivo do meio, mas não vivo no meio. Sempre gostei disso. Gosto da música pela música, independentemente de ter que aparecer em lugares badalados. Gosto do Jorge autor, não do Jorge intérprete. Porque ele tem que fazer caras e bocas, tem que colocar um sapato direitinho. Tem que ter um outro cuidado que não é o mesmo quando você é o autor, que você está só você, sua emoção e o poder de lidar consigo mesmo quando está criando uma história. Nas minhas músicas, gosto de falar de experiências. É por isso que eu tenho tanta satisfação de alguém ler algo da minha vida e se sentir mais próximo. No Sambabook, a pessoa pode escolher o livro, um CD ou dois, o DVD, o fichário de partituras... Acho que serve para aquela turma que está chegando e querendo fazer o samba. Tudo isso é um presente.

Você é autor de clássicos do samba como Moleque atrevido, Malandro, Coisa de pele e Enredo do meu samba. O que te inspira na hora de compor?
Tudo. Os amores que eu tive. Eu olho para todo mundo como um gerador potencial de música. Olho para as relações a minha volta. Vejo quem está com desamor, quem está amando, quem está apaixonado. Estou sempre atento as reações e a música para mim é como uma fotografia. Eu guardo o negativo e levo comigo para escrever sobre determinado assunto. A partir do negativo, eu começo escrever. Guardo sempre comigo um material para ter uma essência para trabalhar e escrever. Quando eu escrevo, quero me emocionar. Eu não quero música para tocar no rádio, quero música que me dê prazer. Quero chorar com meus personagens. Só assim que eu sei escrever.

Você acha que hoje o samba vive um momento mais pobre nas composições?
Não consigo achar isso, porque eu não participo disso. Eu só encontro pessoas que estão fazendo e procurando manter tudo como era antigamente. Existe claro uma célula do samba que é tocada no rádio. Se ela está ali é porque está dando retorno. Quando eu vou para rua para ouvir meus iguais e no caminho até lá sei que vou ouvir algo paralelo no rádio. Mas o que você ouve no rádio não está tocando numa roda de samba. Acho que tem espaço para todo mundo no mundo. Temos que deixar cada um viver.

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Como é a sua relação com Brasília?
(antes de responder, Jorge canta a música Conquistador de cera). ;Se encantou com a rosa, foi perdendo o sono. Só que o amor de Rosa tinha outro dono, que era bom de briga, campeão da sorte. Que arriscava a vida perto da Asa Norte;. Esse é um samba que sempre que chego em Brasília, eu tenho que cantar. É obrigatório. Essa música já mostra como eu adoro pisar nesse chão. Gosto muito da vida de Brasília, de como ela é amada e odiada ao mesmo tempo. Tem um sentimento ambíguo. A paixão total e não querer se apaixonar. Tudo isso eu amo. Sou muito feliz com Brasília, por exemplo, nunca reparei essa história de não ter esquina. É um povo com quem me sinto bem.


SERVIÇO

O artista comentou também o momento do samba e de sua relação com Brasília.
Sambabook Jorge Aragão
Produzido pela Musickeria, o material tem um livro, dois CDs, um DVD e um fichário de partituras. O DVD, que tem direção de Bruno Murtinho, Alceu Maia e Afonso Carvalho, conta com 25 faixas de Jorge Aragão cantadas por 26 convidados, inclusive, com a presença do falecido Vander Lee, que cantou Mutirão de amor. Jorge Aragão se junta aos convidados em Vou festejar. Musickeria e Petrobras, 25 faixas (DVD) e 13 faixas (cada CD). Preço médio: R$ 20 (cada CD) e R$ 30 (DVD).

O artista comentou também o momento do samba e de sua relação com Brasília.
Jorge Aragão ; O enredo do meu samba
De João Pimentel. Sonora Editora e Musickeria, 264 páginas. Preço médio: R$ 49,90.

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