Diversão e Arte

Conheça Nathan Sawaya, criador das esculturas com lego que viraram febre

Trabalho do americano pode ser conferido na exposição 'The art of the brick', vista por mais de 300 mil pessoas no Rio e em SP. Em Brasília, peças compõem mostra no Iguatemi

Nahima Maciel
postado em 29/03/2017 06:01

Esculturas da exposição 'The art of brick', do artista Nathan Sawaya

Nathan Sawaya estudava direito na universidade de Columbia, em Nova York, quando começou a se aplicar às esculturas em Lego. Enquanto os amigos bebiam para relaxar nos momentos de lazer, Sawaya brincava com Legos. A distração cresceu ao ponto de, anos depois, ele abandonar o trabalho como advogado para se consagrar aos tijolinhos de plástico.

Primeiro, Sawaya copiava objetos que encontrava no próprio apartamento, em Nova York. Mas a figura humana sempre foi sua maior paixão. A prática começou a ficar séria quando o artista ganhou um concurso promovido pela Lego. Inicialmente, ele convenceu uma galeria novaiorquina a exibir as esculturas que iam surgindo. Até vendeu algumas peças.

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;No início, algumas galerias de arte questionaram sobre os tijolinhos, mas eu estava determinado a ser a primeira pessoa a levar o Lego para o mundo da arte;, conta o artista. O trabalho cresceu e Sawaya começou a fazer grandes exposições. A popularidade do brinquedo ajudou bastante, mas também levou a produção do ex-advogado para a fronteira entre arte e entretenimento.

Nem sempre a crítica aceita as esculturas como peças de arte contemporânea, mas reconhece a habilidade do artista em construir peças com movimento, curvas e perspectiva munido apenas de quadradinhos com ângulos retos. The art of the brick, que chega hoje a Brasília com 82 esculturas feitas em Lego, é apenas uma das quatro exposições do artista em cartaz no mundo.

As esculturas do americano de 43 anos viraram uma febre. Durante a exposição, em São Paulo e no Rio de Janeiro, foram vistas por mais de 300 mil pessoas. Várias peças são repetidas e rodam o mundo ao mesmo tempo, como o famoso Yellow man, usado por Lady Gaga no vídeo G.U.Y.

Desde que as peças se tornaram populares, Sawaya suspendeu as vendas. Hoje, garante o produtor Mario Iacampo, o artista não vende mais as esculturas. Prefere guardá-las para exposições simultâneas e semelhantes realizadas no mundo inteiro. Atualmente, The art of the brick está em cartaz nos Estados Unidos, na Rússia e na Inglaterra.
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Muitas das esculturas expostas no Shopping Iguatemi são expressões dos sentimentos do próprio artista. Do peito do Yellow man saem centenas de pecinhas, como se o artista se abrisse para o mundo. Em Grasp, um muro cinza tenta agarrar um homem em vermelho, uma metáfora da reação de amigos e familiares quando Sawaya avisou que trocaria o escritório de advocacia pelos Legos. ;A figura representa minha busca em ser um artista;, explica.

;Quando tomei a decisão, muitas pessoas pensaram que era um erro e foram muito negativas em relação à minha escolha. Essas pessoas são representadas pelos braços da escultura, que tentam agarrar a figura vermelha.; Uma mão gigante e cinza representa o medo do artista de perder seu mais precioso instrumento de trabalho, e Crowd fala das ruas lotadas das metrópoles.


ENTREVISTA: Nathan Sawaya



Por que trabalhar com Legos?

Usando um meio que é acessível, vemos famílias inteiras que talvez nunca tenham estado em uma galeria ou museu, mas que são atraídos por The art fo the brick. Como artista, quero inspirar outros a explorar sua própria criatividade, então é muito excitante ver as pessoas irem à minha exposição e se sentirem inspiradas. Há algo muito divertido quando o Lego é usado para esculpir peças grandes: se o público se aproximar muito verá pequenos retângulos com ângulos retos e cantos afiados. Mas quando se afasta, todos esses cantos se misturam e a forma da escultura emerge. Os ângulos retos se tornam curvas e, em vez de linhas distintas, se vê uma figura humana. Como na vida, é tudo uma questão de perspectiva. É por isso que gosto de esculpir com Lego.


Como a luz, a perspectiva e o movimento são importantes no seu trabalho?

Costumo focar muito na forma humana e o movimento, na arte, é um elemento chave. Capturar o movimento em uma escultura feita de pequeninos blocos retangulares torna a peça poderosa. Luz e perspectiva têm um papel muito importante.


Por que uma escultura de Lego deveria ser considerada arte?

Por que qualquer coisa deve ser considerada arte? Os tijolinhos de Lego são uma mídia de arte como outra qualquer e são um meio fantástico. Descobri, ao longo dos anos, que posso criar qualquer coisa usando o Lego e, como um artista, é o que escolhi. Já esculpi com materiais mais tradicionais, como gesso e arame. Também criei esculturas com materiais como doces e tampas de garrafas. Acredito que qualquer coisa pode ser um meio para a arte. Cabe apenas ao artista fazer acontecer.



E por que trabalhar com arte figurativa? A abstração tem algum lugar no seu trabalho?

Gosto da forma humana como tema porque posso expressar as emoções por meio dos meus trabalhos. Começo meu trabalho focando estritamente em objetos representacionais que encontro no meu apartamento,, em Nova York. Esse foi um bom ponto de começo para me ajudar a moldar a técnica. Mas, no fim, a forma humana é minha paixão.


Seu trabalho costuma atrair muito público. Por que acha que isso acontece?

Acima de tudo, meu papel como artista é inspirar. Aprendi que arte não é opcional. Não é uma coisa ;legal de se ter;, mas uma coisa que você ;precisa ter;. Quando eu era advogado, eu não estava feliz, mas criar arte me fez ficar feliz e eu acabei mudando minha carreira para focar em fazer arte. Não sou o único positivamente impactado ao exercer a criatividade. Já foi provado ao londo do tempo que estudantes se dão melhor na escola quando são expostos à arte. Os testes e provas têm notas melhores quando arte é parte do currículo. E criar arte é, frequentemente, usado em vários tipos de terapia e recuperação. Criar arte torna as pessoas mais felizes, mais inteligentes, mais saudáveis. Claramente, criar arte torna você uma pessoa melhor. Eu quero inspirar as pessoas a fazer arte para que possam construir um mundo melhor. Arrogante? Claro, eu sei, mas por que não?


A criação com o Lego é um processo sem fim?

O processo de criar essas esculturas começa com uma ideia. A ideia é o componente chave para desenvolver a arte. E a ideia precisa ser inspirada. Inspiração é uma coisa difícil de definir porque pode vir de diferentes lugares. Felizmente, com tantas exposições ao redor do globo, tenho que viajar um monte ao redor do mundo e encontro pessoas muito diferentes, o que proporciona experimentar várias culturas diferentes. E uso esses momentos para me inspirar. Carrego um caderninho de anotações para registrar as ideias. Quando encontro inspiração para um novo trabalho de arte, é preciso um certo planejamento. Gosto de planejar as esculturas o máximo possível. Quando estou construindo, colo cada peça. Isso significa que, às vezes, tenho que usar formão e machado para separar os tijolos se eu cometer um erro. Isso pode tornar o processo muito lento. Uma escultura em tamanho original de um ser humano por levar de duas a três semanas.




300 mil
Quantidade de pessoas que visitaram a exposição The art of the brick

SERVIÇO
The art of the brick
Exposição de esculturas feitas com Lego por Nathan Sawaya. Visitação de 29 de março a 21 de maio, de segunda a sábado, das 10h às 22h, e domingos e feriados, das 11h às 23h. Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia), no subsolo do Shopping Iguatemi.

;Costumo focar muito na forma humana e o movimento, na arte, é um elemento chave. Capturar o movimento em uma escultura feita de pequeninos blocos retangulares torna a peça poderosa;
Nathan Sawaya, artista plástico

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