Diversão e Arte

Brasília é tema de três exposições em cartaz na cidade

Bento Viana, Valdério Costa e Ralfe Braga mostram suas versões da capital

Nahima Maciel
postado em 26/04/2017 07:30

As cores dos trópicos se misturam às paisagens de Ralfe Braga

É quase um clichê insistir na faceta inspiradora de Brasília, mas é também (e felizmente) uma prática incansável. Valdério Costa, Bento Viana e Ralfe Braga sabem disso. Os artistas aproveitaram o aniversário da cidade para homenageá-la com três exposições em cartaz esta semana.

Brasília em traços e cores
Nascido em Natal e radicado em Brasília desde menino, Valdério Costa cresceu em meio ao universo do cordel. Ouvia as histórias do avô e imaginava um mundo de contornos semelhantes ao das xilogravuras que ilustravam as narrativas. Crescido, enveredou pelo mesmo caminho, mas com a referência brasiliense. É a cidade e seus monumentos o que se vê nas xilogravuras de Brasília, Cidade (In)visível, em cartaz no Museu dos Correios. A cidade não vista, dos malabaristas e palhaços de rua, das folhas, árvores e paisagens naturais que passam despercebidas pulou para dentro das xilogravuras de Costa, que também é professor de artes visuais na rede pública do Distrito Federal. ;É uma Brasília invisível. Esses artistas de rua são pessoas que a gente passa e não vê;, diz.

Costa começou a fazer as xilogravuras sobre a capital há cerca de seis anos. Antes, se debruçava mais sobre o desenho e a fotografia. ;A xilo é uma técnica mais complexa, exige mais paciência, mais tempo, você tem que saber desenhar, entalhar, imprimir e é totalmente artesanal, assim como a cultura popular;, avisa. ;E Brasília e xilo têm tudo a ver. A cidade é um amálgama de pessoas que vieram de vários lugares, do sertão. Com a xilo, os monumentos se transformam, é como se levasse a obra de Niemeyer para a cultura popular. Pego essa coisa sofisticada que é a arquitetura e levo para a xilo.;

Efeito especial nas lentes de Bento Viana

Cidade miniatura
Bento Viana sobrevoa Brasília desde 2012 para registrar a capital do alto. Já publicou em livro uma série de ensaios da cidade vista do céu, mas desde o ano passado ele busca uma nova perspectiva. Com uma lente tilt-shift, ele consegue desfocar o entorno e focar no objeto como se fosse uma miniatura. De cima, o efeito é ainda mais acentuado. A pesquisa faz parte da tentativa de construir novos olhares para a cidade. ;Brasília é tão fotografada! Esse é um exercício para ressignificar a cidade. Para mim, é quase uma bandeira ressignificar Brasília para o Brasil;, explica o fotógrafo, que mostra 38 fotos da série #Monumento61 em uma exposição ao ar livre no Pontão.

Montadas em estruturas com painéis solares que se alimentam da luz durante o dia, a exposição faz parte do projeto Galeria Urbana, uma tentativa de criar galerias ao ar livre para democratizar o acesso à arte. ;Expor ao ar livre é uma forma muito social de expor e compartilhar obras;, acredita.

Efeito especial nas lentes de Bento VianaBrasília é o tema das xilogravuras de Valdério Costa

Brasília tropical
Ralfe Braga veio do Amapá para Brasília há quase quatro décadas. Trouxe na memória e nos sentidos as cores, cheiros e temperaturas amazônicas, as mesmas que hoje servem de fonte para pinturas e gravuras. Os ângulos da capital também acabaram por se impregnar nas referências do artista; afinal, são mais anos no Planalto Central do que na terra natal ; e é para a cidade adotada quando tinha 17 anos que ele dedica Poética ; Brasília.55, Brasília.57, em cartaz na Fnac.

A série de 20 gravuras impressas em fine art traz os monumentos da capital, as paisagens naturais e os bichos que ajudam a compor o cenário urbano. ;A cidade em si é inspiradora para as artes, qualquer lugar, qualquer ângulo que você olhe dá oportunidade de criar;, acredita Braga. ;Brasília me influencia na linha curva. Oscar Niemeyer e Lucio Costa deram isso de mão beijada para os artistas.; Os ângulos são modernistas, mas as cores vêm do barroco tropical da terra do artista. ;Sou do Norte, da Amazônia, nasci na linha do Equador, sol a pino, cores intensas. Se você cair no meio da Amazônia vai ver cor para todo lado e isso é bem impregnado no meu trabalho;, avisa Braga.



Brasília, Cidade (In)visível
Exposição de Valdério Costa. Visitação até 30 de abril, de terça a sexta, das 10h às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h, no Museu dos Correios (SCS quadra 4, bloco A, 256, ed. Apolo - Asa Sul).



#Monumento61
Exposição de Bento Viana. Abertura amanhã, às 19h, no Pontão do Lago Sul. Visitação até 5 de junho.



Poética ; Brasília.55, Brasília.57
Exposição de Ralfe Braga. Visitação até 30 de abril, de segunda a sexta, das 10h às 22h, e domingos, das 10h às 20h, na Fnac (Parkshopping).

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação