Diversão e Arte

Rubem Valentim ganha instituto para ajudar a divulgar e proteger a obra

A instituição foi criada pelo galerista Celso Albano

Nahima Maciel
postado em 28/05/2017 07:00

O pintor Rubem Valentim

O artista plástico Rubem Valentim sempre sonhou com um instituto para preservar a própria obra. Nos anos 1980, chegou a criar o Centro Cultural Rubem Valentim. Ganhou terreno do Governo do Distrito Federal (GDF) para erguer a sede na qual funcionaria a instituição, mas um desentendimento o fez desistir. O artista decidiu então levar a ideia para a própria casa. Reservou um espaço de 300 m; para abrigar as obras e o ateliê, mas o centro nunca foi realmente adiante.

Após a morte do artista, em 1991, a família não deu sequência ao projeto e a ideia ficou adormecida. Agora, o galerista e colecionador Celso Albano resolveu retomar o sonho do amigo e criou o Instituto Rubem Valentim, lançado na última sexta na Caixa Cultural. Albano era muito próximo de Rubem e herdou os documentos do centro cultural, dos quais tirou o estatuto do Instituto. A lista de membros do projeto do artista também migrou para a nova instituição. Nomes como Ferreira Gullar e Eduardo Portella, ambos mortos, estão entre os integrantes, assim como o crítico Frederico de Morais e os galeristas Jonas Bergamim, Carlos Dale, Paulo Darzé e Antônio Almeida. ;Com instituto, pensamos em dar uma ênfase e acompanhar os eventos relacionados ao Rubem Valentim;, explica Albano.

Obra do pintor Rubem Valentim

O instituto vai funcionar na própria galeria de Albano, no Lago Sul, e tem como compromisso mapear as obras de Valentim e realizar exposições. A primeira está programada para julho e vai reunir serigrafias do artista. ;É uma série de serigrafias que estava sob o controle do sobrinho de Rubem Valentim e que tem toda a história da simbologia dele;, avisa o galerista, que participou da documentação das obras que faziam parte do centro cultural nos anos 1990.

Na época, o levantamento foi filmado pelo jornalista Wanderval Calaça. Albano quer transformar o material em um pequeno documentário sobre o acervo do artista. ;Esse acervo foi disseminado, a família se desinteressou e as obras foram para a mão de grandes colecionadores, mas a maioria, sei com quem está e vou fazer o levantamento;, explica.

Nascido em 1922 em Salvador, Rubem Valentim foi professor do Instituto de Artes da Universidade de Brasília (UnB) nos anos 1960 e figura entre os nomes mais importantes do construtivismo brasileiro. Em pinturas, gravuras, serigrafias e esculturas, ele associa a geometria construtiva e precisa à simbologia da herança cultural africana. Acabou por criar um alfabeto de símbolos nos quais explicita o sincretismo religioso brasileiro, mas sempre de maneira abstrata e geométrica. Elementos da umbanda e do candomblé povoam suas peças e ajudam a construir um universo muito particular, formado por linhas retas, triângulos, círculos e quadrados.

As obras de Valentim também estão em algumas das coleções internacionais de arte abstrata mais importantes do mundo. Há alguns anos, a colecionadora Patrícia Cisneros doou duas obras do brasileiro para o Museum of Modern Art (MoMA), de Nova York, e algumas obras do acervo brasiliense fazem parte, hoje, da coleção do museu Calouste Gulbenkian.

Durante a última SP Arte, em abril, o galerista Almeida Dale doou para o Masp uma pintura de 1962. ;Foi a primeira obra geométrica no acervo permanente do Masp;, conta Albano. Na Bienal Internacional de Arte de São Paulo de 1976, Valentim ganhou uma sala inteira para montar o Templo de Oxalá, uma de suas obras mais emblemáticas e que reúne todos os elementos de seu alfabeto construtivo.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação