Diversão e Arte

Antonio Risério: Lá onde a coruja dorme

Todo intelectual tem dúvida. A ausência de dúvida é anti-intelectual

Luis Turiba - Especial para o Correio
postado em 22/06/2017 12:29
Todo intelectual tem dúvida. A ausência de dúvida é anti-intelectual

Um escritor de multilinguagens, um romancista que estreia com um pé na poesia, outro na antropologia e um caminhar firme pela história com um rebolado provocativo e certeiro para sua própria geração. Assim é a escrita do antropólogo-poeta-romancista Antônio Risério que, nesta sexta-feira (amanhã), dia 23, estará no Café Tropicália da Feira do Livro, no Pátio Brasil, às 18:30, falando sobre ;A questão da qualidade do texto;, tendo como interlocutores os poetas Francisco Alvim e Nicolas Behr.
Capa do livro Que você é esse?

Risério marca sua militância cultural pelas polêmicas e posições sempre afiadas. Tanto que, antes da publicação do romance geracional Que você é esse? Record, 431 páginas, lançado no início deste ano, o livro já havia causado polêmica nos meios intelectuais brasileiros por ter sido rejeitado (censurado?) pela sua antiga editora. Afinal, o romance toca em feridas vivas e profundas da esquerda brasileira nas décadas de 1980 e 1990 e no início deste século, coisas que ainda não foram nem totalmente diagnosticadas pela história, quanto menos curadas pela cruel realidade crítica que o Brasil vive.
Mas o destaque do livro fica por conta das múltiplas narrativas utilizadas por este novo romancista- a riqueza do texto, da arte de escrever, da narrativa diversificada e rica. Embora não seja uma obra experimental, incorpora aquela máxima dita pelo recém acadêmico João Almino de que o bom romance é ;um ser guloso;, antropofágico, e come tudo o que vê pela frente.
Que você é esse? vem do quilombo para o marketing, do candomblé à comunidade judaica da Bahia, passando pelo poder evangélico, os delírios amazônicos, as origens iorubá do negromestiço brasileiro, até cair ; e aí se aprofunda ; no pantanal manipulador, corrupto e poluído do marketing político brasileiro, especialmente da campanha vitoriosa de Lula para os dias atuais, com seus gênios marqueteiros.
Mas é muito mais: um livro articulado com cortes e noveletas internas; mas com uma turma de bons e velhos baihanos acompanhando as radicais e inacreditáveis mudanças pela qual o país passou e vai passando nos últimos 40 anos ; desde que se livrou de uma decrépita ditadura militar para cair numa esperta democracia do dando que se recebe.
Entre passagens históricas, Risério nos brinda com poemas incríveis, como o E.Autorrelevo: ;Criptomaníaco ; sou. E o que anuncio:/ decifro qualquer esfinge;.

Enfim, Risério é um ser do texto e é sobre sua riqueza textual que vem a Brasília e a Feira do Livro. Publicou e editou poesia ; seu livro ;Fetiche; marcou época -, publicou mais de 10 livros com estudos diversos como teórico-ensaísta.

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