Diversão e Arte

Saiba como as empresas de discos se adaptam à nova realidade

Artistas e produtores defendem que não há mais cartilhas a serem seguidas

Alice Corrêa*, Rebeca Borges*
postado em 11/10/2017 06:20

O duo carioca Gorduratrans conquistou espaço com as estratégias de produção e distribuição  dos selos independentes

Com a era das pós-gravadoras, caracterizada pela consolidação da música digital e da crise da produção fonográfica, muita gente se pergunta como bandas e artistas se lançam no mundo da música. Mesmo com o apoio das redes sociais, de onde saem grandes nomes nos dias de hoje, muitos ainda procuram gravadoras e especialistas na indústria fonográfica para avançar nos trabalhos. Os selos musicais nasceram como uma forma das grandes gravadoras segmentarem seus clientes. Mas e hoje, que muitas pessoas preferem alugar um estúdio e produzir seu trabalho por conta própria, qual é a real função dos selos musicais?

As equipes reduzidas de um selo musical são uma alternativa para sobreviver no mercado, visto que o modo de produção antigo demandava produtores, técnicos, distribuidores e empresários. Hoje, uma ou duas pessoas dão conta do recado com ;braços ajudadores;, como os estúdios independentes e as distribuidoras autônomas.

Para além de lançar um artista, os selos musicais funcionam como empresas responsáveis por produzir, distribuir e gerenciar o músico. Com a autonomia das bandas independentes, um selo musical precisa ter diferenciais para que o artista escolha fazer parte dele em vez de se lançar de forma independente.

A reinvenção da música


Os selos não são uma novidade no mercado musical. Uma das primeiras gravadoras independentes do Brasil foi a Kuarup discos, criada em 1977. De lá para cá, a internet, as redes sociais e os serviços de streaming transformaram a organização dessas empresas.

Hoje, a tecnologia cumpre o papel de tornar o artista conhecido. Com essa demanda atendida pela internet, os donos de selos perceberam que trabalhar apenas com produção e distribuição fonográfica não era tão rentável. Para atender às novas necessidades do mercado, as empresas começaram a se reinventar.

;Vimos que era muito difícil viver só da venda de discos;, conta Fernando Dotta, um dos fundadores do selo paulista Balaclava, criado em 2012. A empresa cuida do lançamento de discos, da organização da produção, da promoção e do licenciamento de shows, da divulgação, da produção executiva e do gerenciamento de carreira dos artistas que a integram. Além disso, a empresa organiza a festa Balaclava apresenta, em que promove showcases dos artistas do selo e de bandas convidadas. Outra iniciativa da organização é a feira Sacola alternativa, que reúne selos, gravadoras e produtores independentes para a venda de conteúdo dos artistas, palestras e oficinas ligadas ao mercado musical.

Novas possibilidades


;Acho que hoje em dia esse conceito do que é um selo está muito abrangente. Cada um inventou a sua própria forma de trabalhar, não tem muito uma cartilha para seguir;, comenta Dotta. Para o produtor, a reinvenção dos selos também foi positiva para os artistas que, agora, podem procurar empresas para desempenhar atividades que atendem às demandas específicas de cada um. ;Com esse lance de cada selo ter o seu negócio, o artista pode ir atrás de um selo e querer só um serviço. Hoje em dia é tudo mais customizado.;, explica Fernando.
O que eles preferem?

Alguns artistas ressaltam que os selos são mais voltados para o fazer artístico e menos para o industrial de ;vender discos;. É o que conta Larissa Conforto, baterista da banda Ventre, integrante do selo Balaclava. ;Em gravadora, pouco importa se você não fizer tanto sucesso, porque eles têm outros artistas para gerar dinheiro;, explica Larissa.

A artista trabalhou com grandes gravadoras e também produziu de forma totalmente independente, em que ela era responsável por todo o processo de produção. Depois dessas experiências, ela decidiu procurar um selo, e confessa que o suporte completo oferecido pela empresa é um diferencial. ;Foi um salto dentro da carreira;, conta a integrante da banda que está cotada para participar do festival Lolapalooza em 2018.

O duo carioca Gorduratrans começou a carreira de forma totalmente independente. Aos poucos, alcançou sucesso na cena musical. Com a ajuda de outros artistas independentes, de selos musicais de menor expressão e da internet, o trabalho da banda conseguiu sair do Rio de Janeiro e chegar a outros estados brasileiros. ;Através do Twitter, conseguimos organizar uma turnê pelo Nordeste inteiro.;, conta Felipe Aguiar, um dos integrantes da Gorduratrans.

Recentemente, a banda se integrou ao selo Balaclava: ;A gente sabe que, com o suporte do selo, conseguimos alcançar objetivos que antes não conseguíamos;, conta Felipe que, após se integrar ao selo, conquistou maior apoio na produção de shows e participação em festivais.

Amor à música


Em meio aos desafios e adaptações do mercado musical, a cena independente sobrevive pelo fascínio dos artistas e produtores pela música. ;Eu acredito que o mais move a gente em direção a esse mercado é a paixão. A principal razão de ter um selo é o gosto de se envolver com música e ajudar os artistas;, conta Heitor Lima, um dos donos do selo Milo recs, criado em setembro deste ano. Seja por grandes gravadoras, selos ou produções independentes, o mercado alternativo precisa trabalhar duro para acompanhar as reinvenções da música.


* Estagiárias sob a supervisão de Severino Francisco

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