Diversão e Arte

Livro analisa músicas de Chico Buarque que falam sobre mulher

Em 'Quem é essa mulher? A alteridade do feminino na obra musical de Chico Buarque de Holanda', Alberto Lima analisou 190 canções e descobriu como a trajetória de Chico está ligada a luta feminina

Lígia Vieira*
postado em 08/12/2017 16:00

Alberto Lima lança seu primeiro livro neste sábado (9)

O escritor Alberto Lima lança o livro Quem é essa mulher? A alteridade do feminino na obra musical de Chico Buarque de Holanda neste sábado (9), às 16h, no café Objeto Encontrado (102 Norte). O autor da obra é de Pernambuco, mas, desde 2001, reside em Brasília.

Este é o primeiro título do escritor e surgiu de uma dissertação de mestrado que fez em Paris na universidade Paris III - Sorbonne Nouvelle, no qual analisou todas as músicas do compositor e cantor brasileiro Chico Buarque que falavam sobre a figura feminina. O autor comenta: ;Tinha de escolher um tema que gostasse bastante. Por isso decidi falar sobre como Chico representa as mulheres em suas canções;.

Alberto sempre foi grande fã de Chico Buarque e queria descobrir de onde surgiram as inspirações das canções do compositor brasileiro. O escritor percebeu, então, que as músicas de Chico, com temática feminina, retratam exatamente o contexto histórico da época em que o compositor escreveu as canções. ;Na década de 1960, lança ;Ela e sua janela;, que representava o meio pelo qual a mulher via o mundo, de dentro de casa. Nesta época, a construção social fazia com que as mulheres estivessem restritas ao lar e ao domínio do marido. Depois da janela, a mulher passa a ocupar calçadas, depois a rua e por fim conquista o mundo. Todo esse processo aparece nas letras de Chico;, explica Alberto.

Outro fator que Alberto percebeu ao analisar os versos, foi que são claros dois eu líricos nas composições de Chico Buarque ao cantar sobre a mulher. ;Um é o homem que fala sobre o sexo oposto, o outro acontece quando canta como se fosse uma mulher exprimindo aquelas palavras, o que revela a mulher interior do artista.;

Quem escreveu o prefácio de Quem é essa mulher? A alteridade do feminino na obra musical de Chico Buarque de Holanda foi a jornalista Hildegard Angel, filha da grande estilista brasileira Zuzu Angel e irmã de Stuart, ambos mortos no regime militar pelo governo. Apesar de Alberto não a conhecer pessoalmente, desde o início pensou na jornalista por conta da história de sua família e ela aceitou rapidamente. ;Zuzu foi homenageada por Chico nas canções ;Angélica; e ;Pedaço de mim;, além de ser uma forte mulher atuante na luta contra a ditadura;, relata o autor.

A parte do dinheiro arrecadado com a venda do livro que seria destinada ao escritor será doada para o movimento feminista Ocupe Passarinho, que atua num bairro pobre da cidade natal de Alberto, Recife. Ele ficou sabendo do grupo a partir de amigos e dos jornais e se apaixonou pelo que proporcionam. ;Elas fazem um trabalho lindo na periferia de Recife e se juntaram sem nenhum apoio. Trazem o empoderamento feminino, falam sobre o direito da mulheres e querem conscientizar uma comunidade, em que as habitantes são majoritariamente negras, pobres e têm tudo para não se preocuparem com os próprios direitos;, esclarece.

Serviço

Lançamento do livro Quem é essa mulher? A alteridade do feminino na obra musical de Chico Buarque de Holanda

Objeto encontrado (102 Norte)

Sábado (9), às 16h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Confira trechos do livro

A obra musical de Chico Buarque é uma das que mais sensivelmente captam o feminino e melhor o exprimem na música popular brasileira. Por um lado, ela carrega uma visão masculina da mulher numa lírica com contornos, muitas vezes, corporal e sensorial. Por outro, apresenta um ;eu lírico feminino; por meio do qual a fala da mulher emerge de uma perspectiva espantosamente feminina. É a partir das vozes desse ;eu feminino; e de ;eu masculino; que surgem todas as figuras construídas de mulher nas letras de Chico Buarque.

As mulheres ;inventadas; de Chico Buarque de Holanda, ora percebidas por um eu lírico masculino, ora por um eu lírico feminino, protagonizam histórias, cujas narrativas forjam identidades próprias.

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*Estagiária sob a supervisão de Igor Silveira

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