Diversão e Arte

Com The Post, o diretor Spielberg aposta na reconstrução de tema histórico

Fita estreia num momento em que se discute a importância da imprensa e os estragos das fake news para a sociedade. Indicado ao Oscar de melhor filme, o longa narra os bastidores sujos do governo Nixon

Ricardo Daehn
postado em 25/01/2018 07:46
O longa de Steven Spielberg compete em duas categorias do Oscar: Meryl Streep pode ser a melhor atriz
A existência de uma espécie de abatedouro, montado num palco de guerra, sob o consentimento do governo norte-americano, entra em jogo no mais recente filme assinado por Steven Spielberg: The Post ; A guerra secreta. Enquanto soldados lutavam pela vida, no front setentista do Vietnã, uma batalha que envolveu jornais, a Suprema Corte e até a Primeira Emenda (que assegura a democracia) está no centro do longa que foi considerado o filme do ano pelo American Film Institute (instituição que preserva o legado da sétima arte nos Estados Unidos). O filme também recebeu prêmios de ator, atriz e melhor filme, pelo National Board of Review, entidade secular ligada a temas cinematográficos.

Defendendo a existência de apenas uma verdade objetiva, em entrevista ao britânico The Guardian, Spielberg considera a imprensa norte-americana um exemplo. Destaca ainda que hoje há ;um elevado padrão de jornalismo, superior ao de qualquer período;.
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O filme The Post, que, a fundo, trata da liberdade de imprensa, tem sido considerado como um prefácio para o clássico Todos os homens do presidente (1976), segundo o diretor, ;o maior filme sobre jornalismo já feito;. Indicado a oito prêmios Oscar, o longa do diretor Alan J. Pakula tratava do processo que levou à renúncia do presidente republicano Richard Nixon, em 1974, diante do escândalo de Watergate, prospectado pelo faro jornalístico de profissionais do jornal The Washington Post.

Revelações de uma sucessão de governos desonestos contrapostos a princípios idealistas e de virtudes sempre presentes no cinema de Steven Spielberg formatam The Post. Pela primeira vez, se deu no set de um longa a formação de uma tríade de excepcionais profissionais do cinema: Spielberg comandou os atores Tom Hanks e Meryl Streep. O resultado do esforço veio fortalecido com seis indicações ao Globo de Ouro, mas teve comedida repercussão nas indicações ao Oscar: faturou indicações de melhor filme e de melhor atriz (Meryl Streep), apenas.

No filme, o editor do The Washington Post Ben Bradlee (Tom Hanks) vive um impasse, ao lado da primeira mulher editora-chefe do jornal, Katharine Graham (Streep): passada a oportunidade de emplacarem uma notícia avassaladora ; extraída de um estudo com mais de sete mil páginas sobre comportamentos aviltantes que sustentaram uma máquina de guerra no Vietnã e publicada pelo The New York Times ;, ambos devem decidir se apoiam o escoamento, junto aos leitores, de fatos ligados ao vazamento dos ultrassecretos documentos batizados de Pentagon Papers. O estudo sigiloso, com dados colhidos entre 1945 e 1966, foi exposto pelo ex-fuzileiro naval Daniel Ellsberg (Matthew Rhys, no filme).

Poder feminino

No enredo de intervenções políticas e militares manobradas, entre outros, pelo então secretário de Defesa americano, Robert McNamara (papel de Bruce Greenwood), a figura da editora Katharine Graham é decisiva; vale lembrar que, em 1974, ela foi considerada ;a mulher mais poderosa da América;. Na vida real, a executiva, que almoçou com Tom Hanks no dia da morte (em 2001), comandava os efeitos midiáticos de personalidades que fazia questão de ter por perto, entre os quais, o conselheiro nacional de segurança americano Henry Kissinger, além de integrantes das famílias Kennedy e Clinton.

Meryl, com o infalível método de enfrentar a cada papel, ;uma página em branco; na elaboração de personagens, tira de letra as nuances de um dos melhores papeis que teve nas mãos, nos últimos anos. Atriz de cinema há 40 anos, ela ficou encantada com a intuição de Spielberg empregada na criação de uma narrativa visual elaborada.
Quanto as similaridades nas qualidades do real Ben Bradlee e do colega dela Tom Hanks, Streep declarou, à imprensa estrangeira, que saltavam aos olhos "o sabor crocante de uma forte astúcia, notável em ambos; isso além de terem presenças que se faziam notar, sentido-se à frente de todos".
Brilhante na composição da vencedora do Prêmio Pulitzer (ao redigir a autobiografia Personal history), a atriz Meryl Streep celebrou, em entrevistas promocionais de The Post, os "jovens cada vez mais ingressando nas escolas de jornalismo, por todos os Estados Unidos". Entre as benemerecências de Streep estão o apoio (inclusive financeiro) ao Comitê de Proteção a Jornalistas. Mais uma centelha de esperança para os estranhos tempos modernos, que fazem coro à certeza de Spielberg de que "todo o estrago ocasionado hoje (na era Trump) será reversível".
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