Economia

Estrangeiros ditam oscilação do mercado

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postado em 05/08/2008 08:47
Os últimos dois meses exemplificaram bem o peso que os estrangeiros têm nas oscilações da Bolsa de Valores de São Paulo. A saída recorde de capital externo nesse período foi acompanhada por perdas expressivas da Bolsa. Em estudo inédito, o INI (Instituto Nacional de Investidores) apurou o quanto a correlação entre a variação do Ibovespa e os movimentos de aplicações ou retiradas de capital externo é elevada, ou seja, os estrangeiros são a categoria que mais influencia no sobe-e-desce da Bolsa. O estudo considerou um período de 42 meses. A partir dos movimentos de compra e venda de ações de cada categoria e o resultado mensal do índice Ibovespa, o INI demonstrou que as decisões dos estrangeiros coincidem com o resultado (de alta ou de baixa) da Bolsa em aproximadamente 72% do período. Isso significa que, na maior parte dos meses de saldo negativo nas operações dos estrangeiros, como tem ocorrido agora, o Ibovespa teve perdas. Na outra ponta, apareceu a pessoa física como a categoria cujas decisões de aplicações menos coincidem com os ganhos ou perdas apurados pelo Ibovespa -principal referência da Bolsa- em cada mês. "O impacto dos estrangeiros no resultado da Bolsa tem aumentado ainda mais de um ano para cá. O problema é que suas decisões de investimento não sofrem motivações internas. Não é porque uma empresa brasileira teve um balanço muito bom que os estrangeiros vão deixar de vender suas ações", afirma Paulo Portinho, gerente-geral do INI. Os meses de junho e julho foram recordes no que se refere à saída de capital externo. Em junho, os estrangeiros mais venderam que compraram ações no montante de R$ 7,41 bilhões. Em julho, outros R$ 7,78 bilhões líquidos deixaram o pregão da Bolsa. Para o resultado do índice Ibovespa, esse movimento foi devastador: houve queda de 10,4% em junho e nova perda de 8,5% em julho. "O estrangeiro sai, e é a pessoa física quem sofre. Seria bom que o nosso mercado tivesse mais investidores brasileiros de longo prazo para que esses movimentos de entrada e saída de capital externo, muitas vezes irracionais em relação ao o que a economia local vive, tivessem impacto menos intenso", afirma Portinho. Os estrangeiros são a categoria que mais negocia na Bovespa. No ano, respondem por 35,3% das operações. Em segundo lugar aparecem os institucionais (como fundos de pensão), com 28%, e depois a pessoa física, com 25,6%. "Com o aumento da aversão ao risco, eles [os estrangeiros] acabam saindo das ações mesmo. E deve demorar um pouco ainda para o clima mudar e retornarem", diz Álvaro Bandeira, diretor da corretora Ágora. O mercado acionário brasileiro tem sofrido com a piora do cenário internacional. A motivação dos estrangeiros para vender ações não está relacionada a problemas internos, como uma desconfiança político-econômica ou um momento ruim das companhias. O agravamento da crise que começou nos problemas enfrentados pelo setor de crédito imobiliário americano de alto risco, no ano passado, levou investidores internacionais a vender papéis em lugares com bom desempenho para cobrirem rombos lá fora. Parte do capital externo que tem saído das ações tem migrado para títulos públicos brasileiros, que se tornaram mais atrativos com a intensificação do aumento dos juros básicos.

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