Economia

Entrevista - Joseph E. Stiglitz

;

postado em 01/10/2008 08:43
Aos 65 anos, o norte-americano Joseph Eugene Stigliz já foi vice-presidente e economista-chefe do Banco Mundial. Crítico voraz da globalização e do livre mercado, o Prêmio Nobel da Economia em 2001 falou sobre a crise por telefone ao Correio Braziliense, de Copenhague (Dinamarca). Direto e incisivo, culpou os bancos dos Estados Unidos, o presidente George W. Bush e o Federal Reserve (Fed), gestão Alan Greenspan, pela catástrofe que assola a economia imperialista. Stiglitz acredita que as instituições bancárias norte-americanas pagam o preço da incompetente administração de ativos podres e de péssimas tomadas de decisões. Nem mesmo Alan Greenspan, o homem que gerenciou o Fed entre 1987 e 2006, escapou das críticas do economista. Para o Prêmio Nobel, Greenspan escolheu pessoas erradas para gerenciar a política financeira dos Estados Unidos. Apesar de elogiar a ;impressionante; performance econômica do Brasil, Stiglitz alerta que a economia mundial é interdependente e, por isso, o país não está a salvo de sofrer as conseqüências da recessão.

Quem são os Culpados

O Brasil pode sofrer conseqüências graves com essa crise nos Estados Unidos?
A economia mundial é interdependente. O Brasil ainda tem uma performance econômica muito impressionante. Muitas pessoas diriam que o Brasil não é um dos países mais vulneráveis a essa crise. Mas em um mundo onde cada um tem suas obrigações, ninguém está a salvo.

Como o senhor analisa a reação do mercado à recusa do Congresso em aprovar o plano de salvação da economia?

Os mercados são muito voláteis e sempre agem de modo muito intenso. Então, eles sempre respondem a momentos de crise de forma exagerada. Os setores financeiros e o mercado imobiliário nos Estados Unidos estão em baixa porque acreditavam que seriam salvos por Washington e agora eles descobriram que não têm o que esperavam. Por isso, a reação das bolsas de valores não é algo conclusivo.

Se pudesse atribuir culpados por essa imensa crise, quem o senhor apontaria? Os bancos têm total responsabilidade?
A responsabilidade final cabe aos bancos, que gerenciaram mal a situação e claramente administraram de forma incompetente os riscos de ativos podres e deram aos executivos gordos salários para que tomassem decisões extraordinariamente péssimas. Então, a primeira responsabilidade é dos banqueiros. Os segundos culpados são as instituições reguladoras, que não impediram essas tomadas de decisões arriscadas. O Federal Reserve (Fed) também tem sua parcela de responsabilidade, por criar estratégias e delegar a pessoas erradas os poderes de gerenciar políticas regulatórias nos últimos dois anos.

O plano de US$ 700 bilhões é bom o suficiente para salvar a economia norte-americana?
Não, eu me oponho fortemente a esse pacote. Trata-se de um plano muito mal desenhado. Ele não possui respostas como as que grandes planos apresentam. Não oferece mecanismos capazes de salvar os bancos em situações de emergência. Também não disponibiliza soluções para evitar desestímulo da economia e novas falências. Apenas beneficia os gerenciadores de impostos dos Estados Unidos. Por outro lado, esse plano provavelmente é melhor do que nada. Creio que o Congresso norte-americano se recusou a arrumar a bagunça do presidente George W. Bush.

Então parte da crise é culpa de Bush?
Sim, uma boa parte de culpa é do presidente George W. Bush. Os cortes de impostos em 2001 e em 2003, a guerra do Iraque. Tudo isso contribuiu com a crise. A guerra do Iraque, por exemplo, elevou os preços do petróleo e enfraqueceu a economia interna, com os gastos com as forças armadas.

Por que os mecanismos regulatórios dos Estados Unidos não foram hábeis em evitar o colapso econômico?
Basicamente, o problema foi que o ex-presidente Ronald Reagan apontou Alan Greenspan como diretor do Federal Reserve (Fed), com o objetivo de atuar como elemento regulador. Mas Bush não viu o Fed nessa função. Outra questão é que se você precisa de uma melhor regulação do setor financeiro, então são necessários melhores reguladores.

Estamos enfrentando uma ameaça de crise mundial, uma reedição da Grande Depressão de 1929?
É necessário dizer que o mundo detém hoje um maior conhecimento dos problemas econômicos e financeiros do que durante a Grande Depressão de 1929. Mas temos um nível muito alto de confiança nesse conhecimento. Mas eu não acho que o mundo esteja imune a essa crise.

O que é necessário para acalmar o mercado mundial?
O Congresso pode renegociar o acordo. Muitas pessoas acreditam que os congressistas possam renegociar o acordo. Mas creio que essa negociação vá durar mais alguns dias.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação