Economia

Exportação exige venda de reservas

No leilão de dólares, Banco Central aceitará como garantia somente os títulos da dívida externa

postado em 18/10/2008 08:49
O Banco Central relutou o quanto pôde, mas anunciou oficialmente ontem o primeiro leilão de linhas de dólares para financiar os exportadores brasileiros usando recursos das reservas internacionais do país. A operação ; pedida pelo presidente Lula ; será realizada na próxima segunda-feira e movimentará até US$ 2 bilhões. Os bancos que participarem do leilão deverão, obrigatoriamente, financiar o comércio exterior, que vem sofrendo com o fechamento das linhas externas de crédito, devido ao agravamento da crise mundial. O vencimento dos empréstimos foi marcado para 20 de abril do próximo ano, quando o governo espera que os repasses externos já estejam retomados integralmente. Nesse primeiro leilão, o BC aceitará somente um tipo de garantia dos bancos como forma de pagamento pelos dólares: títulos da dívida externa brasileira, os global bonds. Para cada US$ 100 mil arrematados, as instituições terão de entregar ao BC US$ 105 mil em papéis da dívida. Ou seja, um adicional de 5%. Além disso, os compradores terão de pagar uma taxa fixa de juros ; a ser definida na hora do leilão ; mais a variação da libor, que mede o custo do dinheiro no mercado financeiro de Londres. Mas as regras baixadas pelo BC permitem que, em outras operações, sejam aceitas diferentes garantias, como títulos de dívidas de outros países com risco próximo de zero e Adiantamentos sobre Contratos de Câmbio (ACCs) e Adiantamentos sobre Cambiais Entregues (ACEs). Nesses casos, os adicionais de garantias serão maiores, de até 40%. Ao detalhar o formato dos leilões, o presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou que eles só estão sendo possíveis porque o governo brasileiro acumulou reservas nos últimos, processo facilitado pelos grandes fluxos de recursos estrangeiros que migraram para o país. ;A medida é positiva e possível, porque o Brasil possui reservas e pode as endereçar para um problema que é do exterior, mas que reflete em todo o mundo e também no Brasil;, disse. Esse ;seguro contra crises; soma, atualmente, US$ 204 bilhões. Cautela Meirelles assinalou que, se há contração de crédito no Brasil, ela é ainda mais severa nos Estados Unidos e na Europa, cujos mercados foram devastados pelo estouro da bolha imobiliária americana. ;Companhias brasileiras que têm operação no exterior me reportaram que a situação é incomparável. É de quase paralisação em alguns momentos;, contou. Ele ressaltou ainda que a maior parte das operações de comércio exterior do país é feita em dólar. Por isso, o BC optou pelos empréstimos com recursos das reservas internacionais. Apesar da confiança demonstrada pelo presidente do BC no sucesso dos leilões, a reação do mercado foi de cautela. Segundo o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, o modelo optado pelo BC não traz nenhum atrativo, uma vez que, mesmo estando restrito, o mercado internacional de crédito têm liberado linhas de financiamento garantidas em bônus da dívida. Essas operações são chamadas de rope, em inglês. ;Além disso, nos empréstimos de mercado o dinheiro captado pode ser usado livremente, ao contrário da linha do BC;, destacou. ;Mas vamos esperar para ver a demanda;, frisou. Na avaliação de Patrícia Bentes, diretora da Hampton Solfise, os bancos privados estão reticentes em assumir riscos, porque não sabem onde a crise vai parar. Portanto, será importante que o Banco do Brasil, o maior financiador do comércio exterior do país, entre pesado nos leilões para estimular a concorrência. A presença ostensiva do BB nos leilões do Banco Central é uma determinação do ministro da Fazenda, Guido Mantega, defensor ferrenho do uso das reservas internacionais do país para socorrer os exportadores. ;Não haverá limite no total de dólares que será vendido às instituições financeiras para que façam empréstimos aos exportadores. É aquilo que for necessário. E, dessa maneira, estaremos garantindo a continuidade das exportações;, afirmou o ministro em entrevista ao Bom Dia Brasil, da TV Globo.

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