Economia

Classe C invade os cruzeiros

Combinação de dólar baixo e pacotes curtos faz com que a nova classe média descubra as viagens a bordo de transatlânticos

postado em 19/04/2010 08:19
A nova classe C está turbinando o mercado de cruzeiros marítimos. A combinação de dólar baixo com os chamados ;minicruzeiros;, que são os pacotes de menor duração, de três a quatro dias e, portanto, mais baratos, fez com que o setor experimentasse um boom na temporada 2009/2010. Tanto que, pela primeira vez, os navios ficarão ancorados na costa brasileira até maio, estendendo o período de permanência no Brasil para cerca de oito meses, o que nunca tinha acontecido. E a receita será repetida no ano que vem, garantem os empresários.

Na temporada 2009/2010, houve um salto de 66% em relação ao número de viajantes do período anteriorOs números para comprovar o crescimento do setor são significativos. Na temporada 2009/2010, chegaram ao Brasil 28 navios. Foram fechados 407 cruzeiros para diversos destinos. A previsão da Associação Brasileira de Representantes de Empresas Marítimas (Abremar) é que quase 900 mil cruzeiristas aproveitem as férias a bordo, saldo 66% maior que o registrado na temporada anterior, que movimentou US$ 342,34 milhões.

A participação dos minicruzeiros nos negócios da MSC Cruzeiros saltou de 10% para 30% nos últimos três anos. A participação da classe C cresceu na mesma proporção, afirma Adrian Ursilli, diretor comercial e de marketing da empresa. ;A nova classe média descobriu os minicruzeiros, ideais para esse público, já que os pacotes são mais acessíveis do que as viagens de seis ou sete noites;, ressalta. Segundo ele, há até pouco tempo, a temporada dos navios no Brasil era de três meses.

Só nos quatro navios da CVC embarcaram 120 mil passageiros na temporada 2009/2010. Para a próxima, com início em novembro, serão cinco transatlânticos, com a meta de atingir 150 mil pessoas. Segundo a operadora, os preços estarão 15% mais baixos em comparação com a temporada atual.

Queda de braço

Empresários do segmento de resorts e do setor hoteleiro em geral, porém, reclamam da concorrência desleal (1)dos cruzeiros marítimos. Eles argumentam que essa modalidade de turismo tem condição privilegiada em vários quesitos, como na parte tributária e trabalhista. ;A gente apanhou muito deles. Houve grande perda de mercado. A sorte é que, no último e penúltimo verão, eles se posicionaram tão baixos que pegaram as classes B menos e C mais, aumentando a concorrência com os hotéis três estrelas. A nossa é B mais para cima;, afirma Rubens Regis, presidente da Resorts Brasil.

Tendo os cruzeiros como concorrentes diretos, a perda de tráfego do setor de resorts chegou a 18%, aponta Regis. ;A combinação dólar baixo mais navio é mortal. Não há dúvida de que oferecem um serviço de qualidade, mas têm condições privilegiadas;, compara. Uma delas, segundo Regis, é que, enquanto os resorts e os hotéis brasileiros têm a obrigação de ter funcionários em três turnos, os navios só têm dois. Além disso, as empresas de cruzeiros registram os funcionários em qualquer lugar, comenta, onde a legislação trabalhista é mais flexível. ;Em um resort, a folha de pagamento representa de 30% a 40% do custo;, afirma Regis.

Prejuízo

Mas não é consenso que os cruzeiros sejam sinônimo só de benefícios. Há impasses nas questões trabalhistas. Tanto que, pela primeira vez, todos os navios que atuam na cabotagem nacional tiveram que ter 25% de brasileiros contratados entre a população. A exigência é da Resolução Normativa n; 71, do Ministério do Trabalho. Assim, a temporada de 2009/2010 gerou cerca de quatro mil empregos para brasileiros em 15 navios que passaram pelo litoral do país. O ministério, porém, admite que o trabalhador brasileiro pode ter prejuízo com a regulamentação vigente para os cruzeiros marítimos. Isso porque, se trabalhar em cruzeiros que ultrapassem a costa brasileira, o funcionário pode ser submetido às regras trabalhistas internacionais, que são muito mais brandas para as empresas.

;A resolução permite tal contratação, desde que os brasileiros trabalhem também na temporada europeia. No entanto, os contratos internacionais oferecem aos empregados um conjunto de direitos muito inferiores à CLT. Além disso, nos casos em que os trabalhadores se sentem prejudicados, é mais difícil recorrer à Justiça e, também, torna limitada a ação dos órgãos estatais brasileiros;, alertou o auditor-fiscal do trabalho Rinaldo Almeida.


1 - Atividades distintas
No fim de 2008, foi instituído um Grupo de Trabalho de Turismo Náutico para avaliar os impactos do segmento. Segundo Rosiane Rockenbach, coordenadora-geral de serviços turísticos, o ministério não considera os cruzeiros como concorrentes do setor hoteleiro e dos resorts. ;O cruzeirista não entende o navio como meio de hospedagem ambulante. São atividades diferentes. Não são concorrentes;.

Ascensão em alto mar

Temporada de cruzeiros 2009/2010

28 navios
407 cruzeiros
900 mil viajantes

Crescimento do mercado: 33% ao ano, em média
4 mil tripulantes, sendo que 25% da tripulação são brasileiros
45 mil empregos diretos e indiretos
Consumo a bordo: US$ 37,1 milhões*
Faturamento do setor: US$ 342,34 milhões*
Vendas de pacotes: US$ 305,25 milhões*

*dados da temporada 2008/2009

Fonte: Abremar

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