Economia

Operação casada garante compra da Vivo pela Telefônica e entrada da Portugal Telecom na Oi

postado em 29/07/2010 07:50
Doze anos depois da privatização do Sistema Telebrás e de uma longa novela que envolveu as gigantes das telecomunicações Telefônica, Portugal Telecom e Oi, as empresas anunciaram ontem um acordo para fechar duas importantes operações no Brasil. A primeira delas é a compra pela Telefônica da participação da Portugal Telecom na maior empresa de celular brasileira, a Vivo, velho objeto de desejo. Esse negócio dará fôlego à segunda operação: a compra das ações da BNDESPar e de fundos de pensão de empresas estatais ; Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa) ; na brasileira Oi pela Portugal Telecom, satisfazendo a vontade da companhia portuguesa de permanecer no mercado do país.

A decisão da Portugal Telecom de sair da Vivo aconteceu depois que a Telefônica ; que já era acionista da empresa brasileira ; aumentou pela terceira vez a sua oferta pela participação do grupo português na operadora de telefonia móvel. A venda foi fechada em 7,5 bilhões de euros (R$ 17,2 bilhões), garantindo à Telefônica 60% do capital total da Vivo e 88% do capital votante.

Segundo comunicado da Oi, a companhia portuguesa vai agora pagar até R$ 8,44 bilhões para obter uma participação total, em termos de valor econômico, de 22,4% na Telemar Norte Leste, braço operacional do Grupo Oi. Como estão previstos aumentos de capital, a Brasil Telecom terá, na prática, 10% do controle por meio de participação direta na Telemar Participações. A empresa brasileira, por sua vez, terá 10% de participação na portuguesa, que custará R$ 1,8 bilhão aos cofres da Oi.

Em maio, os espanhóis já tinham feito uma proposta para adquirir o controle da Vivo, mas o próprio primeiro-ministro português, José Sócrates, bloqueou a operação. Ele quis assegurar que a Portugal Telecom entrasse na Oi antes de deixar a Vivo e manifestou sua preocupação em conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o aval do premier português, os acionistas da Brasil Telecom chamaram os sócios controladores da Oi para uma negociação, na semana passada.

;Nos convidaram para ter uma reunião, fomos a Lisboa, nos encontramos na quarta-feira à noite e nos reunimos até sábado, onde concluímos ser possível fazer essa associação. Fui eu e o Pedro Jereissati (presidente da Telemar Participações e acionista do grupo Jereissati);, disse ao Correio o presidente da holding Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Os grupos Andrade Gutierrez e Jereissati continuarão como controladores da Oi. A entrada da Portugal Telecom no negócio se dará por meio de compra de uma fatia da participação da BNDESPar e dos fundos de pensão. Haverá também aumentos de capital na Telemar Participações, na Tele Norte Leste (TNL) e na Telemar Norte Leste (TMar).

Segundo Azevedo, futuramente, a Brasil Telecom e a Oi pretendem investir no Programa Nacional de Banda Larga brasileiro, uma prioridade do governo Lula e da candidata à Presidência Dilma Rousseff. Será feita também uma joint-venture entre as duas empresas para investimentos em outros países da América Latina e na África, que já está recebendo apelidos criativos de analistas. ;Como esperado, pouco tempo depois de criada, a supertele nacional (;) dará espaço à LusoFone;, diz relatório divulgado ontem pela Link Investimentos.

Consumidor
O valor dos papéis (1) da Oi caiu ontem após o anúncio, movimento que analistas atribuíram ao temor de acionistas minoritários de que suas ações se diluíssem após o aumento de capital. ;Independentemente da queda nas ações, a Oi se tornará uma marca mais forte, afinada com os planos de internacionalização do governo brasileiro. Para a Brasil Telecom é importante, num momento em que a economia portuguesa está passando por problemas, ter um investimento diversificado em outro mercado, o Brasil. E a Telefônica poderá avançar na convergência das operações de telefonia celular e fixa;, diz o sócio da Brand Analytics, Eduardo Tomiya.

Ainda não há consenso entre os analistas sobre os efeito para o consumidor das operações. ;Este setor precisa de muitos investimentos e a competição entre grandes grupos pode ser positiva para o consumidor;, acredita o sócio da Tendências Consultoria Adriano Pitoli. Para o ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros, é importante que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) exerça o papel de garantir que a operação resulte em ganho para o consumidor. ;Vejo com bons olhos as operações. Mas, ao dar anuência aos negócios, a Anatel deveria aplicar condicionantes para proteger o consumidor;, afirma.

1 - Mercado
As ações ordinárias (com direito a voto) da Telemar (holding) tombaram 15,99%, a R$ 35,20. As preferenciais caíram 11,21%, a R$ 27,17, Já as da Telemar Norte Leste (operadora) PNA recuaram 8,55%, a R$ 48,01. As ON da operadora caíram 7,37%, a R$ 62,99. A ação preferencial da Vivo teve alta de 3,95%, para R$ 48,15. As ações ordinárias (ON), com direito a tag along para os minoritários, dispararam 10,77%, para R$ 108. A Vivo teve lucro líquido de R$ 236 milhões no segundo trimestre, que corresponde a uma alta de 29,9 % em relação ao mesmo período de 2009.


Ouça a entrevista com o presidente da Holding Andrade Gutierrez, Otávio Andrade, sobre a venda de parte da Oi para a Portugal Telecom

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