Economia

Rússia perde 25% da safra

Onda de calor afeta principal região agrícola. Terceiro maior exportador de trigo do mundo, o país suspende vendas externas do cereal neste mês. Preço do pão em Moscou tem alta de 20%

postado em 13/08/2010 08:17
Moscou ; A Rússia perdeu quase 25% das plantações de cereais este ano, em consequência da seca e da onda de calor que assolam o país, declarou o presidente, Dmitri Medvedev, segundo a agência Interfax.

;Estamos em uma situação muito difícil, porque cerca de um quarto da colheita de cereais do país se perdeu;, afirmou Medvedev, durante reunião em Taganrog (sudoeste), na região agrícola de Rostov. ;Lamentavelmente, muitos produtores estão à beira da falência por causa da perda das colheitas;, acrescentou.

;O governo entende a situação, já a conhece e ; espero ; a tem sob controle. Decisões financeiras já foram tomadas em relação a uma ajuda que será dada aos agricultores, que estão em situação crítica;, disse o presidente, referindo-se a um pacote de 35 bilhões de rublos (US$ 1,15 bilhão).

Os produtos derivados dos cereais foram as primeiras vítimas da grave seca que castiga a Rússia desde abril, agravada ainda mais desde julho, com uma onda de calor sem precedentes.

O governo chegou a decretar estado de emergência em 27 das 83 regiões do país, a maior parte delas situadas na parte europeia do território russo, onde as terras são muito férteis. Na segunda-feira, a Rússia voltou a revisar para baixo as estimativas de produção de cereais, reduzindo as 90 milhões de toneladas habituais para entre 60 e 65 milhões de toneladas. O consumo anual de cereais na Rússia é de 78 milhões de toneladas.

No início da semana, o primeiro-ministro Vladimir Putin destacou que as reservas do país ; 9,5 milhões de toneladas, acumuladas em um fundo de intervenção, e 21 milhões de toneladas de excedente do ano passado ; devem bastar para compensar a queda na colheita deste ano.

Consequências
No entanto, os efeitos da catástrofe natural já começaram a ser sentidos no mercado interno, com uma disparada dos preços do pão na capital russa em questão de poucos dias. O preço do pão redondo tradicional de 380 gramas, vendido nos mercados de Moscou, aumentou cerca de 20%, passando dos habituais 15 rublos (US$ 0,50) para 18 rublos (US$ 0,60).

Terceiro maior exportador de trigo do mundo, a Rússia já havia anunciado na semana passada uma suspensão das exportações deste cereal e de seus derivados a partir de agosto, decisão tomada em função da perda dos cultivos.

Esste anúncio fez com que os preços do trigo no mercado mundial atingissem níveis recorde, depois de uma série de aumentos consecutivos ao longo das últimas semanas. No ano passado, a Rússia exportou 21,4 milhões de toneladas de cereais.

Também ontem Medvedev suspendeu o estado de emergência em três das sete regiões afetadas pelos incêndios florestais, de acordo com a agência Itar-Tass. ;Assinei o decreto que modifica o estado de emergência, que será suspenso em Vladmir, Voronezh e Marii El, mas será mantido em Mordóvia, Moscou, Nizhni Novgorod e Riazan;, informou o presidente.

Indústria cai na Zona do Euro
A produção industrial da Zona do Euro diminuiu em junho, com queda na atividade da França e da Alemanha, mas o bom desempenho do segundo trimestre como um todo sugere que os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do bloco serão robustos. A produção encolheu 0,1% na comparação mensal, de acordo com dados da agência de estatísticas Eurostat. Em abril e maio houve forte crescimento. Em relação a junho do ano passado, a produção se expandiu 8,2%. Analistas consultados pela Reuters previam um avanço mês a mês de 0,7% e uma alta anual de 9,3%. Depois da série recente de dados positivos sobre a economia dos 16 países que compartilham o euro, os números da produção industrial indicam uma desaceleração no final do último trimestre. Porém, os dados são voláteis, e os relatórios sobre o terceiro trimestre têm sido otimistas.

O número
US$ 1,15 bilhão
Pacote de ajuda aos lavradores vítimas da grave seca que assola o país desde abril


Alimentos apodrecem

Caracas ; A descoberta de milhares de toneladas de alimentos em decomposição, que foram importados pelo governo, deixou em polvorosa a Venezuela, onde a oposição exige uma ;investigação séria; e a situação denuncia uma ;campanha de manipulação; ante as próximas eleições.

Desde o começo de junho foram encontradas milhares de toneladas de alimentos ; arroz, farinha de trigo, massa, entre outros ; em estado de decomposição em armazéns estatais, portos e depósitos de todo o país, importadas pela empresa estatal DVAL sem nunca terem sido distribuídas.

Segundo opositores do governo de Hugo Chávez, são mais de 130 mil toneladas de alimentos decompostos, o que representaria perdas de US$ 8 bilhões para o Estado. ;Jogar comida fora é um pecado, mas deixá-la apodrecer não tem perdão de Deus;, comentou à AFP a dirigente Delsa Solórzano, que participa de uma equipe da oposição que investiga o caso à margem do Parlamento, onde a comissão formada não entregou resultados até agora.

O governo reconhece que apenas 30 mil toneladas de alimentos estão em ;não conformidade; nos depósitos da PDVAL, uma rede de compras e distribuição sob a administração da petroleira estatal PDVSA, mas que depois do escândalo foi transferida para o Ministério da Alimentação.

;Eles multiplicaram isso por um milhão (...), mas se quiserem conseguir algo podre, eles mesmos são o que este país tem de mais podre;, alfinetou recentemente o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao criticar a reação da oposição. ;O que pretendem é gerar nestes meses a maior quantidade de problemas, a guerra midiática, o terrorismo midiático, manipulando cifras e exagerando nossos erros;, comentou Chávez.

Escassez
O presidente da PDVSA e ministro do Petróleo, Rafael Ramírez, insistiu em que as denúncias são ;uma manipulação política ante as eleições; legislativas de 26 de setembro, que serão cruciais para o governo, que quer manter pelo menos dois terços da maioria no Congresso unicameral. Na Venezuela, cuja economia está em recessão com inflação de 18% em julho, muitos produtos da cesta básica ficam escassos por temporadas.

O governo Chávez criou a PDVAL no começo de 2008 para importar e distribuir alimentos a preços subsidiados, justo em um momento em que a Venezuela enfrentava a escassez de alguns produtos. ;Já detectamos as falhas e os mecanismos de controle foram melhorados. Aumentou-se a distribuição de alimentos para ajudar a que a PDVAL possa ter uma rápida rotação de produtos armazenados;, explicou o vice-presidente Elías Jaua.

A promotoria abriu uma investigação sobre o caso e já estão detidos o ex-presidente da rede, Luis Pulido, e outros dois de seus altos diretores. Mas a oposição considera haver uma ;rede de responsáveis; que transcende estes três envolvidos e aponta Ramírez por envolvimento em atos de corrupção relacionados com as importações da PDVAL.

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