Economia

Meirelles sai da defensiva

Para o presidente do Banco Central, analistas não devem usar documentos da instituição na tentativa de prever o futuro da taxa de juros

postado em 14/08/2010 07:00


Mariana Mainenti
Enviada especial

Para o presidente do Banco Central, analistas não devem usar documentos da instituição na tentativa de prever o futuro da taxa de jurosSão Paulo ; Depois de semanas de silêncio e de uma coleção de críticas, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, saiu ontem em defesa do Comitê de Política Monetária (Copom), acusado por economistas do mercado de ter errado ao optar, recentemente, pelo aumento de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em vez de 0,75 ponto. Segundo Meirelles, houve um ;mal-entendido; de muitos analistas acerca do último relatório trimestral de inflação e das recentes atas das reuniões do Copom. Para ele, os documentos estão sendo lidos como indicadores do futuro, quando, na verdade, são um retrato do momento em que foram divulgados ou decisões, tomadas.

O presidente do BC destacou que o mercado se baseou na ata da reunião do Copom de 9 de junho, publicada uma semana depois, dia 17, e no relatório de inflação liberado no fim daquele mês para montar cenários para o encontro de julho do Comitê. ;Muitos analistas viram o relatório 15 dias antes como uma sinalização da próxima reunião. E o relatório não tem essa finalidade;, afirmou, durante a abertura do V Seminário sobre Riscos, Estabilidade Financeira e Economia Bancária. Ele destacou que o que coordena as expectativas de inflação do mercado são as metas de inflação e não as reuniões do Copom, numa tentativa de enterrar os ruídos criados entre o BC e os analistas.

;Muitos disseram que o fato de que muitos analistas não previram exatamente aquilo que o BC decidiu significa que o BC coordenou mal as expectativas. Vamos definir, senhoras e senhores: no sistema de metas de inflação, a coordenação de expectativas é a coordenação de expectativas de inflação, não do que é a próxima decisão do Copom;, afirmou Meirelles. Para ele, é ;útil, positivo e desejável; que o maior número possível de analistas tenha a possibilidade de prever o resultado da próxima reunião. ;Mas não é essa a finalidade que deve constranger a decisão. Por quê? Porque a decisão deve ser pautada pelas expectativas de inflação e, mais importante, a inflação de fato medida.;

Independência
Segundo o presidente do BC, o relatório de inflação é uma ;expansão, em última análise, da ata; e é publicado em ;um cronograma absolutamente adequado e, na realidade, um dos mais curtos do mundo;, mas não tem a pretensão de ser feito em tempo real. ;O relatório de inflação refere-se a uma determinada situação específica. Existem bancos centrais que emitem a ata depois da reunião do Comitê de Política Monetária seguinte, exatamente para evitar essa tentativa de visão on-line, de que a ata está dizendo o que está acontecendo hoje;, disse.

Para ele, pode ser que, no futuro, talvez todos os analistas possam acertar as previsões. Mas isso dependeria de a economia brasileira ser totalmente previsível, o que não é possível na situação da economia mundial hoje. ;A economia brasileira tem um certo nível de volatilidade. Mas não há dúvida de que estamos em trajetória de crescimento. Não há na economia brasileira risco de deflação ou de recessão;, acrescentou. O presidente do BC aproveitou a ocasião para classificar como positivo o fato de o debate eleitoral trazer o tema da autonomia do BC para o centro das atenções.



"Vamos definir, senhoras e senhores: no sistema de metas de inflação, a coordenação de expectativas é a coordenação de expectativas de inflação, não do que é a próxima decisão do Copom;
Henrique Meirelles, presidente do Banco Central

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