Economia

Taiwan reclama de descaso brasileiro

País asiático volta a ter intercâmbio comercial com o mundo, mas segue ignorado por líder sul-americano nos negócios externos

postado em 15/08/2010 10:42
Cada vez mais perto da China, Taiwan ainda permanece mais distante do que gostaria do Brasil. A crise financeira mundial fez com que chineses e taiwaneses deixassem sua histórica animosidade de lado e fizessem uma pragmática aproximação comercial nos últimos dois anos. Após fechar cinco acordos de cooperação com a ilha, o gigante asiático já é o maior parceiro comercial de Taiwan, superando os Estados Unidos. Mas o governo de Taipé ressente-se de que, com o Brasil, as questões políticas ainda sejam vistas como empecilho para fazer crescer as oportunidades de negócios.

;Taiwan é o décimo-segundo parceiro comercial do Brasil, mas nosso potencial é muito maior do que isso. A maioria dos negócios taiwaneses no Brasil são iniciativa exclusiva dos civis. O governo não tem nenhum papel. Se, sem o apoio do governo brasileiro, já temos esse logro, imagine se tivéssemos cooperações governamentais?;, indaga o diretor da Divisão de Informações do Escritório Econômico e Cultural de Taipé no Brasil, Luis Fong, em visita ao Correio.

Em 2009, as exportações de Taiwan para o Brasil somaram US$ 2,41 bilhões e as importações, US$ 960 milhões. De acordo com o Itamaraty, são satisfatórias as relações econômicas com Taiwan. O Brasil mantém, na capital do país, um escritório de representação comercial, por meio do qual participa de eventos de promoção comercial na ilha e incentiva o intercâmbio entre empresários. Contudo, isso é pouco para o apetite dos taiwaneses, que veem o crescimento da economia brasileira como alternativa importante de diversificação para os investimentos, num momento em que os mercados tradicionais, como Estados Unidos e Europa, estão em declínio. O governo de Taipé gostaria de fechar acordos oficiais de cooperação econômica com o Brasil.

Nova política
O atual presidente taiwanês, Ma Ying-jeou, abandonou a política pró-independência de seu antecessor e mantém uma aproximação com a China desde que assumiu o governo, em 2008. Depois de fechar acordos em cinco áreas com o vizinho, agora negocia um tratado mais amplo, que implicaria em redução a zero de algumas barreiras tarifárias. O passo, na avaliação do governo de Taiwan, foi fundamental para a sobrevivência econômica da ilha, pois as vendas para a China e Hong Kong ; que correspondem hoje a 41% do total das exportações de Taiwan ; estavam sendo prejudicadas pela concorrência dos países que compõem o bloco Asean, sigla em inglês da Associação das Nações do Sudeste Asiático, que já consegue exportar 90% de seus produtos com tarifa zero para o território chinês.

;Estávamos quase em uma situação de isolamento, à margem, sem nenhum espaço no mercado tanto politicamente como economicamente. Nós nos questionávamos sobre qual seria o nosso futuro. Por isso, o governo atual adotou uma política pacífica de diálogo com a China;, explicou Fong.

A aproximação com a China deu fôlego à economia taiwanesa, cuja estimativa de crescimento agora está em 6,14% para 2010. O estreitamento também veio seguido de uma intensificação das trocas comerciais com outras regiões. No passado recente, a proximidade de algum país com a ilha poderia gerar um indesejável afastamento da China ; parceiro obrigatório nos dias de hoje, por seu papel de alavanca do crescimento mundial. Mas o novo cenário vem fazendo com que mesmo os países que não reconheciam a existência de Taiwan tenham passado a tê-lo como alvo de intercâmbio comercial.

Exceção
Segundo Fong, os negócios de seu país vêm se intensificando também na América do Sul. ;Ainda que não tenhamos relações diplomáticas, temos tido contato muito úteis no Peru, no Chile e na Argentina. Com o Paraguai e os países centro-americanos, temos relações diplomáticas e bastante cooperação;, relata. Mas o Brasil continua mantendo-se como exceção nesse movimento de intensificação das trocas comerciais. ;Não temos nenhum diálogo com o governo brasileiro.; E lembra que o mundo inteiro está tratando de ter uma eficiência e exportar o mais rápido possível. ;Com a China, temos um tempo médio de 3,6 dias para exportar uma carga; com a Dinamarca, 0,6; com o Chile, 1,6; aqui (Brasil) são 5,6 dias;, exemplificou. ;O Brasil, como país que será uma das cinco maiores potências em breve, deveria prestar mais atenção a outros mundos;, protestou.

Conflito histórico
A posição brasileira é de defesa do princípio da China única e não reconhece Taiwan como país. Por isso, não mantém relações diplomáticas oficiais com a ilha. Embora tenha feito um movimento de aproximação com os chineses, o atual presidente da ilha é do Kuomintang, partido político que a governa desde os anos 1970. Ma Ying-jeou é o sétimo integrante da legenda a exercer a Presidência.

O Kuomitang, historicamente, defende a tese de ;uma China e dois sistemas;, proposta por Pequim em 1986. Por essa proposta, Taiwan poderia manter suas forças armadas e o parlamento, além do próprio capitalismo. Mas a política externa e a defesa nacional ficariam a cargo do gigante asiático.

Pela Constituição chinesa, escrita depois da vitória aliada sobre o Japão, em 1946, a ilha e o continente formam um só país. A integridade do território era defendida pelo próprio general chinês Chiang Kai-shek. Mas, em 1949, ele perdeu o poder para os comunistas de Mao Tse-tung e os nacionalistas do Kuomintang refugiaram-se, então, em Taiwan.

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