Economia

Ipea terá novo comando

O ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos não faz mais segredo que tirará o petista Márcio Pochmann do instituto de pesquisa

Rosana Hessel
postado em 13/02/2011 08:50
Márcio Pochmann está com os dias contados na Presidência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE). O economista petista, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), não faz parte dos planos do ex-senador Moreira Franco (PMDB-RJ), que assumiu a SAE em 4 de janeiro. O ministro deixa claro que pretende trocar o comando do Ipea. "Não nego que, em breve, haverá mudanças", confidenciou Franco ao Correio. O órgão de pesquisa vem sofrendo uma debandada de suas melhores cabeças nos últimos anos. Esse movimento, existente já há algum tempo devido ao aumento da desconfiança sobre a autonomia do instituto, tem se intensificado desde a mudança do governo. Moreira Franco reconhece a fuga de cérebros para outros órgãos, mas nega disputa políticaMais de uma dezena de especialistas foi requisitada para integrar o quadro de vários ministérios, como os da Ciência e Tecnologia, da Fazenda e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Até estatais locais, como a Terracap, do Governo do Distrito Federal, tem buscado pessoal em seus quadros. Vários desses servidores chegam a aguardar mais de um mês para serem cedidos a outros organismos públicos. Como se sabe nos corredores da sede do Ipea, no Bloco J da Quadra 1 do Setor Bancário Sul, em Brasília, o órgão é alvo de mais uma queda de braço entre o PT e o PMDB, agora na disputa pelos cargos de segundo escalão. Pochmann, ligado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, está engavetando as requisições de funcionários para negociar sua permanência no instituto. Insatisfação Enquanto isso, o clima de insatisfação tem se alastrado pela Esplanada dos Ministérios. Alguns processos de transferência, que deveriam ter o trâmite normal, só são desatados após a intervenção de autoridades do primeiro escalão. Procurado pelo Correio, Pochmann não deu retorno. Moreira Franco tentou contemporizar, negando que exista uma disputa política envolvendo o Ipea. Ele reconheceu, entretanto, que há um número excessivo de especialistas do instituto sendo requisitados por ministérios e outros órgãos de governo. "Acho louvável o esforço de Pochmann de tentar reter os funcionários. Um servidor que é cedido continua na folha de pagamento e isso acaba sendo um custo enorme para o instituto", disse o ministro. Ele preferiu despistar quando o assunto são as especulações que circulam no órgão. "Não existe um movimento de sabotagem para travar as requisições." Aparelhamento O Ipea tem perdido importância desde a chegada de Márcio Pochmann, em 2007, depois que ele sucedeu o urbanista Luiz Henrique Proença Soares. Quando o economista assumiu o comando, demitiu vários especialistas que não se adequaram perfeitamente à linha autointitulada desenvolvimentista do ministro Guido Mantega. Desde então, os críticos veem sua gestão como a responsável pelo aparelhamento do órgão, que teria se transformado numa mera máquina de propaganda do governo, divulgando trabalhos pouco confiáveis. Estudiosos passaram a receber com reservas as pesquisas, feitas sob medida para louvar a administração petista. Com a investida, Pochmann jogou no chão a própria credibilidade como acadêmico outrora respeitado.

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