Economia

FMI cobra de Sarkosy ação imediata para conter a sangria de bancos europeus

Vera Batista
postado em 09/10/2011 08:10
Sob intenso ataque dos mercados, os bancos europeus vão precisar de pelo menos 200 bilhões de euros de reforço de capital para saírem do atoleiro. A estimativa foi feita ontem pela diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, após conversa, em Paris, com o presidente francês, Nicolas Sarkozy. O encontro foi uma prévia para a reunião que ele terá hoje com a chanceler alemã, Angela Merkel, em busca de um plano definitivo para salvar o sistema financeiro da Zona do Euro. A maior parte das instituições da região está superexposta às dívidas de países em sérias dificuldades, como Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Irlanda.

As divergências entre Sarkozy e Merkel sobre a melhor forma de socorrer os bancos são visíveis e só reafirmam a falta de liderança na região para estancar a sangria que está empurrando a economia global para a recessão. Paris está ansiosa para recorrer aos 440 bilhões de euros do fundo de resgate da Zona do Euro (o EFSF, em inglês) para ajudar as próprias instituições. Já Berlim insiste que o fundo deve ser o último recurso para resgatar a saúde do sistema financeiro, que, três anos atrás, já havia recebido trilhões de euros para não quebrar.

Não à toa, os especialistas afirmam: quando tudo cai em desordem, os comandados sempre recorrem a seus líderes para saber aonde ir ou o que fazer. Mas o fiasco da reação à crise global por parte dos dirigentes das principais economias mundiais fez ruir essa crença. Em períodos como o atual, em que a ponta mais visível é o risco de calote da Grécia, a falta de comando fica evidente. Previsíveis, governantes e dirigentes de organismos multilaterais vêm repetindo diagnósticos semelhantes sobre as turbulências que se arrastam desde 2008, quando estourou a bolha imobiliária norte-americana.

Nicolas Sarkozy e Christine Lagarde tentam chegar a um acordo para pôr fim à crise que já dura três anos

Mas tanto o presidente norte-americano, Barack Obama, quanto Angela Merkel e Sarkozy, os mais influentes, dão seguidas provas de incapacidade de negociar soluções para tirar o planeta do atoleiro. Esse, inclusive, é um dos motivos de o apoio popular a eles ter desabado rapidamente. Eleitos por conjunturas domésticas específicas, o insucesso desses governantes está contaminando as expectativas e fazendo derreter as bolsas de valores mundo afora.
Despreparo

No caso europeu, as evidências do desmoronamento eram claras. ;O euro foi construído sobre a arrogância de tecnocratas, que diziam ter tudo calculado, e sofre hoje por não ter sido fruto de uma negociação política;, avalia o professor Thomas Trebat, diretor executivo do Instituto de Estudos para a América Latina, da Universidade de Columbia, em Nova York. Ele concorda com a avaliação da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que a crise econômica, sobretudo a europeia, é de liderança. ;Enquanto as coisas estavam bem na Zona do Euro, a coesão entre os países parecia no auge. Ninguém queria ver desequilíbrios internos, como os da Grécia, até que os problemas apareceram;, lembra Trebat. A seu ver, ante os desafios atuais, Merkel e Sarkozy não são líderes preparados para lidar com períodos assim, muitos incertos.

A questão fundamental na Zona do Euro é que a união monetária descasada de integração política deixou os membros mais frágeis da União Europeia sozinhos na hora do apuro ; exemplo disso é a Itália, que resolveu apelar para ajuda da China e até da América Latina. ;Se o Piauí ou o Rio Grande do Sul quebrassem, a União socorreria por mecanismos institucionais e quase automáticos. Por essa razão, nenhum estado dos EUA ou do Brasil ameaça declarar independência;, pondera Trebat. É por essa lógica que a chefe do governo alemão enfrenta sérias dificuldades em convencer os cidadãos germânicos da necessidade de arcarem com os deficits dos vizinhos gregos. ;A festa acabou e começou a briga para ver quem paga a conta;, observa.

Considerando o pacto federativo norte-americano e a limitada influência doméstica da Casa Branca, a situação de Obama é ;um pouco melhor;, diz Trebat. Mas ele lamenta que o presidente se mostre hesitante, preferindo negociar com seus rivais. ;Faltou garra e cacife para ele impor sua política;, resume o professor. Na sua visão, os EUA têm capacidade fiscal de longo prazo, mas padecem mais com a estratégia do Partido Republicano de criar dificuldades para vencer os democratas em 2012. A situação do recente impasse entre o Executivo e o Legislativo é o maior exemplo: quase levou ao impensável calote da dívida norte-americana. Por conta da postura oportunista de parlamentares, a maior potência do mundo chegou muito perto da moratória pouco antes da explosão da crise europeia.

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