Economia

Desvalorização da moeda venezuelana entra em vigor

Analistas afirmaram que a medida terá um impacto negativo na inflação do país

Agência France-Presse
postado em 13/02/2013 16:12
Caracas - O governo venezuelano relatou normalidade no fornecimento de divisas após a entrada em vigência nesta quarta-feira da desvalorização da moeda oficial, o bolívar, que passou de 4,30 a 6,30 por dólar, informou o ministro de Planejamento e Finanças, Jorge Giordani. "O regime cambial continua no sistema administrado de divisas. (...) Já a política foi modificada com essa taxa de 4,30 para 6,30. Estamos operando em completa normalidade durante todos estes dias", disse Giordani ao canal oficial VTV.

O decreto de modificação da taxa de câmbio se tornou efetivo ao ser publicado na Gazeta Oficial, depois que o governo anunciou a medida na sexta-feira, a primeira deste tipo desde 2010 e muito esperada pelos analistas. Os venezuelanos, que vivem sob um estrito controle do câmbio desde 2003, saíram às compras de eletrodomésticos ou passagens aéreas durante o Carnaval para proteger seu dinheiro de uma alta de preços, após a desvalorização.

O ministro da Indústria, Ricardo Menéndez, afirmou que não é verdade que, "como há um ajuste cambial, então os preços de todos os produtos devem ser ajustados novamente". O governo realizou uma operação de inspeção que levou ao fechamento de alguns comércios pela remarcação de preços, enquanto pedia à população para "não comprar produtos que não precisem". O governo também criou no Twitter a hashtag "#especuladorcambiario" para que as pessoas denunciem quem aumentar o preço de seus produtos.

O canal VTV iniciou uma campanha destacando que a desvalorização incentivará as exportações e permitirá ao Estado aprofundar suas políticas sociais. "Enquanto o preço dos insumos não subir, não aumentarei os preços", comentou à AFP Verónica Abreu, gerente de um restaurante no leste de Caracas. "Contudo, os preços certamente aumentarão, não sei quando, nem quanto", acrescentou. "Para mim os atacadistas mantiveram os preços no momento, porque eles ainda têm material importado a 4,3" bolívares, disse Alberto Martínez, proprietário de um loja de eletrodomésticos há 35 anos, que afirmou que, a julgar por desvalorizações anteriores, uma televisão pequena, por exemplo, que agora custa 600 bolívares, passará a custar 900.

Analistas afirmam que a medida terá um impacto negativo na inflação do país, que foi de 20,1% em 2012 e é a mais alta da região, com o encarecimento das importações, das quais o país é muito dependente. O líder opositor Henrique Capriles, reagiu pela manhã em sua conta do Twitter: "Hoje a verdade vem à tona, a mentira caiu! Maior inflação, desvalorização e por enquanto não sabemos mais sobre o #PaquetazoROJO", disse.



Já o presidente do Banco Central da Venezuela (BCV), Nelson Merentes, afirmou que "a curto prazo não deverá haver esse efeito" de alta dos preços e destacou que o governo buscará manter o caminho do crescimento econômico, de 5,5% do PIB em 2012. O ministro de Planejamento e Finanças, Jorge Giordani, afirmou que o recém criado Órgão Superior para a Otimização do Sistema Cambial, composto pelo governo e o Banco Central para avaliar as prioridades de alocações de divisas, instalado no sábado, "já começará a sugerir e dar recomendações".

O vice-presidente Nicolás Maduro já avisou que os controles na alocação de divisas serão "extremamente exigentes" para evitar que os empresários recebam divisas para importar e depois não importem e vendam seus produtos com sobrepreço. A partir de agora, o Cadivi será o único mecanismo para obter divisas, após a eliminação do Sitme, um sistema que permitia uma taxa de câmbio secundário fixo em 5,30 bolívares por dólar e que era muito usada para importações de bens não prioritários.

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