Economia

Embargo russo castiga produtores europeus e pode beneficiar América Latina

Produtos que mais devem fazer falta aos russos serão as verduras que constituem as principais importações de alimentos da Europa, junto com os vinhos e outras bebidas alcoólicas

Agência France-Presse
postado em 07/08/2014 16:52
Paris - A Rússia se privará de produtos frescos ao suspender suas importações de produtos agrícolas da Europa, mas as sanções podem prejudicar ainda mais os produtores europeus, que perdem um destino importante para as suas exportações. Por outro lado, a medida restritiva pode beneficiar outras regiões, como a América Latina.

Junto com Ucrânia (antes da crise) e Brasil, Alemanha e Holanda foram em 2013 os principais fornecedores da Rússia, que importa cerca de 33% de seu consumo de alimentos. Este país absorve 10% das exportações agrícolas e agroalimentares da UE, por um valor anual de 12 bilhões de euros, segundo a agência europeia de estatísticas Eurostat.

"A Rússia é exportadora de cereais, mas também é uma forte importadora de frutas, verduras e de produtos processados, como carne e produtos lacticínios", lembrou Xavier Beulin, dirigente do principal sindicato agrícola francês, o FNSEA. Frutas frescas, queijos e carnes representam um faturamento de aproximadamente 1 bilhão de euros por ano.

Os produtos que mais devem fazer falta aos russos serão as verduras (770 milhões), que constituem as principais importações de alimentos da Europa, junto com os vinhos e outras bebidas alcoólicas (1,5 bilhão de euros). As maçãs, os tomates e os pêssegos vêm da Europa, que ainda atravessa nesta temporada uma grave crise de superprodução.

Assim, é provável que as restrições de Moscou gerem um duplo efeito temido pelos produtores da UE: "a Rússia se fecha às importações, mas os produtos que não mais serão destinados à exportação vão terminar em outros países europeus, criando uma situação de crise", resume Beulin.

Segundo o presidente da Federação de Produtores de Frutas Francesas (FNPF), Luc Barbier, "os espanhóis exportavam (em 2012) cerca de 100 mil toneladas de fruta para Ucrânia e Rússia: essa quantidade se destinará ao mercado comunitário", prevê. Os franceses venderam mais de 26 milhões de euros em frutas à Rússia em 2012, segundo M. Barbier. "A Polônia, que exportava muito para a Rússia, espera para este ano uma colheita abundante que, necessariamente, será destinada ao mercado interno da UE".

De acordo com a WAPA, a associação mundial dos produtores de peras e maçãs, a Polônia é de longe o principal produtor de maçãs da UE (3,5 milhões de toneladas previstas neste ano) junto com Itália (2,3 milhões de toneladas) e França (1,5 milhão de toneladas). No total, Paris exportou no ano passado 1,17 bilhão de euros em produtos agroalimentares para a Rússia, dos quais 450 milhões foram em bebidas alcoólicas.

Em carne bovina, o maior fornecedor da Rússia é de longe o Brasil, na frente de outros países da América Latina e da América do Norte (os Estados Unidos também foram afetados pelas sanções russas). A contribuição da UE já retrocedia desde 2013 (menos de 50.000 toneladas contra 100.000 em 2011, segundo o instituto de criadores), por causa de barreiras sanitárias, consideradas "pretextos políticos" segundo Guy Hermouet, vice-presidente da Federação Nacional Bovina, encarregada das exportações. Bélgica, Holanda e Alemanha serão os principais países afetados.

A Dinamarca e a Holanda sofrerão maior impacto no setor de laticínios. Em relação à carne de porco, as exportações europeias já haviam sido suspensas após o embargo russo decretado em 28 de janeiro em razão de gripe suína, devido a casos detectados em javalis.

Potencial benefício para a América Latina

O embargo, decretado em um contexto já tenso com a Ucrânia, é considerado como "pouco justificado" por Bruxelas, que apresentou uma queixa na Organização Mundial de Comércio (OMC) em abril. Os produtores franceses esperam que a OMC examine o caso das sanções decretadas por Moscou, afirmou Beulin.



O representante dos produtores agrícolas franceses também aposta na reação dos consumidores russos diante das prateleiras vazias nos supermercados. Esse é um cálculo que leva em consideração a opção da Rússia de se dirigir a outros mercados, como os de Ásia e América Latina, região visitada recentemente pelo presidente Vladimir Putin.

Segundo Barbier, que representa os produtores de frutas, "o risco para os europeus é perder mercados para Ásia e América Latina, que depois serão muito difíceis de reconquistar".

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