Economia

Abismo entre ricos e pobres é ampliado na maior parte da população mundial

A desigualdade pode causar tensão política e está por trás de protestos em todo o mundo

Antonio Temóteo, Paulo Silva Pinto
postado em 29/10/2014 15:00
A desigualdade aumentou para a maior parte da população mundial nas últimas três décadas: de cada 10 seres humanos, sete vivem em países onde a distância entre ricos e pobres cresceu no período. É um problema que afeta tanto as nações desenvolvidas quanto as mais atrasadas. Na África subsaariana, há 16 bilionários. E 358 milhões de pessoas vivendo na miséria.

Caso se faça uma lista com as 85 maiores fortunas do planeta, chega-se a um montante que equivale às posses da metade mais pobre da população global, aproximadamente 3,6 bilhões de pessoas. ;A desigualdade pode causar tensão política e está por trás de protestos em todo o mundo, inclusive os que ocorreram no ano passado no Brasil;, afirmou Simon Ticehurst, diretor no país da Oxfam, confederação de organizações sociais espalhadas por 18 nações. Ela inicia hoje a campanha Even it up, o equivalente em português a ;equilibre o jogo;, com o objetivo de chamar a atenção para a desigualdade e para as medidas que podem levar à sua redução.

A desigualdade pode causar tensão política e está por trás de protestos em todo o mundo

A América Latina é exceção nesse quadro global, com expressiva redução das disparidades desde 2000, quando a situação atingiu o pior grau. O Brasil lidera essa melhora. ;Nós brincamos dizendo que éramos o país mais desigual do mundo e tínhamos o melhor futebol e, hoje, não somos nenhuma coisa nem outra;, comentou o economista João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por muitos anos, a medalha de ouro da concentração era do Brasil. Agora está com as Ilhas Seychelles e, entre os países do G-20, com a África do Sul, onde os contrastes atuais são ainda maiores do que na época do apartheid, o regime de segregação racial.

A desigualdade pode causar tensão política e está por trás de protestos em todo o mundo
Criminalidade
Se o Brasil desceu degraus do pódio da desigualdade, a América Latina como um todo, a despeito dos avanços, continua no topo. A Oxfam aponta a alta correlação entre as diferenças de renda e a criminalidade. Das 50 cidades mais violentas do mundo, 41 estão na região. Essa lista, o Brasil ainda lidera, com 16 cidades. Mas não é o país com maior taxa de homicídios. México e nações vizinhas estão na frente, com índices superiores aos de áreas em guerra civil, como o Iraque.



O Brasil ajudou a América Latina de dois modos: melhorando o índice da região e exportando seus programas. ;Muito do que foi feito aqui tornou-se referência;, afirmou Ticehurst, da Oxfam. O relatório da organização faz sete menções positivas sobre o país. Um dos destaques é o programa Bolsa Família, que entrega dinheiro aos mais pobres e obriga os beneficiários a vacinar os filhos e enviá-los para a escola. ;Isso cria um ciclo virtuoso, que fará as novas gerações terem muito mais oportunidades;, destacou Ticehurst.

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