Economia

Quanto custa a felicidade? Trabalhador feliz eleva em 12% a produtividade

Governos e empresas se dedicam cada vez mais a medir o bem-estar

Paulo Silva Pinto
postado em 24/12/2014 06:04

A história pode ser vista sob o ângulo da transformação da natureza em riqueza. Começou com a busca do ser humano por conforto: carne, grãos e abrigo. Mas logo veio a ostentação, na forma de adornos, tótens, pirâmides, templos e palácios. A ciência surgiu como instrumento para a busca de avanços e também para a compreensão de nossa trajetória.

Pouco mais de dois séculos atrás, começou a se desenhar a vertente do conhecimento dedicada à prosperidade: a economia. Assumiu-se como desafio teórico mostrar como conquistar o máximo possível de tudo o que é bom. Fórmulas surgiram para garantir que a produção só tenha um viés, o de alta. Questionar o postulado de que o dinheiro faz as pessoas mais felizes era coisa de mesa de bar, sem espaço sério na academia.

Só que o jeito de ver as coisas está mudando. E num ritmo cada vez mais intenso, como mostrará série que o Correio publica a partir de hoje. ;Dedicamos excessiva atenção à renda;, alerta o professor Bruno Frey, do Departamento de Economia da Universidade de Zurique, um dos maiores expoentes dos estudos da busca pela felicidade. ;As pessoas precisam valorizar a relação com amigos e família;, recomenda ele, que integra a lista dos 50 economistas mais importantes do planeta.

Pode-se argumentar que, para perceber essas coisas, a ciência econômica é supérflua. No entanto, ela vem oferecendo uma grande ajuda, com releituras sobre o conhecimento que se acumulou até hoje. A ideia não é mais ter o máximo. É saber o quanto é preciso ; e possível ; ter, além de identificar a medida do esforço que vale a pena aplicar na empreitada.

Do Nobel de Kahneman para cá, o interesse pelo bem-estar das pessoas em suas decisões que envolvem dinheiro só cresceu. ;Ninguém sabe por que a economia da felicidade tem ganhado tanta atenção de pesquisadores, governos e público. Mas deve ser pelas crescentes demonstrações de que não estamos ficando mais felizes, embora sejamos muito mais ricos que os nossos avós;, pondera o professor Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, na Inglaterra. ;Eu gosto de pensar que isso ocorre também porque os economistas estão começando a ver as coisas como elas devem ser. O que poderia ser mais importante do que a felicidade humana? A única surpresa que cabe é não terem percebido isso antes;, emenda.

Um dos vários estudos de Oswald sobre a economia da felicidade mostra que trabalhadores satisfeitos conseguem elevar em 12% a produtividade. Mas, se é assim, por que há chefes que ainda acreditam mais na disseminação do medo e de ameaças para conseguir o máximo de suas equipes? ;Muitas empresas ainda estão defasadas. Acham que os funcionários devem ser tratados na base da força, da ditadura, como se fossem soldados. Talvez isso funcionasse nos anos 1950, quando a indústria manufatureira era o que havia de mais importante. Mas não serve para o mundo de hoje, em que as pessoas trabalham em escritórios, usando o cérebro e a iniciativa;, ressalta.

No Brasil, o assunto também tem atraído atenção de economistas de variadas tendências. ;Isso é de enorme interesse. O amor ao dinheiro deve ser abandonado em favor da fruição. Temos de ter tempo de apreciar as obras de arte. Todo mundo está percebendo que a competição desenfreada destrói as pessoas;, afirma Luiz Gonzaga Belluzzo, professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Ele nota que John Maynard Keynes já mencionava isso na década de 1920, quando escreveu o texto As consequências econômicas para os nossos netos.

Governos e empresas se dedicam cada vez mais a medir o bem-estar

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