Economia

Xará da presidente, Dilma Rocha dá aula sobre corte de despesas

Ao falar sobre o tema, a presidente convida a dona de casa a se sentir em sua pele. Mas é a auxiliar de serviços gerais quem dá aula sobre o tema: para garantir passagem de avião nas férias, só trocando a carne por soja no dia a dia

Antonio Temóteo, Paulo Silva Pinto
postado em 01/03/2015 08:12
Nestes dias difíceis, a presidente Dilma Rousseff tenta se aproximar da dona de casa e da trabalhadora. Teve oportunidades anteriores, desperdiçadas. Sua xará Dilma Rocha, auxiliar de serviços gerais, sonhou com um abraço, ou, quem sabe, uma foto. As duas já trabalharam muito perto uma da outra. Rocha faz limpeza no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), que, emprestado ao Planalto várias vezes, abrigou Rousseff.

O fato de ter o mesmo nome que a chefe do Executivo rende à faxineira Dilma brincadeiras diárias de colegas

No encontro que nunca ocorreu, poderiam até ter falado das contas. Rocha, viúva, tem muito a contribuir. Se vira como pode com o salário de R$ 900 para garantir que a filha conquiste o diploma universitário. Ela desconhece o deficit primário do governo em 2014. Inédito havia17 anos, o buraco financeiro acendeu a luz vermelha no painel da xará presidente. Um número assim é um desastre em si. Mas fica ainda pior quando a inflação dispara e o Produto Interno Bruto (PIB) encolhe, como acontece no Brasil de hoje. Essa conjuntura, Rocha notou. Está mais difícil fazer as compras caberem no salário. E os colegas andam com medo de perder o emprego. Rocha dá um desconto a Rousseff, que ;herdou muitos problemas;. Mas não sem alertar: ;o governo gasta mal;.

É preciso saber gastar
Dilma sai da cama todo dia às 4h30. Toma banho, faz o café e ajeita uma marmita para o almoço e outra para o lanche. Às 5h40 pega o ônibus em Samambaia, uma das regiões administrativas do Distrito Federal. Num desses dias, um assaltante estava à espreita. ;Para minha sorte, o vale transporte e o dinheiro para pagar as contas estavam no bolso;. A bolsa foi levada pelo ladrão, mas foi descartada perto de casa e encontrada pelos vizinhos. Às 7h, está no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), onde trabalha como auxiliar de serviços gerais no espaço cedido à Comissão da Verdade da Presidência da República. E logo vai ouvindo dos colegas: ;Dona Dilma, a senhora tem que dar um jeito em Brasília;. As brincadeiras não incomodam. ;Meu nome está na boca do povo. Eu levo na esportiva;, conta.



Dilma Rocha, 51 anos, esperou durante muito tempo, em vão, encontrar a xará mais famosa do país. As duas mineiras trabalharam próximas. Dilma Rousseff despachava no CCBB quando Lula instalou ali a equipe de transição antes de subir a rampa do Planalto. Voltou para lá quando a então ministra chefiava a Casa Civil e o Palácio estava em reforma. E mais uma vez quando era sua vez de se preparar para subir a rampa. Mas só quem fez a alegria do pessoal dos serviços gerais do CCBB foi Lula. ;Com ele era diferente. Aparecia e abraçava todo mundo;.

Mesmo assim, Dilma deu à xará o seu voto em 2010. No ano passado, queria mudança. Cogitou votar em Eduardo Campos (PSB). Com a morte dele, cravou Dilma de novo. Acha que a presidente merece confiança, mas não poupa algumas críticas. ;Ela herdou muito problema. Tudo acabou estourando nas mãos dela. Mas também acho que ela não tem pulso para governar;. No ano passado, Dilma Rocha viajou pela primeira vez em um avião. ;Senti insegurança, depois relaxei;. Foi com a filha, Helem, 22 anos, para Porto Seguro. ;Me apertei o ano todo para fazer a viagem. Mas valeu a pena;. Agora está poupando para um novo destino: Fortaleza.

Carestia
Ficou mais difícil guardar dinheiro, porém. A carestia que atormenta os brasileiros a fez rever os gastos. A compra de supermercado de janeiro ficou em R$ 550. Em fevereiro, teve de cortar itens para inteirar o mesmo valor. ;Alimento é o que mais pesa no meu bolso;, relata. Em vez de carne, ela agora compra soja. E não é para menos. A prévia da inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), subiu 1,33% em fevereiro, a maior variação em 12 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. Em fevereiro de 2003, o indicador havia registrado alta de 2,19%.No acumulado em 12 meses, a altado IPCA-15 foi de 7,36%, acima do limite de 6,5% ao ano previsto pelo governo. É a primeira vez, desde outubro de 2011, que o IPCA-15 fica acima de 7%.

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