Economia

Economista prevê aumento do desemprego e queda na renda

Para o chefe do Banco Fator, confiança na economia só voltará com ajuste fiscal, que exigirá sacrifícios

Rosana Hessel, Paulo Silva Pinto
postado em 16/03/2015 06:05

Sem o resgaste da confiança, o país não conseguirá retomar o crescimento econômico, avisa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima de Gonçalves. A reconstrução da credibilidade virá, no entender dele, da entrega do superavit primário de 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). ;O ajuste fiscal é importantíssimo para o país. Não podemos esquecer que, nos últimos anos, os erros na gestão das contas públicas foram gritantes;, diz.



Para Gonçalves, tudo indica que a situação da economia ainda vai piorar, com aumento do desemprego e queda na renda dos trabalhadores, devido às inflação alta. Ele ressalta que ainda não dá para projetar, de forma mais exata, qual será o tamanho da recessão do Brasil em 2015, pois o risco de racionamento, que não está nas contas, é premente.

Nos cálculos do economista, o PIB cairá 1,5% neste ano. Será o pior resultado da economia em pelo menos 25 anos. Ele acredita que ainda há espaço para novas altas do dólar, que, num primeiro momento, não estimulará as exportações na velocidade desejada pelo governo. Veja, a seguir, trechos da entrevista concedida ao Correio.

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Qual é a sua avaliação do cenário econômico atual?
É difícil ver uma situação em que a conjuntura piora tão rápido, em três meses, como ocorreu. Hoje, todo mundo acredita que PIB vai cair. A diferença é quanto. A nossa projeção aponta para retração de 1,5% da atividade. Tudo depende muito de cenários extremos. São coisas que não dá para avaliar na conta, como o racionamento de energia. Estamos mais confortáveis de um lado e menos de outro, em relação a 2001, quando houve racionamento. Naquele ano, a economia estava andando melhor do que hoje. Portanto, a atividade fraca significa que uma parte já piorou, independentemente da energia.

Quando veremos recuperação da atividade?
As fontes de recuperação são várias. É melhor ir de uma por uma. A economia anda quando as pessoas estão consumindo. Dá para imaginar que o consumo, que está desacelerando, vai se recuperar sozinho? Não dá. A inadimplência, se olharmos os dados do Banco Central, ainda não está ruim, mas, em algum momento, ficará. A concessão do crédito está caindo. No mês passado, cresceu 11%, mas o avanço já foi de 25%. O crédito está crescendo mais devagar porque a incerteza para as famílias está aumentando e, mesmo que não apareça na inadimplência, fica o medo dela; por isso, as pessoas pedem menos empréstimos. A incerteza do sistema financeiro também limita o crédito. Há um conservadorismo de um lado e de outro. O crédito poderá se reduzir ainda mais. Se o nível de atividade ficar estável ou uma queda de 1%, não podemos imaginar que o crédito continuará crescendo 10%.

O que deu errado?
A insistência em um modelo baseado no consumo, que se exauriu. As pessoas compraram automóvel, geladeira, fogão, televisão. Mas não comprarão isso de novo por, pelo menos, quatro anos. Esse ciclo, que está associado com o nível de emprego e de crédito, se foi. É preciso ter outro ciclo, com outra melhora de emprego, de renda e de crédito. Mas eu não consigo enxergar isso. Muito pelo contrário.

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