Economia

Com crise, poupança virou investimento ruim, dizem especialistas

Inflação em alta e endividamento das famílias levaram os saques na caderneta a superarem os depósitos em R$ 11,4 bilhões em março. É o maior saldo negativo mensal desde 1995, quando o Banco Central começou essa série de pesquisas

postado em 08/04/2015 07:30
Os brasileiros estão secando a caderneta de poupança. Com a inflação rondando a casa dos 8% em 12 meses, a mais popular das aplicações financeiras perdeu atratividade. Dados divulgados ontem pelo Banco Central revelam um recorde histórico: em março, o saldo líquido entre depósitos e saques ficou negativo em R$ 11,4 bilhões, a maior retirada mensal desde 1995, quando teve início a série contabilizada pela autoridade monetária.

Inflação na casa dos 8% e menor crescimento da renda levam brasileiros a usar reservas para quitar compromissos

No primeiro trimestre, a poupança registrou saída líquida de R$ 23,3 bilhões, também o maior volume em 20 anos, quase equivalente ao saldo positivo de todo o ano passado (R$ 24 bilhões). Na comparação com fevereiro, quando a caderneta havia perdido R$ 6,3 bilhões, o resultado negativo praticamente dobrou. Com o maior volume de saques, a poupança perdeu patrimônio pelo terceiro mês consecutivo: de R$ 658,1 bilhões em fevereiro para R$ 650,2 bilhões em março.

A conjuntura econômica desfavorável explica, em grande parte, a decisão dos brasileiros de recorrer aos recursos da poupança. Com a inflação alta e os juros também subindo, insistir na modalidade tem representado perda de dinheiro. Além disso, o menor crescimento da renda do trabalhador, acompanhado do aumento de gastos, tem levado as famílias a recorrerem às reservas conquistadas com muito custo para pagar as contas do dia a dia.



[SAIBAMAIS]O endividamento das famílias começou 2015 em alta, coincidindo com o período em que o saldo líquido da caderneta passou a ser negativo. Em janeiro, as famílias comprometeram 46,35% da renda acumulada em 12 meses com dívidas, segundo o BC. Quase seis em cada 10 lares brasileiros estão enrolados em débitos, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

Drama
A corrida para sacar dinheiro da poupança deve continuar nos próximos meses, na opinião do presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abef), Edmilson Lyra. ;Enquanto a inflação não mudar de direção, a caderneta sofrerá bastante;, reforçou. A carestia corroeu os salários, obrigando os brasileiros a tentarem balancear o orçamento com parte dos investimentos feito nos últimos anos. ;É questão de necessidade;, disse.

Com o cenário atual, avalia Lyra, a poupança virou um investimento ruim. ;Apostar em modalidades como CDB, LCA e LCI, por exemplo, e aplicar no Tesouro Direto podem ser boas alternativas;, elencou. Retirar o dinheiro da poupança para quitar dívidas e não prejudicar o orçamento, ponderou o especialista, é melhor do que entrar no rotativo do cartão de crédito ou cair no cheque especial.

Quanto mais a inflação e os juros aumentarem, como é previsto pelo mercado ao longo de 2015, pior ficará a situação da poupança, no entender do educador financeiro Reinaldo Domingos.

Ele acredita, porém, que a crise pode levar as famílias a se reeducarem financeiramente. O especialista reconhece o drama dos brasileiros. ;As pessoas estão se sentindo em uma areia movediça. Já tinham dificuldades para poupar e, agora, usam o pouco que estava guardado para salvar as contas;, lamenta. ;É um baque, mas que pode ajudar a tirar as famílias da zona de conforto.;

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