Economia

Para professor da UnB, Brasil só irá se recuperar economicamente em 2018

O economista chama atenção para o fato de que o ajuste em si não levará ao crescimento, mas ressalta que reorganizar as finanças públicas é condição para voltar a crescer

Rosana Hessel
postado em 24/05/2015 08:03
O economista Jorge Arbache, professor de economia brasileira da Universidade de Brasília (UnB), avisa que o país vai demorar para se recuperar das dificuldades que atravessa. Ele não arrisca um prognóstico para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2015, que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará na próxima sexta-feira. Mas diz que haverá retomada do crescimento apenas em 2018.

O economista chama atenção para o fato de que o ajuste em si não levará ao crescimento, mas ressalta que reorganizar as finanças públicas é condição para voltar a crescer

Arbache prefere ater-se ao PIB per capita, indicador que reflete a evolução da renda média do brasileiro. Pelas contas do economista, o encolhimento deve ser de 1,3% neste ano. Em 2016, a queda será de 1% e, no ano seguinte, de 0,6%. Já em 2018, a variação será zero, quando haverá um ;eventual início de recuperação;.

"O ajuste não é grande perto do que terá que ser feito. É muito provável que nossos filhos tenham de pagar uma carga tributária ainda maior e trabalhar mais.;

Doutor em Economia pela Universidade de Kent, do Reino Unido, o professor afirma que o ajuste fiscal que vem sendo feito pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, ainda é muito pequeno. ;É preciso que se faça muito mais. Esse ajuste é claramente necessário. Houve um óbvio descontrole fiscal;, diz ele.

O economista chama atenção para o fato de que o ajuste em si não levará ao crescimento, mas ressalta que reorganizar as finanças públicas é condição para voltar a crescer. ;É muito provável que, se nada for feito, nossos filhos tenham que pagar uma carga tributária ainda maior e que tenham que trabalhar mais;, alerta. Ele aposta que é preciso um novo modelo de crescimento, passando pelo aumento da produtividade e da competitividade e de uma melhor eficiência nos gastos públicos. ;São coisas que não sabemos fazer historicamente;, lamenta.

Na próxima sexta-feira, sai o resultado do PIB do primeiro trimestre. Tudo indica que esse dado vai ser ruim. Qual é a sua avaliação?

Se nossos números estiverem certos, o país terá queda de 1,3% no PIB per capita, em 2015, de 1%, em 2016, e de 0,6%, em 2017. Eventualmente, haverá uma recuperação do PIB per capita em 2018. Esse exercício levou em conta o crescimento do PIB potencial ao longo dos próximos anos, que é de 2,3% ao ano, e ele continuará assim por muito tempo. A capacidade de o país crescer seguirá baixa e ela tende a piorar se nada for feito. Há várias razões para isso. Uma delas é a forte mudança demográfica por que passamos. Há uma grande desaceleração na taxa de crescimento da População em Idade Ativa (PIA), a parcela da população com idade de trabalhar, entre 15 e 60 anos. A variação vai chegar a zero até 2023. Outro motivo é que o modelo tradicional de crescimento brasileiro, baseado na acumulação de capital e na agregação de gente no mercado de trabalho, entrou em fadiga. A disponibilidade de capital será cada vez menor.



Isso tem a ver com a baixa taxa de poupança do país?

Exatamente. A taxa poupança é uma das principais causas disso. A gente terá que encontrar um modelo novo de crescimento e ele terá que passar, necessariamente, pelo aumento da produtividade, da competitividade e da eficiência, que são coisas que não sabemos fazer historicamente. O brasileiro não tem noção do custo da escassez, seja de recursos, seja de tempo. Países que passaram por grandes dificuldades, por situações de escassez crônica, de um jeito ou de outro, acabaram aprendendo como é fundamental fazer o melhor uso, principalmente do tempo, para crescer de maneira sustentável.

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