Economia

Símbolo da divisão franco-alemã, euro já não é irreversível

Três anos depois, mesmo sem a adesão de todos os participantes, estava sobre a mesa na reunião do Eurogrupo: "Caso não se consiga chegar a um acordo, vai-se propor à Grécia uma saída temporária da zona do euro"

Agência France-Presse
postado em 13/07/2015 18:06
As últimas reuniões em Bruxelas não conseguiram colocar um ponto final à crise grega, mas as instituições europeias deixaram claro que pertencer à moeda única deixou de ser um caminho sem volta, expondo um racha profundo entre França e Alemanha.

"Achar que a zona do euro pode se desmembrar é desconhecer o capital político que nossos dirigentes investiram nessa união e o apoio dos europeus. O euro é irreversível". De 2012, a frase é do então presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi.

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Três anos depois, mesmo sem a adesão de todos os participantes, estava sobre a mesa na reunião do Eurogrupo: "Caso não se consiga chegar a um acordo, vai-se propor à Grécia uma saída temporária da zona do euro".

Finalmente, após dois dias de maratônicas reuniões, os chefes de Estado retiraram essa frase de seu comunicado final, celebrando sua unidade. O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, chegou a afirmar que "o ;Grexit; despareceu".

"Mas a ameaça está aí", disse o analista do Saxo Bank Christopher Dembik.

Se a Grécia não se recuperar, em algum momento - avaliou -, a pressão para uma saída desse país do euro vai-se intensificar.

"Não há outra opção, e teremos instaurado um mecanismo punitivo. É uma verdadeira vontade política de alguns países, sobretudo, da Alemanha", completou.

No domingo, o economista-chefe do UniCredit, Erik Nielsen apontou que "a Alemanha cruzou a linha vermelha pela primeira vez, afirmando que, se não for possível confiar em um governo, ele terá de deixar a zona do euro (mesmo que provisoriamente)".

"É difícil saber se era uma estratégia, ou se tratava-se realmente de forçar a Grécia a sair do euro", comentou o analista Pawel Tokarski, da Fundação de Ciência e Política (SWP), em Berlim.

Embora não tenha mudado radical e imediatamente a zona do euro, este longo fim de semana de negociação destacou uma ampla divergência conceitual entre França e Alemanha sobre o que deve ser a união monetária.

"A Grécia é um peão no jogo entre França e Alemanha", declarou Tokarski, explicando que "o que está em jogo é a direção que a zona do euro deve tomar".

Nas últimas 48 horas, travou-se um combate para determinar "o tipo de Europa que teremos no futuro", descreveu Erik Nielsen, avaliando que "isso se resume a um confronto entre Alemanha e França".

Estes dois países têm, claramente, concepções opostas do que deve ser a moeda única.

Diferentes concepções de Europa

Segundo Tokarski, "a França quer flexibilidade, um papel-chave dos Estados-membros e de instituições frágeis, enquanto a visão alemã é de uma Comissão forte, apolítica, de regras claras, pouco de flexibilidade".

"É uma visão compartilhada esquematicamente pelos países do norte da Europa, entre eles os ministros ;falcões; que se somaram ao coro da Alemanha sobre a Grécia", completou.

As leituras também são diferentes.

"A França integra na análise considerações geoestratégicas e o efeito dominó. A Alemanha faz isso também, mas é uma questão de ponderação", comentou a professora Agn;s Benassy-Quéré, da Universidade Paris 1, destacando a importância do conceito de "moral" na Alemanha.

Trata-se da ideia de que um compromisso deve ser respeitado para não estabelecer precedentes, que levem a novos descumprimentos, explicou Agn;s.

Além da unidade demonstrada diante das câmeras, "o confronto é inevitável", reforçou Dembik, advertindo que, "se evoluir, pode levar a um cisma entre o norte e o sul da Europa".

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