Economia

Mercado já vê inflação no teto da meta em 2017

Para especialistas, enquanto governo não promover ajuste fiscal, o custo de vida continuará subindo. Analistas ouvidos pelo BC apostam em IPCA de 7,56% até dezembro e de 6% no ano que vem. Expectativa é de que dólar continue pressionando preços

Antonio Temóteo
postado em 11/02/2016 06:00

O Brasil caminha para descumprir o regime de metas de inflação por três anos consecutivos. Após o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) cravar alta de 10,67% em 2015, dados do boletim Focus, do Banco Central (BC), apontam que a mediana das expectativas do mercado para a carestia em 2016 chegou a 7,56%, acima do teto da meta, de 6,5%. Para o próximo ano, os analistas estimam que o aumento do custo de vida será de pelo menos 6% ; esse o limite máximo de tolerância definido pelo Conselho Monetária Nacional (CMN) para 2017. E a tendência é de que a estimativa dos economistas continue em alta enquanto o governo não realizar um ajuste fiscal.

A desconfiança dos economistas em relação ao compromisso do governo em combater a inflação e reequilibrar as contas públicas ganhou força após o BC mudar significativamente a comunicação com mercado e manter a taxa básica de juros (Selic) inalterada na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em janeiro. Após tomar essa decisão, o Executivo lançou um programa de crédito de R$ 83 bilhões para estimular a economia e estuda criar um regime de bandas para os resultados fiscais. Os analistas interpretaram as decisões palacianas como uma guinada na política econômica que flerta com a nova matriz econômica usada após a crise financeira global de 2008.

Equívocos

Sem o rigor necessário para levar a inflação à meta, as expectativas estão desancoradas a médio prazo. Para 2018, o mercado estima uma inflação de 5,25% e nos dois anos seguintes de 5%. Por outro lado, com a mudança de discurso do BC, os analistas avaliam que a taxa básica de juros (Selic) deve cair, mesmo com as pressões sobre o custo de vida. Dados do Focus apontam a Selic terminará o ano em 14,25% ao ano. Em 2017 recuará para 12,5%, em 2018 cairá para 11,13%, em 2019 reduzirá para 11% e em 2020 chegará a 10,75%.

Para piorar a situação, o dólar continuará a pressionar a inflação nos próximos anos. A cotação da divisa norte-americana deve fechar o ano em R$ 4,35, subir para R$ 4,40 em 2017, e permanecer nesse patamar até 2019. E sem qualquer sinal de controle do IPCA e de ajuste, as projeções do mercado apontam para deficit fiscal até o fim do próximo ano, investimentos em queda e economia fadada a registrar resultados decepcionantes. Segundo o Focus, o Produto Interno Bruto (PIB) encolherá 3,21% até dezembro, terá uma tímida expansão de 0,6% em 2017, aumentará apenas 1,5% em 2018 e apresentará uma alta de 2% em 2019.

A economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, explicou que o cenário apontando para o descumprimento do regime de metas de inflação é preocupante e estava fora da pauta de discussões dos analistas nos últimos anos. Na opinião dela, o aumento do custo de vida é a manifestação clara do desequilíbrio macroeconômico e da dificuldade do governo de ajustar as contas públicas. ;Atualmente o desafio é ainda maior e passa por estabilizar a trajetória de alta da dívida pública e a própria atividade econômica. Tudo isso é um reflexo dos equívocos praticados e que se manifestam nas expectativas para o IPCA;, ressaltou.

Apesar dos problemas, Zeina acha que as discussões sobre uma reforma da Previdência Social e uma eventual aprovação de mudanças nas regras que limitaram o crescimento dos gastos têm potencial para reverter o cenário de pessimismo. ;Se o governo, a oposição, o PT e as centrais sindicais chegarem a um acordo em que os interesses do país sejam colocados em primeiro lugar poderemos achar uma luz no fim do túnel. Mas tudo isso depende de uma discussão responsável e madura;, alertou.

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