Economia

Após queda no crescimento, construção civil vê sinais de recuperação

Retomada de unidades do Minha Casa Minha Vida é vista como positiva, mas empresários avisam que a volta do crescimento no setor, que representa 8% do PIB, ainda vai demorar

Rosana Hessel
postado em 11/09/2016 06:05

Empresas do programa sofrem com atraso nos repasses oficiais

Apesar de o número de obras paradas no país ser grande, há sinais de que o canteiro de obras pode ser reaberto. No mês passado, o ministro das Cidades, Bruno Araújo, anunciou a retomada da construção de 10,6 mil unidades habitacionais do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) que devem somar R$ 167,2 milhões em investimentos. De acordo com a pasta, essa é uma parte ;das 50 mil unidades com obras paradas deixadas pela gestão anterior;.


Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, o anúncio é positivo e deverá ajudar o setor a se recuperar. No entanto, ele alerta que a volta do crescimento do segmento ainda deve demorar, pois há projetos que levam até cinco anos para serem iniciados. ;A construção civil representa 8% do PIB (Produto Interno Bruto), mas é um dos segmentos que mais empregam. O fechamento de vagas tem sido constante e ainda vai levar tempo para que esse quadro seja revertido;, destaca ele. Em junho, último dado computado, foram dispensados 28 mil trabalhadores. As demissões ocorrem desde outubro de 2014.


De acordo com Martins, 85% das obras do MCMV são tocadas por construtoras de pequeno ou médio porte e muitas tiveram dificuldades financeiras porque, no ano passado, o governo chegou a atrasar os repasses em até 180 dias. ;No começo do programa, os pagamentos ocorriam em até três dias, mas os atrasos foram ficando constantes. Agora, houve uma melhora, e as associadas têm reclamado menos. Os prazos variam de 30 a 60 dias e elas estão conseguindo administrar melhor as obras;, conta.


A economista Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), conta que o Índice de Confiança da Construção subiu 1,8 ponto em agosto, alcançando 72,5 pontos ; o maior nível desde julho de 2015. Foi a segunda alta mensal consecutiva, mas a evolução ainda é menos favorável que a registrada em outro setores.


;O empresário da construção não está apenas com expectativas menos negativas. A percepção dominante é de que a atividade lentamente começa uma retomada, o que já está se refletindo no indicador de mão de obra prevista;, diz Ana Maria. No entanto, ela avisa que a recuperação ainda vai demorar, apesar da expectativa do novo governo de anunciar em plano de concessões em infraestrutura. ;O investimento é lento. As obras demandam tempo e precisam de projetos básicos bem elaborados para que não ocorra o mesmo que ocorreu com o PAC;, explica.


;O país passou e ainda passa por uma crise muito grande, que se espelha no PIB e no desemprego, afetando diretamente o setor imobiliário, que depende muito da confiança dos compradores e dos investidores. Mas acredito que superamos a fase mais difícil; estamos vendo sinais claros da virada;, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Renato Ventura. Segundo ele, quando a economia começar a reagir, a retomada de projetos engavetados será rápida. ;As empresas não devem recomeçar do zero, pois muitas já possuem projetos aprovados esperando a retomada efetiva da confiança;, completa.

Sem antagonismo
Andrés Tahta, descarta antagonismos com o Brasil e a possibilidade de os dois países competirem pelos mesmos investidores em projetos de infraestrutura. ;Não acredito que vamos concorrer, pois nos tornamos parceiros comerciais. ;Se a Argentina for mais competitiva, vai ser bom para o Brasil e para a região. Se o Brasil atrair investidores que se interessem pela Argentina, vai ser muito positivo;. Ele defende a união. ;O Brasil é conhecido pela produção de sapatos, e a Argentina, pelo design. Trabalharemos a complementariedade. O mesmo poderá ocorrer na indústria automobilística;, conclui.

Pacote argentino
O presidente Michel Temer, em recente visita à China, disse que pretende anunciar o primeiro pacote de concessão de projetos e ativos em infraestrutura na próxima terça-feira para atrair US$ 269 bilhões de investimentos estrangeiros até 2019. Durante a próxima semana, no entanto, o Brasil disputará as atenções com os vizinhos argentinos. Entre 12 e 15 de setembro, em Buenos Aires, o governo de Mauricio Macri apresentará um pacote de oportunidades de investimento. O Argentina Business and Investment Fórum, organizado pela Agência Argentina de Investimento e Comércio Internacional (Invest Argentina), pretende reunir 1,5 mil empresários argentinos e estrangeiros, dos quais 60 a 100 deverão ser do Brasil.


O vice-presidente da Invest Argentina, Andrés Tahta, contou que, nos últimos sete meses, o governo de Macri organizou projetos ambiciosos para atrair US$ 177 bilhões, em três anos: US$ 75 bilhões em energia e mineração; US$ 75 bilhões em infraestrutura (portos, concessão de 25 mil km de rodovias, 10 mil km de ferrovias, mercado imobiliário, redes de telecomunicações e aeroportos); US$ 15 bilhões em agronegócio; US$ 7 bilhões em tecnologia e serviços; e US$ 5 bilhões na indústria de bens duráveis e de alimentos.

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