Economia

Queda lenta dos juros atrapalha recuperação da economia brasileira

Para analistas, BC tende a continuar comedido nos cortes da Selic, o que limitará o ritmo de recuperação da atividade

Antonio Temóteo
postado em 26/12/2016 06:00
Leal comemora mudança de quadro, mas estima retomada significativa do crescimento só daqui a um ano
A profunda recessão que assola o Brasil tem destruído o poder de compra da população. Isso tem favorecido ao menos, a queda da inflação, que pode fechar 2016 abaixo do teto da meta, de 6,5%. O rito de queda da carestia foi uma surpresa positiva neste ano. Mas não se traduziu, ainda, em redução mais expressiva da Selic, a taxa básica da economia brasileira, que segue sendo a mais alta entre as principais economias, incluindo as emergentes (veja quadro ao lado). Com a possibilidade de ganhar perto de 1% ao mês em aplicações financeiras, poucos empresários se sentem estimulados a investir na melhora de processos produtivos, algo que poderia puxar o crescimento para cima.

É difícil, porém, contar com uma mudança radical no processo, diante da postura comedida que o Banco Central (BC) tem demonstrando na política monetária. A perspectiva é de que continue a cortar a Selic lentamente. Essa é uma das razões, na avaliação de parte dos economistas, para a lentidão que se espera no processo de retomada.

O alívio para valer não virá neste Réveillon, só no próximo, avisa o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal. ;A gente acha que 2018 pode ter um crescimento melhor, com uma redução maior da taxa de juros fazendo o consumo voltar já na entrada do ano. Portanto, 2018 pode ser o ano de recuperação de fato, com o PIB avançando 2,5%;, afirma.

Os reajustes de preços ao longo deste ano ocorreram em menor intensidade, diante do aumento do desemprego e de negociações salariais em que os trabalhadores aceitaram abrir mão de renda. Para o próximo ano, o mercado projeta Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 4,9%. Em 2018, estará no centro da meta, de 4,5%.

As perspectivas favoráveis para a carestia têm levado analistas a reforçar o debate sobre o que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC fará em relação ao ritmo de corte da Selic. A unanimidade é que a taxa, atualmente em 13,75% ao ano, caia ao longo de 2017 ; a questão é quanto. A mediana das expectativas do mercado projeta os juros em 10,5% no fim do próximo ano. Uma ala de analistas acredita que o Copom será mais cauteloso e iniciará o ano com uma queda de 0,5 ponto percentual na reunião marcada para 10 e 11 de janeiro. As incertezas externas e o aprofundamento da crise política tendem a levar a essa decisão, dizem.

Fundo do poço

Economistas de outra linha avaliam que, sem cortes expressivos na Selic já nas próximas reuniões do Copom, a economia continuará no fundo do poço e o custo da dívida pública continuará a crescer exponencialmente. Argumenta-se que seria necessária uma queda de 0,75 ponto dos juros básicos já em janeiro. O mercado estima que, a cada 0,25 ponto de queda na Selic, o governo deixa de gastar R$ 25 bilhões com a dívida bruta.

Os sinais de que a queda da inflação é generalizada em todos os componentes deixam a autoridade monetária mais a vontade para intensificar o ritmo de queda da Selic, avalia a economista-chefe da Rosenberg Associados Thaís Marzola Zara. Ela explica que a descompressão dos preços de serviços, mais sensíveis à política monetária e com elevado grau de rigidez, são um sinal positivo para o BC.

Thaís lembra que, ao longo de 2017, o horizonte da política monetária se estenderá. Isso tende a favorecer a continuidade do ciclo de redução dos juros, com discussões acerca do ritmo dos cortes. Mas é algo que será feito, avisa, de forma cautelosa. ;Como tem sido enfatizado, é preciso que as expectativas estejam ancoradas para que seja possível maior flexibilidade na condução da política monetária. Não se pode desperdiçar o investimento já realizado para esta ancoragem;, destaca.

Para ela, os juros cairão 0,5 ponto percentual em janeiro e terminarão 2017 em 10,25% ao ano. Uma intensificação dos cortes, para 0,75 ponto, decorreria apenas de surpresas muito negativas na atividade ou de uma queda ainda maior profunda da inflação. ;Se isso ocorrer, não acreditamos que corresponda a uma ampliação do ciclo total de queda. Ou seja, se houver aceleração, isso significará que os cortes serão antecipados e concentrados no primeiro semestre do ano;, afirma.
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