Economia

Exportações de carne despencam 99,9% com a Operação Carne Fraca

Média diária de vendas ao exterior caiu de US$ 63 milhões para US$ 74 mil, na última terça-feira. Até ontem, 14 países e a União Europeia impuseram algum embargo ao produto brasileiro. Mapa e Mdic montam força-tarefa para defender proteína do país

Rodolfo Costa
postado em 23/03/2017 06:00

Desenho de pedaço de carne com uma bandeirinha do Brasil na ponta

As exportações de carne brasileira desabaram. Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic) apontam que, antes da divulgação da Operação Carne Fraca, o valor médio diário de venda do alimento para o exterior era de US$ 63 milhões. Na terça-feira, totalizaram US$ 74 mil, o que representa uma queda de 99,9%.



Tamanha queda nas exportações chocou o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Blairo Maggi. Embora não tenha jogado a toalha e continue sem medir esforços para apresentar explicações aos países estrangeiros, ele admite que, diante da brusca queda nas vendas internacionais, o país não conseguirá aumentar 6,9% para 10% a participação na exportação de carne, que era uma das metas do atual governo.

[SAIBAMAIS];Sofremos é uma pancada. Um soco no estômago. É algo tão forte que, ao olhar para os 7%, tenho que trabalhar para ficar nos 7%. Não consigo me olhar indo para os 10%. É um choque forte que esse setor não merecia sofrer;, disse Maggi. O ministro esteve ontem na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal, que realizou uma audiência conjunta com a Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).

Prejuízos já são contabilizados pelo ministério. A avaliação de Maggi é que os desdobramentos gerem perdas de 10% no volume de cerca de US$ 15 bilhões de exportações de carnes, o que deve causar um prejuízo de US$ 1,5 bilhão ao ano para o Brasil.

Diante de uma crise sem precedentes no agronegócio brasileiro, o governo tem pressa para estancar a sangria nas exportações. O ministro não descarta fazer viagens aos países que suspenderam a importação da carne para prestar esclarecimentos pessoais.

;O grande trabalho, agora, é de recuperar e reorganizar forças e de viajar o mundo. Andar novamente, reexplicar e tentar convencer o que aconteceu aqui. Que foram desvios de algumas pessoas, e não no forte sistema da indústria que temos, que aposta firmemente que é um dos pontos fortes do nosso país;, afirmou o ministro.

A ideia foi endossada pelo ministro do Mdic, Marcos Pereira. Para ele, uma operação conjunta do governo, com o Legislativo e o setor produtivo será necessária para amenizar os impactos. ;O governo federal, com convite ao Senado e ao setor produtivo, deve fazer missões para intensificar ações internacionais;, disse.

O primeiro passo dessa força-tarefa começa em 6 de abril, quando Pereira participará do Fórum Econômico Mundial, em Buenos Aires. A intenção é aproveitar a oportunidade para esclarecer a representantes de outros países as ações do governo brasileiro para superar a crise.

A força-tarefa do governo tem o objetivo de conter a série de suspensões sofridas pelo Brasil. A Arábia Saudita, terceiro maior parceiro comercial de compras de carnes brasileiras, também cogita suspender importações do produto. Se a decisão se confirmar, o país se junta a Hong Kong, China, Chile, Egito, Argélia, Jamaica, Trindad e Tobago, Panamá, Emirados Árabes Unidos, México e Bahamas, que anunciaram suspensões preventivas ou temporárias, mas totais, para todas as plantas frigoríficas aptas a exportar.

Boicote parcial

Outros países também suspenderam a importação brasileira, mas de maneira parcial, ou seja, apenas de plantas frigoríficas que estão sob investigação da Polícia Federal e auditoria do Mapa: Japão, África do Sul, União Europeia e Suíça. A África do Sul, por sinal, anunciou ontem a suspensão.

O governo está otimista de que conseguirá reverter a situação logo, mas o principal desafio será convencer China e Hong Kong, que não aceitaram explicações do Mapa. Maggi se mostra tranquilo quanto às decisões das duas nações. ;Cada país tem sua forma de negociar. Não podemos reclamar. Estamos insistindo, mas a tomada de decisão é deles e não nossa;, disse.

Segundo o ministro da Agricultura, o governo chileno está mais maleável e poderá alterar o embargo total, para parcial, ou seja, vetando apenas importação de carnes das 21 plantas frigoríficas autoembargadas pelo ministério. ;Estamos esperando apenas a expedição do documento que libera o mercado brasileiro novamente;, explicou.

Maggi garantiu que ligará para o ministro da Agricultura da Rússia. ;Queremos dar explicações e ver se há necessidade de maiores informações. Neste momento, todo nosso esforço e envolvimento está na direção de cuidar dos mercados;, garantiu.

Todo esforço do governo para conter a sangria no exterior não foi suficiente para evitar o pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara. Ontem a noite, os deputados Júlio Delgado (PSB-MG), Ivan Valente (Psol-SP) e Carlos Zarattini (PT-SP) protocolaram o pedido com 208 assinaturas de apoio. No documento, os parlamentares sugerem a apuração de irregularidades na fiscalização fitossanitária no país, com base na ação policial deflagrada na última sexta-feira.

Média diária de vendas ao exterior caiu de US$ 63 milhões para US$ 74 mil, na última terça-feira. Até ontem, 14 países e a União Europeia impuseram algum embargo ao produto brasileiro. Mapa e Mdic montam força-tarefa para defender proteína do país

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