Economia

Empresas driblam crise e comemoram resultados positivos após recessão

Com baixos níveis de endividamento, focadas em mercados dinâmicos e usando estratégias inovadoras, muitas companhias comemoram resultados positivos num setor que encolheu 17% nos últimos três anos

Simone Kafruni
postado em 23/04/2017 08:00

Segundo Miguel de Carvalho, presidente da Cecil, controle das dívidas permitiu crescimento sólido da  metalúrgica

No árido terreno da pior recessão da história do Brasil, há um oásis de indústrias que estão conseguindo driblar a crise. As companhias que chegaram ao início da depressão sem estar endividadas, focaram em exportações ou apostaram em nichos de mercado menos suscetíveis ao encolhimento da economia estão nadando de braçadas no desértico ambiente da indústria. Além de ter sentido o baque do colapso econômico primeiro, o setor acumula 11 trimestres consecutivos ; quase quatro anos ; de queda no Produto Interno Bruto (PIB).


Não à toa, diz Igor Rocha, diretor de Planejamento e Economia da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), a participação do setor industrial no PIB, que já foi superior a 17%, hoje está em 10,9%. ;É um dado alarmante;, alerta. Entre 2014 e 2016, a produção encolheu 17%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em alguns ramos, a destruição da produção ultrapassou 50% no período, conforme estudo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi). O mesmo levantamento, no entanto, também identifica a ;indústria sem crise;.

;Os casos positivos são de segmentos com competitividade internacional;, avalia Rafael Cagnin, economista do instituto. ;Empresas com condições melhores de financiamento, com captação a taxas de juros internacionais, mais baixas, sofreram menos o impacto da recessão;, diz.

Estratégias empresariais diferenciadas também minimizam o efeito da crise, de acordo com Flávio Castelo Branco, gerente de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI). ;Companhias focadas em mercados mais dinâmicos, com presença no mercado internacional, levam vantagem, assim como segmentos ligados a produtos inovadores e bens de consumo sofisticados, voltados à parcela de consumidores que não sente a crise;, enumera.

Talvez o maior exemplo da indústria brasileira sem crise seja a Embraer, fabricante de aeronaves, com foco em tecnologia de ponta e 90% da produção voltada ao mercado externo. Um outro setor, no entanto, se destaca, com expansão de 19%, entre 2014 e 2016, e de 13,1% no último trimestre do ano passado: o da celulose. Quem fornece para essa cadeia está surfando boas ondas. É o caso da Kemira Chemicals Brasil, que produz clorato de sódio e dióxido de cloro, substâncias usadas no branqueamento da celulose.

A companhia está aumentando a produção e investiu ;algumas dezenas de milhões de dólares; em novas plantas no Paraná, conta Paulo Barbosa, diretor comercial. ;A nova unidade completou um ano nesta semana;, comemora. A previsão era chegar à capacidade máxima na segunda metade de 2017. ;Atingimos a meta no ano passado;, diz. ;A parte de papel sentiu a crise e o impacto da substituição tecnológica, com impressos sendo trocados pela digitalização. Mas a celulose compensou;, ressalta Barbosa.

Investir em plena recessão também foi a aposta de outra indústria química, a Chemours, que decidiu se preparar para atender melhor aos clientes quando a crise passar. Resultado da separação da divisão de especialidades químicas da DuPont, a empresa inaugurou, em março, uma unidade produtiva de fluidos para ar-condicionado em Manaus, com investimentos de R$ 3 milhões. Além de suprir o mercado brasileiro, pretende exportar para países da América do Sul. ;Com a unidade em funcionamento, a redução do prazo da entrega será de 90%;, explica Maurício Xavier, presidente da Chemours.

Serviços


Uma tendência que tem garantido a sobrevivência industrial é a prestação cada vez maior de serviços. A empresa deixa de ser apenas uma produtora de bens para agregar manutenção e atendimento pós-venda. Assim, em tempos de crise, fatura com consertos ou levando os produtos diretamente ao consumidor, como faz a Ecoville, que fabrica e comercializa produtos de limpeza.

Na contramão da retração acumulada de 7,5% da economia do país, a indústria de produtos de limpeza cresceu 7% desde 2014. Sediada em Joinville (SC), a Ecoville adotou um modelo de venda direta, ingressando no segmento de franquia. Hoje, a marca gera mil empregos diretos, nas lojas e nos dois parques fabris, um na cidade sede e outro em Belo Horizonte.

O presidente da Ecoville, Leonardo Castelo, conta que a meta é chegar a 5 mil unidades franqueadas em cinco anos. ;Hoje, temos 220 pontos de venda focados 100% no nosso produto;, diz. Com a demanda crescente, a Ecoville decidiu comprar três novos maquinários para envase de materiais. Um deles, adquirido no ano passado, custou R$ 1,5 milhão. ;Outros dois estão sendo negociados. Vamos investir mais R$ 2 milhões.;

Brincando na crise

Os consumidores sentiram o baque e precisaram economizar. Viagens, festas, jantares fora de casa foram cortados. Mas deixar de presentear as crianças não é uma opção para muitos pais. E a grande beneficiada disso é a indústria de brinquedos. Presidente da Abrinq, entidade que representa os fabricantes, Synésio Batista da Costa ressalta que o segmento cresceu 12% só em 2016. ;São 367 fábricas hoje no país. As empresas não demitem há seis anos e todos os balanços estão no azul;, revela. O setor desenvolveu um programa de integração com parceiros do Mercosul para enfrentar a concorrência chinesa. As importações caíram 33% no ano passado. ;Essa queda é transferência da China para o Brasil;, comemora.

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