Economia

Sem reforma da Previdência, Brasil pode sofrer novo rebaixamento

Agências de classificação de risco alertam para piora nas contas públicas caso mudanças nas aposentadorias não sejam aprovadas no próximo ano

Antonio Temóteo, Rosana Hessel
postado em 15/12/2017 06:00

Infográfico sobre reação do mercado financeiro ao adiamento da votação da reforma da PrevidênciaO adiamento da votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados para fevereiro desapontou executivos do setor financeiro e especialistas do mercado, apesar de a notícia ser mais do que aguardada. O consenso que está se solidificando entre eles é que, em 2018, as mudanças no sistema de aposentadorias dificilmente serão aprovadas. Além disso, dependendo do resultado das próximas eleições, a reforma poderá ou não ser realizada em 2019, quando o cenário ficará ainda mais crítico, do ponto de vista econômico e fiscal.


Depois de cair 1,2% na última quarta-feira, logo após o adiamento ter sido anunciado pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) encerrou o pregão de ontem com nova queda. O Índice Bovespa recuou 0,67%, para 72.429 pontos. Já o dólar subiu 0,82%, cotado a R$ 3,337 para venda. A tendência de desvalorização dos ativos brasileiros deve aumentar nos próximos dias, uma vez que duas das três maiores agências de classificação de risco norte-americanas, a Moody;s e a Fitch Ratings, já deram sinais, ontem, de que podem anunciar em breve novo rebaixamento do país. A nota dos títulos soberanos brasileiros já está a dois degraus abaixo do nível de investimento.

;A janela de oportunidade para uma reforma significativa da seguridade social antes do ciclo eleitoral de 2018 está se reduzindo, e outros atrasos ou diluições representam riscos para a viabilidade do limite de gastos e a estabilização da dívida a médio prazo, bem como riscos potenciais para a confiança do mercado e o processo de recuperação em curso;, informou a Fitch, em nota.

Para o vice-presidente e analista sênior da Moody;s para ratings soberanos, Samar Maziad, deixar a reforma para fevereiro do ano que vem ;indica falta de apoio político para a proposta;. ;Isso aumenta a possibilidade de que a reforma não seja aprovada no ano que vem, dada a incerteza em torno das eleições presidenciais;, disse. ;O adiamento (da reforma) fortalece as preocupações sobre a capacidade do governo para cumprir o teto de gastos e endereçar efetivamente as tendências fiscais adversas que têm gerado uma persistente deterioração do perfil de crédito do país nos últimos anos;, completou Maziad.

Ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse que, na próxima semana, fará ;uma série de ligações e conferências telefônicas com as agências de rating, visando esclarecer a situação;.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, acredita que o atraso da reforma não afeta o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e no próximo, porque ainda há espaço para que ela seja aprovada em 2019. Segundo ele, nem mesmo uma possível alta do dólar prejudicará a retomada da economia. ;Há stress de curto prazo, não tenha dúvida, mas, como a expectativa é que a reforma seja aprovada lá na frente, os grandes números não mudam;, afirmou.

Para Vale, o grande dia será 24 de janeiro de 2018, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva será julgado pelo Tribunal Regional Federal da 4; região (TRF-4). ;A depender do resultado, o mercado vai entregar parte da alta da bolsa que vimos até agora. Mas, se não houver a reforma em 2019, com o novo presidente, aí, de fato, será uma situação de crise;, avaliou.

Na avaliação do consultor e ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman, o adiamento da reforma já era esperado, e o que mais preocupa, daqui para a frente, é o resultado das eleições. ;O próximo governo precisará estar comprometido com a agenda reformista. Sem ela, não será possível prever um cenário mais sólido;, disse, minimizando o risco de novo rebaixamento das agências de rating. ;O país já está na lama até a cintura. Se ficar até o peito, muda muito pouco;, afirmou.

Colaborou Alessandra Azevedo

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