Economia

Saiba como a abertura de capital do Burger King vai mexer com o fast food

Outras redes já se movimentam de maneira agressiva, na tentativa de fechar espaço para o concorrente

postado em 15/12/2017 06:00

Com cerca de 600 lojas em funcionamento no país, rede deve acelerar planos de expansão com o reforço de investidores e abrir novas unidades


São Paulo ;
Espera-se para hoje a definição do preço da ação do Burger King no Brasil. A estreia da rede de fast food na Bolsa de São Paulo (Bovespa) deve acontecer na segunda-feira. Mas a inquietação no mercado brasileiro de fast food já vem acontecendo. Redes fazem planos agressivos de expansão e de reformulação de seus negócios com o objetivo de fechar qualquer espaço para o concorrente que vai contar com o reforço do mercado de ações para se capitalizar e deslanchar no país.


No início de setembro, o McDonald;s, controlado pelo grupo Arcos Dourados, anunciou um pacote de investimentos de R$ 1 bilhão na expansão e modernização da marca durante o triênio 2017-2019. As lojas (hoje são 910 restaurantes, sem contar com os quiosques, o que dá um total de 2.500 pontos) devem seguir o padrão da unidade-piloto da Avenida Henrique Schaumann, em São Paulo, que tem um apelo moderno, bem mais tecnológico, com paredes interativas, entradas USB nas mesas e controle de música das salas pelo smartphone.

Mas não foi apenas o pacote bilionário de investimentos do McDonald;s que demonstrou sinais claros da companhia em marcar posição no mercado brasileiro. Às vésperas da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), o McDonald;s entrou com um questionamento junto à consultoria Euromonitor sobre dados que o Burger King estaria utilizando em seus prospectos para promover a empresa antes da abertura de capital.

Segundo o McDonald;s, seu faturamento é 3,74 vezes maior que o do concorrente, mas a Euromonitor aponta que a diferença é de apenas 1,6 vez. Procurada, a Euromonitor informou que suspendeu a divulgação das informações sobre o mercado brasileiro de fast food. Tanto McDonald;s quanto Burger King (que está em período de silêncio às vésperas do IPO) não comentam o caso.

Unidade-piloto do McDonald's, em SP: aporte de R$ 1 bilhão até 2019 para ampliação e modernização da marca


Para Marcelo Cherto, da Cherto Consultoria, o IPO do Burger King será bom para o setor de franquia, porque deverá levar ainda mais profissionalismo às marcas e atrair novos investidores para o setor todo. Apesar do estado de atenção em que se encontram as grandes redes de fast food, quem deve sentir mais o aumento de capital em caixa do Burger King são os negócios menores, as lanchonetes de bairro. ;Há muita gente para matar antes de matarem uns aos outros;, diz o especialista, referindo-se aos pequenos empreendimentos, que na sua avaliação devem perder vendas para a marca norte-americana.

Coordenador do mestrado em administração do Insper, Sílvio Laban avalia que um competidor capitalizado, como acontecerá com o Burger King após a abertura de capital, tem condições de acelerar seu plano de expansão. Dados divulgados pela empresa indicam que estão em funcionamento cerca de 600 lojas.

;Certamente esse IPO vai mexer com o mercado, já que a empresa estará melhor preparada para expandir o número de lojas e para desenvolver modelos diferentes de negócio. Isso pode trazer problemas para a concorrência, que tende a enfrentar dificuldades em ter o mesmo fôlego financeiro para acompanhar o ritmo do Burger King;, analisa Laban.

Momento econômico pode influenciar

Há quem acredite que o momento escolhido para o IPO não foi o melhor, já que o mercado financeiro vive uma grande intranquilidade por conta das tentativas mal-sucedidas de aprovar a reforma da Previdência. Mas Laban defende o contrário. Para o professor, este pode ser justamente um bom momento para se posicionar antes da retomada da economia.

Já Adriano Gomes, professor de administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), esta pode não ser a melhor janela de oportunidade para buscar recursos no mercado de ações. ;Com a procrastinação da reforma da Previdência, o mau humor se generalizou. O mercado trabalha muito por expectativa, quando ele sobe, e cai na realidade, costumamos dizer;, afirma. Por essa razão, Gomes pondera que o valor das ações no dia do IPO pode ficar aquém do esperado e causar frustração entre investidores e os controladores do grupo.

Por outro lado, lembra o professor da ESPM, o tamanho do Burger King no mundo pode ser um dos motivadores para que os investidores se sintam estimulados a comprar os papéis por um bom preço. ;É uma empresa gigante, com reconhecimento internacional, que pode, com esse IPO num momento tão delicado da economia, dar um exemplo para as empresas e investidores brasileiros de que é preciso acreditar na recuperação;, avalia.

Presença de Lemann no negócio é fator atrativo

Um dos fatores que devem influenciar positivamente na abertura de capital do Burger King no Brasil são os nomes que estão por trás da marca mundialmente: a 3 Capital, controlada pelos brasileiros Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira, Marcel Telles, Alex Behring e Roberto Thompson Motta, e pela Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett.

O nome de Lemann atrelado ao do Burger King ; considerado por muitos como um ídolo do mundo dos negócios ; dará mais credibilidade à oferta de ações, acreditam os especialistas. Isso, de certa forma, pode minimizar os efeitos negativos que alguns fatos políticos recentes, como a protelação da votação da reforma da Previdência para 2018, têm causado no mercado financeiro. ;Certamente o nome de Lemann dá mais credibilidade. Ele tem uma grife, tem história para contar, tem seus méritos;, explica Adriano Gomes, da ESPM. Para os investidores, explica, funciona como uma garantia adicional ao negócio que está sendo oferecido, ainda que seja algo subjetivo.

O Burger King, segunda maior rede de fast food dos Estados Unidos, foi vendido para a 3G Capital em 2010 por cerca de US$ 3,26 bilhões, incluindo a dívida da companhia. Na época, a empresa vinha perdendo espaço para concorrentes como McDonald;s e Subway por conta do aumento do desemprego naquele mercado. Tempos depois, a 3G Capital arrematou a Heinz, tentou ficar com o controle da Unilever e, no início deste ano, adquiriu outra rede de fast food dos EUA, a Popeyes.

A tentativa de expansão da rede vai além da abertura de novas lojas e novos investidores. O Burger King inovou mais uma sobremesa e adicionou ao cardápio de sobremesas o sorvete com pedaços de bacon. A novidade que começou a valer na quinta-feira (14/12), oferece além do bacon, o sorvete de baunilha e calda de chocolate. A oferta vale por tempo limitado e o preço sugerido é de R$ 6,50. Essa será a segunda vez que o fast foods arrisca a combinação doce e sal. Em dezembro de 2016, o cardápio contou com as Chocofritas: batata com Ovomaltine.

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