Economia

Ano que vem será de avanço garantido, prevê Thaís Marzola Zara

Para economista, mesmo com adiamento da Previdência, o próximo ano terá crescimento maior e volatilidade limitada

Paulo Silva Pinto - Enviado Especial
postado em 16/12/2017 08:00
São Paulo ; Anos eleitorais tendem a ser períodos de maior volatilidade dos mercados. Mas Thaís Marzola Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, não vê grandes chances de isso trazer inflação e juros maiores do que se espera. Ainda que o dólar suba por alguma declaração irresponsável na disputa pelas urnas, não tende a ficar nas alturas por muito tempo, Thaís prevê o que limitará a contaminação da economia. E, mesmo que não se aprovem mudanças na Previdência em fevereiro, o estresse tende a ser limitado no tempo, ela estima, porque a reforma será inevitável em 2019. Por outro lado, a economista não conta com crescimento muito forte. Sua expectativa é de 2,5% de alta do Produto Interno Bruto (PIB), menos do que a média do mercado. O problema, diz, é que os investimentos tendem a ser fracos, e a economia ainda dependerá do consumo das famílias. Thaís participará na próxima terça-feira do seminário Correio Debate ; Desafios para 2018 (leia texto abaixo). Na entrevista a seguir, ela apresenta suas análises da conjuntura.



O Banco Central (BC) terá, provavelmente, que se justificar por ter descumprido a meta de inflação deste ano, pois o índice ficará abaixo do piso. Isso é ruim?

É. Já tivemos anos que descumprimos a meta para cima. Esta será a primeira vez para baixo. Houve várias surpresas benignas do lado da alimentação e uma desinflação muito rápida e muito forte em serviços. Talvez o BC pudesse ter sido um pouco mais agressivo no início do ciclo da queda de juros. O lado positivo é que tivemos a ancoragem das expectativas. Isso facilita a manutenção da inflação em patamares mais baixos e dentro do intervalo de meta nos anos seguintes.

Se tivesse sido diferente, teríamos outro resultado em termos de crescimento e de emprego hoje?

Talvez tivéssemos um crescimento um pouco maior, mas não muito diferente do que temos hoje, e talvez a inflação estivesse superior também. A política monetária tem muita defasagem, por isso eu foco no último trimestre do ano passado, que foi quando o BC começou o processo de queda de juros. Poderia ter sido, talvez, um pouco mais agressivo. Naquele momento, porém, as informações eram limitadas.

A Selic vai até quanto?

A gente imagina que vá até 6,75%. Independentemente da reforma da Previdência, há espaço para, pelo menos, mais um corte em fevereiro, dado o comportamento benigno da inflação. A gente vai entrar o próximo ano com a inflação bastante abaixo da sazonalidade, com expectativas bem comportadas e sinalizando inflação para abaixo do centro da meta para 2018.

Vai ter que voltar a subir já no próximo ano ou não?

No nosso cenário, não. Depende muito do que se pensa sobre eleições, sobre o comportamento dos principais candidatos. E também o que você imagina para o cenário externo. Não esperamos nenhum grande susto. Os juros estão subindo de maneira comportada, sem grande impacto para riscos emergentes. Sem grande salto no câmbio, não tem por que imaginar uma pressão inflacionária muito grande. No ano que vem, ainda vamos contar com uma inércia benigna vinda de 2017. Quer dizer que uma inflação muito baixa tende a se reproduzir em 2018. E, ao mesmo tempo, ainda temos uma capacidade ociosa muito grande, tanto no mercado de trabalho, como na própria indústria, então a gente ainda percebe esse espaço para crescer sem impacto inflacionário.


Anos eleitorais trazem volatilidade.Será alta em 2018?

A volatilidade deve crescer no próximo ano. Tende a ser maior se não tivermos a aprovação da Previdência.

Vai ser algo forte a ponto de influenciar câmbio e juros?

O câmbio pode até oscilar, mas a taxa de repasse para preços depende também da percepção de que se atingiu um novo ponto de equilíbrio. Mesmo que, em momentos de grandes estresses, o dólar avance bastante, e fique lá por um bom tempo, se não for percebido como uma taxa de equilíbrio, o repasse tende a ser contido.

Quanto estão esperando de crescimento para 2018 e 2019?

2,5% em 2018 e 3,5% em 2019.

A expectativa para o próximo ano é mais contida do que a média do mercado. Por quê?

A gente ainda está em um processo de desalavancagem. O retorno está sendo ainda bastante gradual. As taxas interanuais começam a ser mais expressivas, mas, na margem, se vê que há um ritmo comedido de recuperação. Isso tende a continuar, porque o próximo ano terá crescimento dependente do consumo das famílias. Estará em terreno positivo, mas ainda incapaz de ser um grande incentivador de crescimento. A capacidade ociosa ainda é muito grande e as empresas ainda têm muita dificuldade de obter crédito. Isso está começando a melhorar a situação agora, mas ainda não se vê um ímpeto inversionista tão forte. O consumo do governo, em ambiente de ajuste fiscal, dificilmente vai puxar o crescimento. Ainda vamos depender muito do consumo das famílias.

Sem a reforma da Previdência, a senhora acha que a situação se agrava muito do ponto de vista fiscal?

A reforma é mais importante a médio prazo. Os efeitos fiscais da reforma da Previdência, quando você pensa em um horizonte de três a cinco anos, são relativamente pequenos por conta da regra de transição. A curto prazo, outras medidas serão necessárias para se adequar ao teto de gastos. Possivelmente, haverá algum tipo de restrição no abono salarial, algum tipo de nova regra para reajuste de salário mínimo. A atual regra expira em 2019.

Não seria algo muito impopular mexer na correção do salário mínimo?

Qualquer presidente que assuma vai ter que lidar com uma realidade fiscal ainda em recomposição.

Que outras medidas podem ser necessárias para essa adequação fiscal?

Pode haver algo em termos de reoneração da folha salarial, que já foi iniciada.

Tende a ser eleito um presidente com viés reformista?

Acreditamos que sim. Mesmo que na campanha não seja adotado esse tom, vai ser necessário ter um viés reformista para governar. Pode ser um pouco mais ou um pouco menos. Caso não se faça nada, haverá uma piora rápida em muitos mercados. As taxas de juros vão para a estratosfera e o país perderá mais ainda.

Há chance de o Brasil entrar em um ciclo virtuoso, de uma forte expansão do PIB, de uma mudança estrutural de todos os parâmetros de juros, de crescimento de emprego?

A gente já vê alguns passos nessa direção com a reforma trabalhista, a melhora da transparência nas relações de trabalho e a TLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que tende a reduzir a distância das taxas de juros que as empresas têm para a captação dos recursos bancários no mercado livre ou no mercado direcionado.

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