Economia

Fazenda mostra importância de usar tecnologia para aumentar produção

Fazenda em Buritis (MG) mostra a importância de usar a inovação para aumentar a produtividade, porém, com o controle dos gastos com os equipamentos

Antonio Temóteo
postado em 03/03/2018 08:00
Bruno Baron opera o drone usado para monitorar a lavoura: imagens auxiliam no controle de pragas e na correção do solo

Buritis (MG) ;
O produtor rural Gabriel Caires, 36 anos, trocou, há quatro anos, o terno e a gravata que usava diariamente como bancário para gerenciar uma fazenda de 1,5 mil hectares em Buritis (MG). A disciplina e a organização que ganhou no mercado financeiro o ajudaram a controlar os investimentos e as despesas da produção de soja, atualmente em 400 hectares. A primeira safra, colhida em 2016, rendeu 49 sacos de soja por hectare. No ano seguinte, a produtividade chegou a 55 sacos e, para a safra que ainda será colhida, são estimados entre 60 e 65.

Caires explica que parte dos ganhos de produtividade está ligada aos investimentos em tecnologia. Além de fazer a correção de solo, contratou uma empresa especializada para mapear os níveis da propriedade para evitar enxurradas que poderiam comprometer toda a produção durante o período de chuvas. O mapeamento é realizado por meio de um veículo aéreo não tripulado (Vant), capaz de coletar imagens de diversos ângulos.

Apesar de todos os investimentos em tecnologia, Caires destaca que todas as despesas precisam ser analisadas com cuidado para não pressionar os custos de produção. ;Muitos colegas reclamam que o nível de produtividade aumentou significativamente, mas têm prejuízo diante dos custos. Controlo tudo para não enfrentar esse tipo de problema;, ressalta.

[VIDEO1]

Pressão


O processo de industrialização do campo, com o uso intensivo de máquinas agrícolas, defensivos e fertilizantes, transformou a agricultura nos últimos 20 anos, explica o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Antônio da Luz. Ele observa que todo esse processo trouxe um crescimento significativo da produção, mas também pressionou as despesas dos agricultores e pecuaristas.

Despesa com a manutenção de máquinas, como colheitadeiras, pode representar até 10% do valor do equipamento

;Manter uma colheitadeira ou uma máquina de plantio custa 10% do valor do equipamento por ano. Além disso, temos despesas significativas com fertilizantes, energia elétrica e demais insumos de produção;, explica.

Luz ressalta que o principal desafio do agronegócio é tornar economicamente viável para os produtores rurais a tecnologia existente. ;O desafio é fazer com que todos tenham acesso à tecnologia. Mas não adianta garantir uma produção de 200 sacos por hectare e ter um custo de 210. Além disso, como o Brasil é um país de proporções continentais, é essencial entender que cada região tem uma demanda, e nem sempre o que é usado no Centro-Oeste dá certo no Sul, por exemplo;, afirma.

Consultor em tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré explica que muitos produtores rurais ainda não têm acesso a equipamentos modernos, e muitos, por falta de conhecimento, deixam de reduzir custos e aumentar a produtividade. ;Temos um problema básico, que é a assistência técnica precária. Esse sistema é frágil no Brasil. Muitos agricultores e pecuaristas ainda não têm capacidade de administrar a própria produção, desconhecem os processos de gestão, e isso reduz o nível de renda de muitos deles;, comenta.

Drones


De olho no crescimento dos custos, o produtor rural Válter Baron decidiu investir na produção de energia solar para diminuir as despesas com eletricidade. A empresa contratada por ele traçou o perfil de consumo da propriedade e as atividades desenvolvidas. O levantamento apontou consumo médio acumulado de 1.627 kWh por mês e um gasto anual de R$ 7.680, em média, com energia elétrica.

O telhado do galpão foi escolhido para a implantação do sistema. No local, foram instaladas 36 placas solares em uma superfície de 72m;, com capacidade média de geração de 1.550 kWh por mês. As placas foram posicionadas de forma a ficarem o maior tempo possível expostas ao sol, ao longo de todo o ano. Somente entre 1; e 31 de janeiro de 2018, Baron economizou R$ 616,14 na conta de energia elétrica.

Painéis solares permitem reduzir a conta de energia

;Tudo o que é novo a gente estranha um pouco, mas essas novas tecnologias estão aqui para nos ajudar. O sistema foi calculado para atender as minhas necessidades de demanda de energia na fazenda e já está me ajudando a diminuir os custos de produção;, explica.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Hewerton Martins, destaca que o agronegócio possui grande potencial para a geração de eletricidade e diversos projetos estão em execução em diversas regiões do país. Ele ressalta, entretanto, que a falta de linhas de financiamento específicas e de informação para alguns produtores têm sido as principais dificuldades para que mais propriedades recebam investimentos. ;Vemos muito potencial no setor. A irrigação demanda energia, como o processo de secagem de grãos;, comenta. Projetos similares já estão em funcionamento em Cristalina (GO), Videiras (SC) e em cidades de Mato Grosso. Além de gerar a própria energia, Válter Baron tem investido em outras tecnologias para reduzir custos de produção. O filho, Bruno, o convenceu a comprar um drone para fazer o monitoramento da lavoura. O jovem explica que o equipamento é usado para fazer imagens aéreas e realizar o controle de pragas, além de identificar os locais que necessitam de correção de solo ou de algum tratamento específico. ;Quando fazemos esse processo na lavoura, nem sempre identificamos os problemas. As imagens nos ajudam e reduzir os custos, já que fazemos aplicações específicas;, destaca.

(Colaborou Marlene Gomes, especial para o Correio)



  • Recursos

    Bruno Baron ressalta que o investimento em tecnologia é essencial para reduzir custos de produção e tornar a atividade agrícola rentável. De acordo com ele, o pai, Válter, é um dos principais incentivadores do uso de recursos modernos no campo. Bruno observa, contudo, que muitos produtores deixam de aumentar os níveis de produtividade ou de ter crescimento de renda porque não buscam a inovação. ;Muitos não percebem que é preciso usar dos recursos proporcionados pela tecnologia para serem mais produtivos;, comenta.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação