2017

Primeiro, planeje. Depois, mude!

Em qualquer fase da vida, é possível rever a trajetória profissional. Quem criou um projeto consistente para a própria carreira pode se beneficiar muito, sobretudo no momento da aposentadoria

postado em 07/11/2017 12:59
Em qualquer fase da vida, é possível rever a trajetória profissional. Quem criou um projeto consistente para a própria carreira pode se beneficiar muito, sobretudo no momento da aposentadoria
O brasileiro não foi educado para pensar estrategicamente. Não se acostumou a reservar um dinheiro para o imponderável nem para repensar a vida após a aposentadoria. A longevidade e as mudanças na regra da Previdência exigirão mais dinheiro para se manter. E mesmo os que conquistaram uma boa renda frequentemente desejam continuar ativos no mercado de trabalho ou fazer algo novo, como empreender, por exemplo.

Para que a mudança na carreira, antes ou após a aposentadoria, seja bem-sucedida e menos traumática, é preciso planejamento. A consultora, coach e empreendedora Cássia Corsatto já fez essa transição da forma de vida e hoje ajuda outras pessoas a fazerem também. Ela desenvolveu um projeto chamado DreamLAB (Laboratório dos Sonhos), baseado numa metodologia que ajuda pessoas de 50 anos ou mais a ;desencaixotar seus sonhos; e verificar a viabilidade de transformá-los em projetos de vida.

;O trabalho levou em conta a necessidade de pessoas que estão em fase de aposentadoria ou já se aposentaram, mas pretendem continuar ativas. O propósito é estimular reflexões sobre os sonhos latentes desses indivíduos versus a sua capacidade, potencialidade e vontade de percorrer o caminho para a sua realização, transformando-os em projetos;, explica.

Segundo Cássia, encerrar um ciclo pode ser um momento de reflexão, de busca de recursos internos e externos para desenhar as próximas etapas da vida. ;Alguns optam por iniciar carreira solo, outros por investir naquilo que era um hobby. Não há receita pronta.;
"Hoje, há uma paz, uma suavidade em mim, que não troco por nada. Sinto que estou exatamente onde deveria estar, fazendo exatamente o que gosto de fazer. Sou dona do meu tempo, da minha agenda, da minha vida"
Cássia Corsatto, consultora, coach e empreendedora
Novo ciclo
Cássia trabalhou em empresas de vários portes. Na última delas, passou 21 anos. Saiu por livre e espontânea vontade num plano de demissão incentivada, com aposentadoria já garantida, para alçar voo como empresária. Quando rompeu com o passado, já tinha um novo presente desenhado: a empresa Cássia Corsatto InovAÇÃO e Sustentabilidade, que atua com inovação, conhecimento, inteligência competitiva, estratégia para modelagem de negócio. Também é pesquisadora e professora.

Encerrar um ciclo de vida causa medo e questionamentos, mas é preciso entender que se retirar de alguma atividade em um dado momento da vida é algo que vai acontecer com qualquer cidadão que hoje está no mercado de trabalho. ;Essa situação causa desconforto, principalmente porque, por um lado, a sociedade nos olha como ;aposentados; (traduza-se incapazes) e nós nos vemos como seres ;ageless; (sem idade) aptos a continuarmos ativos. O que fazer? Costumo dizer que esses são bons momentos para fazer novas escolhas;, avalia Cássia.

No caso de Cássia, na hora em que o coração indicou o desejo de mudança, ela começou a se preparar psicologicamente (com terapia), financeiramente e estruturalmente. Essa fase durou sete anos. Fez mestrado, outras capacitações não necessariamente voltadas para o emprego. Passou a economizar parte do salário. ;Quando senti que estava pronta, o universo conspirou e deu tudo certo! Empresa montada, planos desenvolvidos etc. Penso que cabe ficar bastante atento aos sinais, da empresa ou aos próprios, e aconselho ter, no mínimo, um currículo atualizado e um plano B formatado.;

Este ano, Cássia fez um período sabático para concluir o doutorado e trabalhou em vários projetos, inclusive alguns voltados ao voluntariado e à economia colaborativa. ;Não me arrependo da minha escolha, pois o lado de cá da zona de conforto é um lugar mágico, de crescimentos e aprendizados diferentes.;

O conceito de emprego mudou
Lorena Barbosa de Oliveira, 34 anos, formada em administração voltada para o comércio exterior, mudou-se para Londres, onde morou por cinco anos, trabalhando em diversas ocupações. De olho nas opções de trabalho on-line, montou, com o marido, da área de tecnologia da informação, uma empresa de cursos pela internet. Voltou para o Brasil, retornou a Londres, migrou para Orlando. Já com dois filhos, o casal percebeu que o negócio deles estava saturado. O marido fez um curso de operador da Bolsa de Valores. Professor, decidiu ensinar a outras pessoas. Lorena quis aprender.

De volta ao Brasil, ela trabalha como operadora. Compra e vende ações na Bolsa de Nova York, que considera mais atrativa e com menos interferências políticas. Trabalha uma hora por dia, de segunda a sexta, e definiu como meta o ganho de 100 dólares diários. Tem dado certo. Usa o resto do tempo para cuidar dos filhos e estudar seu novo ofício. Por enquanto, investe o próprio dinheiro. Mas, em breve, pretende trabalhar em conjunto com uma corretora.

Em nenhum momento, Lorena se arrepende das escolhas e reviravoltas profissionais. Assim como ela, há muitas pessoas testando novos ambientes de trabalho, sem apego à sua área de formação ou ao tipo de emprego que sempre tiveram. A possibilidade de exercitar várias habilidades e não se rotular são vantagens deste tempo.
Administradora, Lorena Barbosa de Oliveira investiu no empreendedorismo, mas hoje é operadora da bolsa de valores

;O conceito de emprego está mudando, pois, no passado, era comum o ;emprego para toda a vida;. Hoje, é mais adequado pensar em atividade profissional, remunerada ou não, que pode ser um emprego, uma prática empreendedora, um trabalho voluntário, uma docência, etc.;, diz o professor Carlos Legal, do MBA Executivo em Economia e Gestão de Recursos Humanos da FGV.

Como exemplo, ele cita: ;Tenho amigos que são, simultaneamente, executivo, professor e dono de restaurante; outro é professor universitário, professor de surfe e escritor; uma amiga é gerente em uma empresa, doceira e educadora infantil. Eu mesmo sou consultor, professor e dono de academia. A tendência é que tenhamos várias atividades que integrem ganhos com prazer.;

Essa é uma característica que deve ser observada também por alguém que perdeu o emprego e procura recolocação. Larissa Meiglin, psicóloga e supervisora de carreira da Catho, empresa que tem em seu banco 6 milhões de currículos cadastrados, avalia que as pessoas hoje precisam olhar para o mercado de maneira diferente.

Antes de qualquer coisa, enxergar a si próprio. ;Entender quem é, do que gosta, o que lhe motiva e o que a vaga para o qual se candidata vai exigir. Se gostaria daquela rotina ou se precisa de desafios constantes;, explica Larissa. Por essa lógica, não é a empresa ou qualquer outro local de trabalho que deve ser escolhido, é o candidato que deve fazer escolhas compatíveis com seus projetos de vida. É claro que, em tempos de crise, dar um ou dois passos para trás para observar as oportunidades do mercado é essencial.
Em qualquer fase da vida, é possível rever a trajetória profissional. Quem criou um projeto consistente para a própria carreira pode se beneficiar muito, sobretudo no momento da aposentadoria

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