Eleições 2014

Ex-diretor afirma que o PT, PMDB e PP receberam recursos do esquema de corrupção

Na CPI, contadora de doleiro cita políticos

Eduardo Militão, Naira Trindade
postado em 09/10/2014 07:36
Meire disse que o presidente do Senado se reuniu com o doleiro. Renan nega
O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou ontem à Justiça Federal do Paraná que PT, PMDB e PT receberam dinheiro de esquema de desvios na estatal para bancar campanhas eleitorais em 2010. A informação, segundo apurou o Correio, foi confirmada pelo doleiro Alberto Youssef, que também prestou depoimento ontem. Costa disse que um cartel de empresas ganhava licitações na petroleira e repassava 3% do valor líquido do contrato para Youssef, que entregava o dinheiro aos agentes políticos. O juiz da 13; Vara, Sérgio Moro, impediu os réus de nominarem os políticos para não forçar o processo a ser remetido para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Do valor, 1% ia para políticos, 1% para o doleiro e 1% para Costa. O ex-diretor afirmou que a Transpetro participou do esquema. Ele mencionou grandes construtoras como participantes, como Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez.

Na terça-feira, a Polícia Federal intimou mais de 20 empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato para que prestem, espontaneamente, esclarecimentos sobre eventuais reações com empresas que foram usadas para operar desvios na Petrobras e agir em outros esquemas. Sérgio Moro autorizou o uso em novas apurações do laudo sobre o caixa da empresa Sanko Sider, que vendeu tubulações para a Camargo Corrêa, fornecedora da Petrobras. Para os investigadores, a Sanko foi usada para desvios num esquema comandado por Youssef e por Costa.

Segundo os investigadores, a ideia de intimar as empreiteiras é dar oportunidade para que elas falem espontaneamente. Outras empresas que já procuraram a polícia não foram intimadas. No laudo sobre a Sanko, os peritos afirmam haver ;fortes indícios; de que a Camargo Corrêa pagou R$ 38,75 milhões à fornecedora de tubos sem a prestação de serviços correspondente, ao menos no volume contratado.

As informações divulgadas por Youssef e Costa foram confirmadas pela contadora Meire Poza, responsável pela contabilidade de uma das empresas do doleiro. Ontem, ela voltou a colocar nomes de políticos no centro das denúncias da Operação Lava-Jato. Mesmo diante da tentativa de parlamentares da oposição de depreciar a imagem de ;mulher-bomba;, acusando-a de integrar o esquema de corrupção e cobrando a investigação dela na CPI mista da Petrobras, Meire detalhou, nas cinco horas em que prestou depoimento, a relação do doleiro com políticos e empresários.

Fundos de pensão

À CPI, Meire Poza contou ter ouvido do doleiro a confissão de que estivera em Brasília em 12 de março deste ano para ;fechar o acordo; em relação ao fundo de pensão dos Correios, o Postalis, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). ;Ele teria vindo para Brasília na quarta-feira, dia 12, e teria conversado com o senador Renan Calheiros para acertar essa ponta que era o PMDB;, relatou. Segundo Meire, a ;parte do PT já estava resolvida;.

Ela afirmou ainda que, após a conversa com Renan, seriam repassados R$ 25 milhões da operação com a Postalis. ;Teriam mais R$ 25 milhões que seriam aportados pela Funcef (fundo da Caixa Econômica Federal). Mas sobre esse eu não tenho conhecimento de como foi esse acordo;, disse. Segundo a contadora, o deputado André Vargas (sem partido-PT) cuidava das negociações do PT.

Em nota, a assessoria de Calheiros negou que o senador alagoano tenha se encontrado com Youssef, alegando que ;não conhece a pessoa mencionada no noticiário como ;doleiro; Alberto Youssef e que só soube da existência do mesmo após as informações publicadas pelos jornais;. No texto, a assessoria disse que Renan ;nunca esteve, agendou conversas e nunca ouviu falar de Alberto Youssef e de sua contadora;.

Meire Poza também voltou a mencionar o nome do ex-secretário da Casa Civil do governo do Maranhão João Guilherme Abreu como um dos negociadores dos esquemas com fundos de pensão. A contadora afirmou ter se reunido, no Maranhão, com o doleiro e o assessor da governadora Roseana Sarney (PMDB). No encontro, segundo Meire, fora acertado o pagamento de propina de R$ 6 milhões para fechar o acordo com o governo.

Notas frias

Meire disse que parte dos pagamentos da propina foram feitos em parcelas e que, no dia em que foi preso, Youssef estava no Maranhão, com a penúltima parcela de R$ 1,4 milhão. A última parcela, segundo a contadora, não foi paga. A propina teria sido negociada com o governo para que a empresa UTC/Constran furasse a fila dos precatórios e recebesse, antecipadamente, R$ 120 milhões que o governo do Maranhão lhe devia.

A contadora afirmou ainda ter ouvido de Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro das Cidades e deputado federal Mário Negromonte (PP-BA), que uma pessoa do governo do Maranhão reclamou ao receber R$ 300 mil, alegando que o valor era inferior ao acordo e que, por isso, teria que consultar a governadora Roseana Sarney para saber se ela aceitaria apenas essa quantia. A reportagem não conseguiu contato com os citados para comentar as denúncias.

A ex-contadora do doleiro confessou ter emitido R$ 7 milhões em notas frias a clientes nas empresas das quais cuidava da prestação de contas. Ela negou a suspeita sobre a empresa dela, Arbor Contábil, ser uma empresa de fachada. Porém, não informou o faturamento da empresa no último ano, o que levou o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a pedir a investigação dela como ;uma das envolvida no esquema;.

Mensalão

No depoimento, a contadora afirmou ainda ter buscado dinheiro na casa do jornalista Breno Altman, que é ligado ao PT, para pagar a multa de condenação no mensalão de Enivaldo Quadrado, ex-sócio da corretora Bônus Banval. Ela contou ter ido à casa dele três vezes neste ano buscar parcelas de R$ 15 mil. Enivaldo foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ter distribuído dinheiro do mensalão no governo Lula. ;Ele (Breno Altman) dizia que era o PT que estava pagando a multa do mensalão;, declarou.

Ao Correio, Altman confirmou ter recebido Meire na casa dele ;duas vezes;, e ;o motivo desse encontro, solicitado por mim, foi obter assessoria contábil para a exportação de serviços, pois realizo ; como jornalista e consultor ; muitas atividades no exterior;, disse. ;As declarações da senhora Meire Poza sobre eventuais pagamentos da multa de Enivaldo Quadrado no processo do mensalão envolvendo meu nome são fantasiosas. Fico curioso para saber quais razões dessas invenções e a que interesses atende;, escreveu, por e-mail. Altman alegou já ter pedido ao seu advogado para analisar o depoimento da contadora para ;tomar medidas jurídicas cabíveis;.

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