postado em 29/09/2010 08:00
Após quase um ano de silêncio e reclusão, as declarações do ex-governador José Roberto Arruda na reta final da corrida eleitoral repercutiram entre candidatos que disputam o Palácio do Buriti e geraram mais especulação em torno do resultado do próximo domingo. Em entrevista exclusiva concedida ao Correio e publicada na edição de ontem, um dos principais personagens do escândalo de corrupção e pagamento de propina revelado em novembro do ano passado pela Operação Caixa de Pandora (1), da Polícia Federal, fez duras críticas ao ex-aliado Joaquim Roriz (PSC) e disse que a vitória da família dele nas urnas significa afirmar que o crime compensa. ;Meu voto é contra Roriz e tudo aquilo que ele representa;, disparou Arruda, salientando que Agnelo está longe de ser um candidato ideal.Diante das afirmações do ex-governador, que levantou novamente a hipótese de um esquema de contaminação da máquina desde a era Roriz, os principais concorrentes ao Governo do Distrito Federal, exceto a candidata Weslian Roriz (PSC), fizeram comentários e registraram impressões sobre as acusações de Arruda. Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa da candidata não tinha retornado as ligações da reportagem.
O candidato do PT, Agnelo Queiroz, disse que há informações importantes que podem ser extraídas do depoimento ;de quem viveu a experiência dramática e trágica; que a cidade não quer mais passar. ;É uma lição do que aconteceu para não se repetir. Ele identifica muito bem a origem disso tudo;, analisou Agnelo. Ao ser perguntado sobre uma possível aliança com o ex-governador para derrotar Roriz, o petista desconversou. ;Arruda é um simples eleitor que vai votar em quem achar mais conveniente para a cidade;, frisou.
A entrevista concedida por Arruda foi um dos assuntos tratados ontem numa reunião entre os coordenadores da campanha de Toninho do PSol. O candidato deixou clara sua indignação em relação às declarações do ex-governador e menosprezou o conteúdo abordado na entrevista. ;Eu considero o cúmulo da desfaçatez de um cidadão que foi afastado da vida pública, execrado publicamente, foi pego em flagrante em atos de corrupção, de forma que prefiro não dar crédito às declarações dele;, criticou.
Senha
Toninho acredita que há uma ;senha; em meio às palavras do ex-governador que sinaliza um apoio político ao adversário Agnelo Queiroz nas urnas. ;Obviamente ele não me apoia e rechaçaria qualquer conduta nesse sentindo. A senha foi clara. Ele está apoiando Agnelo. Acho isso lamentável;, analisou. Toninho esclareceu que não faz parte do time que é capaz de tudo para ir contra Roriz. ;Tenho asco e nojo pelos acordos espúrios na política. Estarei no segundo turno, com Agnelo ou Weslian. Estou confiante;, afirmou.
O candidato Eduardo Brandão (PV) concorda quando Arruda chama, na entrevista, a eleição deste ano de plebiscitária e disse que a eleição do próximo domingo traz nomes que estão envolvidos nas denúncias da Caixa de Pandora. ;Os dois maiores nomes, Agnelo e Roriz, não representam a ruptura de tudo isso que ele (Arruda) falou. Nos dois grupos há políticos envolvidos na Caixa de Pandora. Espero que haja outro plebiscito, entre eu e Toninho;, declarou.
Apesar de ter participado do governo de Arruda como subsecretário de Meio Ambiente, o concorrente do PV disse não se sentir desconfortável ao comentar a entrevista. ;Eu estive no governo, não era do governo. É muito diferente. Todo mundo hoje acaba repercutindo declarações de um réu confesso, que não tem validade;, disse.
Mesmo fora da disputa eleitoral, o governador Rogério Rosso (PMDB) marcou posição sobre as declarações de Arruda em seu microblog. Respondendo a um internauta, Rosso afirmou: ;O problema dele é psicótico! Eu voto na Weslian e o Arruda no Agnelo!”, postou. Na entrevista, Arruda ataca Rogério Rosso ao dizer que o governador do DF é ;refém de Durval.;
1 - Investigação
Em 27 de novembro de 2009, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão a fim de apurar denúncias de pagamento de propina à base aliada do GDF na Câmara Legislativa e integrantes da alta cúpula do Executivo local. Após a deflagração, foram divulgados diversos vídeos registrando a entrega de maços de dinheiro a políticos do DF. As imagens provocaram a renúncia de dois deputados distritais e do vice-governador, além da cassação de outros dois deputados e do então governador. Arruda e outras cinco pessoas foram presas por tentativa de suborno ao jornalista Edson Sombra.