Glauber Rocha

Confira entrevista com Lúcia Rocha, mãe do diretor

Conhecida como Dona Lúcia, a matriarca da família concedeu entrevista ao Correio

postado em 13/03/2013 06:00

Dona Lúcia com Glauber, em 1939, ano de nascimento do diretor

Como a senhora reage à reabertura do Tempo Glauber?

Eu sou meio suspeita para falar. Mas, acho que deve abrir. Ainda tem um material tão bonito. O arquivo não morre. Estou de acordo sim com a reabertura. Minha vontade era reunir, divulgar e conservar a obra do Glauber. Reuni 103 mil documentos de produção intelectual, lutando, pedindo, trabalhando. Não consegui meu sonho ainda: divulgar todas as coisas de Glauber que não desconhecidas pelo público. Tem muita coisa a ser vista.

Qual o seu filme favorito dele?

Deus e o Diabo na terra do sol.

O que pode nos dizer do Glauber enquanto filho?


Ele era uma pessoa normal. Um bom filho. Apesar de dizerem muito isso e aquilo, era um menino comum, com uma única diferença: enquanto os amigos jogavam bola, ele lia. Só fazia ler e escrever, toda a vida. Aos 7 anos, já era interessado em coisas diferentes. Foi um ótimo pai. Trocava fraldas e dava comida na boca das crianças. Nunca deixou de estar ao lado dos filhos.

E sobre o Henrique? Como a senhora recebeu a notícia?

Ah, eu estou adorando! Achei incrível, porque ele é o que mais parece com o Glauber. É igual. E não foi surpresa, não. Eu morava na Visconde de Pirajá (rua de Ipanema, no Rio de Janeiro) e soube que Glauber tinha tido um filho (que seria o Daniel Rocha), e Glauber chegou e disse: ;Minha mãe, esse menino não é meu filho. Se quiser um filho meu, procure na praça General Osório, o Henrique;. Também não foi surpresa, porque Glauber era muito namorador. Estava sempre com uma namorada (risos). Foi uma notícia maravilhosa. Ele tem sido muito atencioso comigo. Ele mora aí em Brasília e toda semana ele liga, duas, três vezes. Gosto muito dele. Aliás, gosto de todos os meus netos.

E o oposto? Quando a senhora descobriu que o Daniel não era filho dele, também não foi uma surpresa?


Esse eu sempre tive uma desconfiança. Um dia ele (Daniel) brigou comigo e disse: ;Eu não sou seu neto, quero fazer um DNA;. Então, ótimo. Fizemos. Mas, achei estranho a mãe, que sabia que o pai era outro e registrou assim mesmo.

Como superar a perda de três filhos?

Eu tenho uma dificuldade. Mas, não sou uma pessoa depressiva. Quando começo a sentir uma depressão, eu creio em Deus, falo com Ele e resolvo. Sofri muito. Larguei dentro de mim aquela dor. Estou agora comemorando minha trineta, que se chamará Lúcia também. Vivi minha vida toda pela minha família. Glauber, Ana Marcelina, Anecy, Ana Lúcia. Só sobrou a Ana Lúcia. Mas procurei vencer. Quando me perguntam: ;Do que Glauber morreu?;, eu digo: ;De Brasil;. A época da ditadura; Tudo muito injusto. Foram cinco anos no exílio. No caso de Anecy (a atriz morreu ao cair em poço de elevador aos 34 anos), fiquei com raiva de elevador muito tempo. Mas, entendi que o elevador é como a vida: sobe e desce.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação