Pensar Brasilia

Para se desenvolver mais, DF precisa ampliar setor produtivo e de serviços

postado em 02/12/2012 15:24


O Distrito Federal tem enorme potencial para se desenvolver. Possui mão de obra de grande nível educacional (leia mais na página 9), a maior renda per capita do país e uma localização geográfica privilegiada, na área central do Brasil e da maioria dos países da América do Sul. Por outro lado, sua infraestrutura urbana encontra-se congestionada e a economia centraliza-se na área central, responsável por 69% dos postos de trabalho. Além disso, crescem os indicadores econômicos negativos de boa parte dos 22 municípios que formam, com Brasília, a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do DF (Ride-DF).

Presidente da Companhia de Desenvolvimento e Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), o economista Júlio Miragaya é o responsável pela produção dos dados estatísticos que embasam os programas de governo. Ele enfrenta dificuldades. As informações disponíveis sobre o DF são confiáveis, mas não há qualquer dado sobre os municípios do Entorno. ;É gente que trabalha, estuda e usa os serviços de saúde daqui, sobre a qual não temos a menor ideia de quanto ganha e se tem emprego.;

[SAIBAMAIS]A verdade é que a área metropolitana é a maior fonte de preocupação para o Distrito Federal. Estima-se que 800 mil pessoas saem diariamente das cidades vizinhas de Goiás rumo a Brasília, boa parte em busca de emprego. Esse movimento afeta a mobilidade urbana da capital da República e dificulta o fluxo de mercadorias interestadual.

Além disso, os índices de violência na periferia explodem. ;Há dez anos;, afirma Miragaya, ;a grande preocupação das autoridades federais em termos de segurança pública era a Baixada Fluminense. Hoje, o foco de atenção voltou-se para o Entorno, que está sob a guarda da Força Nacional de Segurança.; Segundo o presidente da Codeplan, ;o problema do narcotráfico impõe desafios sobre Brasília e o aumento de sequestros relâmpagos é uma das consequências disso.;

O desemprego afeta 12,9% da população da capital brasileira. De uma maneira geral, há um padrão. O Plano Piloto, o Park Way, o Sudoeste, a Octogonal e os lagos Norte e Sul apresentam altíssimo nível de renda (veja quadro ao lado). Essa relação é inversamente proporcional à distância da moradia em relação à área central. ;Há uma força centrípeta que expulsa os mais pobres para a periferia;, diz o economista. ;Além disso, quanto mais longe das áreas nobres, maior é o índice de desemprego. Estima-se que, em algumas cidades do Entorno, chegue a 30%.;

Dependência
Segundo o presidente da Codeplan, a matriz produtiva de Brasília é extremamente dependente do setor público. Quase metade do PIB de Brasília, equivalente a R$ 140 bilhões, é oriundo de recursos vindos direta ou indiretamente dos governos federal e distrital. ;Há uma excessiva dependência e isso é danoso a longo prazo. Precisamos diversificar nossa economia.;

Para isso, a Codeplan trabalha com uma hipótese polêmica na preparação do Segundo Programa Especial da Região Geoeconômica de Brasília (Pergeb II): a ampliação do número de indústrias Segundo Júlio Miragaya, o setor de transformação é o que apresenta maior potencial de crescimento. Atualmente, o setor industrial gera 195.533 empregos, de acordo com estatísticas da Secretaria de Desenvolvimento Econômico. A maior parte desse total gerada, cerca de 80%, oferecida por pequenas e microempresas. A participação no PIB de Brasília é pequena: 6,58%.

Ele reconhece que há dificuldades a superar. ;Temos problemas energéticos, o que produzimos mal supre a demanda residencial atual;, ressalta. ;Uma das empresas que se instalou no Polo JK teve de instalar grupos geradores e produzir sua própria eletricidade para garantir um suprimento confiável.;

Além disso, segundo Miragaya, há um gargalo logístico: ;Possuímos apenas uma saída ferroviária para o Porto de Santos e seria necessário integrar-nos à Rede Norte-Sul, que interliga Anápolis ao Porto de Itaqui, no Maranhão. São obstáculos perfeitamente ultrapassáveis.;

O Pergeb II também defenderá a criação de uma zona de desenvolvimento industrial em 10 dos 22 municípios da Região Integrada de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal e Entorno (Ride-DF). ;Precisamos gerar um cinturão de riqueza em torno de Brasília, capaz de gerar empregos para diminuir a pressão sobre o DF;, afirma Miragaya.

Audácia
O presidente da Codeplan defende uma ação agressiva e conjunta do governo do Distrito Federal e da opinião pública. Segundo ele, essa foi a receita para que um novo gasoduto chegasse a Uberlândia. ;Necessitamos com urgência de fontes de energia. Lá, a população e os governos municipal e de Minas Gerais se uniram para que a cidade fizesse parte da rota;, lembrou. ;No futuro, deverá chegar até aqui, oferecendo uma fonte limpa e confiável de energia, mas não temos previsão de quando isso ocorrerá.;

Para o economista, receitas usadas no passado mostraram-se infrutíferas. ;Não devemos distribuir terrenos;, acentua. ;A maioria das vezes que isso ocorreu, a destinação foi alterada e deixou de cumprir o objetivo inicial, como no Polo de Moda do Guará e nos setores de oficinas. Além disso, não há mais, legalmente, como oferecer incentivos fiscais.;

A resposta estaria em mão de obra qualificada e segurança jurídica. ;Foi a receita usada por Goiás para atrair a Hyundai;, disse Miragaya. ;Só para dar uma ideia do tamanho do investimento, a área da fábrica é duas vezes maior que a do Polo JK.; Ele reconhece o desempenho do agronegócio na matriz produtiva do DF, mas afirma que ela perde escala diante do gigantismo do setor público.

;O secretário de Agricultura, Lúcio Valadão, reclamou que com uma produção equivalente a US$ 1 bilhão sua participação no PIB do DF era extremamente baixa;, conta o presidente da Codeplan. ;Reconheci que é um senhor desempenho, superior a Rio Verde (GO). Temos o 10; maior polo do país. E precisamos nos orgulhar disso, mas ele fica pequeno quando confrontado com o volume de investimento da União aqui. Brincando, disse que precisava reclamar com o governo federal.;

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação